Com o advento da tecnologia estamos vivendo um momento disruptivo na indústria automobilística. Carros elétricos e suas baterias, Adas (assistência avançada ao motorista), carros autônomos, conectividade, motores ICE (de combustão interna) mais eficientes, hidrogênio,… é muita coisa!
Se existem marcas e regiões performando como nunca antes vistos, conforme retratado em algumas das últimas colunas, temos o outro lado da moeda que não podemos deixar de mostrar. Não que todas as marcas citadas estejam com problemas, mas certamente estão passando por uma readequação em seus processos.
É fato que a indústria chinesa revolucionou o mercado automobilístico em especial com respeito à eletrificação e tecnologia e provocou uma mudança no equilíbrio das forças produtivas pré-estabelecidas.
Com preços competitivos e produtos com tecnologia avançada ao consumidor comum, os veículos chineses estão ganhando mercado. Muitas críticas à prática de dumping que incluíram estudos da União Europeia terminaram por incidência de alíquotas muito menores do que as inicialmente imaginadas. Além disto, sempre recordo, qual país não cresceu sem apoio do Estado?
Neste contexto, se você não gosta de veículos de origem chinesa, respeita-se, mas o problema não deve ir além do seu gosto pessoal.
Abaixo o gráfico extraído do InvestNews de 10 de abril de 2025 com dados do fechamento de 2024 (alguns países com dados estimados). O que mais chama a atenção é o impressionante crescimento da exportação dos veículos chineses pelo mundo nos últimos anos.
Este é o ponto!
Como costumo dizer, o mercado é único e possui “apenas” 100%, ou seja, a pizza é uma só! Brinco que se todos atingirem a participação de mercado que afirmam que atingirão, o mercado teria 160% ou 170%…
Com isto em mente, se alguns crescem, outros perdem em participação de mercado. E é isto que estamos observando em nível mundial. Algumas indústrias passando por um momento de readequação com redução da produção, fechamento de fábricas e eliminação de postos de trabalho.
Neste contexto…
Com um prejuízo líquido anunciado de 5 bilhões de dólares em 2024, a japonesa Nissan planeja, em nível global, fechar duas fábricas (já fechou a de Córdoba, Argentina), ter cerca de 20.000 empregos eliminados, unificar seus produtos possibilitando uma redução de 70% na complexidade das peças, além dos planos de vender sua sede que está avaliada, segundo informações locais, por 700 milhões de dólares. Além de fazer caixa, está controlando de forma contundente seus custos e tentando sobreviver após a fusão com a Honda não ter dado certo. Além disto, já anunciou oficialmente que a construção de sua fábrica de baterias foi cancelada.
Já a sueca Volvo, hoje pertencente a chinesa Geely, anunciou planos de cortar aproximadamente 3.000 empregos como parte de uma iniciativa de melhoria na geração de fluxo de caixa e redução estrutural de custos. Tais cortes ocorreriam principalmente nos escritórios suecos e representariam aproximadamente 15% da força de trabalho administrativa total. Em abril a empresa já havia anunciado uma redução nos investimentos de longo prazo.
As questões do presidente americano Donald Trump também não podem ser desconsideradas. Ele está causando uma verdadeira alteração na produção, logística e cadeia de fornecimento globais afetando a indústria num momento bem inoportuno. De forma resumida, para quem não acompanhou, Trump tenta concentrar novamente a indústria dentro de suas fronteiras aumentando alíquotas de importação de certos produtos incluindo ferro, aço, alumínio e veículos prontos. O efeito será a transferência de algumas fábricas, principalmente do México e Canadá, para aquele país ocasionando o fechamento ou a diminuição da produção em outros.
A General Motors, sediada em Detroit, já demitiu cerca de 2.000 funcionários no mercado americano. Além dos empregos a empresa pretende cortar US$ 2 bilhões em custos enquanto ajusta sua estratégia para veículos elétricos e administra a desaceleração das vendas nos EUA e na China.
A Ford tem planos de cortar 4.000 empregos na Europa em meio à desaceleração do mercado de veículos elétricos. Os países mais afetados serão Alemanha e Inglaterra conforme anúncio no final de 2024. A empresa também havia comunicado a redução da produção na fábrica de Colônia. Já nos Estados Unidos, a empresa suspendeu a produção por tempo limitado da elétrica F-150 Lightning.
Também na Alemanha, a Volkswagen planeja cortes de empregos e o fechamento de fábricas. A base para as demissões é a alta concorrência chinesa. O anúncio datado de 2024 informava sobre o fechamento de três fábricas, cortes nos salários em torno de 10% bem como congelamento dos mesmos por dois anos, algo permitido naquele mercado.
A Stellantis demitiu 400 funcionários administrativos e planeja demissão de outros 4.000 nos EUA. A empresa enfrenta a oposição do sindicato que por lá possui uma atuação diferenciada do que estamos acostumados por aqui. De forma adicional, a empresa paralisou provisoriamente as atividades em suas fábricas no Canadá e México.
Até a Tesla reduziu sua força de trabalho global em mais de 10% em função de queda nas vendas no primeiro trimestre de 2025 decorrente de um mercado de veículos elétricos mais competitivo.
A fabricante de luxo inglesa Aston Martin cortará 170 empregos (5% de sua força de trabalho) para economizar £ 25 milhões.
Já a Porsche cortará 3.900 empregos nos próximos anos assim que os contratos de trabalho por prazo determinado forem terminando. Além destes postos de trabalho, a empresa disse que efetuará outras 1.900 demissões até 2029.
E, por fim, Audi e JLR (Jaguar Land Rover) suspenderam temporariamente a exportação de seus carros para o mercado americano ocasionando perdas para os empregados europeus…
Se tá ruim, tende a piorar! Mas como sou otimista nato, acredito que o Brasil sairá fortalecido destas discussões com maior capacidade produtiva e de exportação fortalecendo ainda mais a nossa indústria local. Resta melhorar nossas vendas internas (o que depende de fatores macroeconômicos) e propiciar acordos comerciais com nossos vizinhos para conseguirmos escoar nossa produção…
Sem dúvida, muita lição de casa a ser feita!
MKN
A coluna “Visão estratégica” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.