QUE ÁREAS ESTA MEDIDA IMPACTA?
DO PONTO DE VISTA TÉCNICO
O renomado Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) elaborou no final do ano passado um estudo técnico, a pedido do Governo Federal, para avaliação dos impactos da elevação do teor de álcool anidro na gasolina de 27% (E27) para 30% (E30).
O relatório final, divulgado pelo Ministério de Minas e Energia no início de abril, denominado “Avaliação da utilização do percentual de 30% do álcool anidro na gasolina em veículos leves e em motocicletas” teve como resultado final que a mudança NÃO causa impactos negativos relevantes em desempenho, dirigibilidade, consumo ou emissões.
Em apresentação dos resultados no XI Simpósio de Eficiência Energética, Emissões e Combustíveis, da Associação dos Engenheiros Automotivos (AEA), Renato Romio, do próprio IMT que palestrou dentro do tema “Ensaios com a Gasolina E30” disse claramente que dentro dos veículos testados não ocorreu alterações significantes.
Maiores detalhes podem se observados em um relatório neste link.
O uso do E30 no Brasil está previsto para entrar em vigor logo mais, em Agosto próximo, e tem como fulcro a descarbonização pois o álcool é claramente menor emissor deste elemento do que a gasolina de origem fóssil. Visa, entre outros, reforçar a imagem do Brasil como um país líder global em bioenergia sustentável e modelo de exportação neste tipo de tecnologia.
APOIO AO AGRONEGÓCIO
O E30 exige uma produção maior de álcool anidro. Este acréscimo na produção está sendo ofertado pelo milho. Não, eu não escrevi errado.
Esta é uma informação pouco difundida para o público médio e diz respeito a geração do milho para a produção de álcool com alta tecnologia e a custos bem competitivos. Esta nova geração de álcool por intermédio da utilização do milho produz um produto análogo ao da cana-de-açúcar e mostrou um crescimento de 32,4% na safra 2024/25 segundo dados do Governo Federal com perspectiva de aumento nos próximos anos.
Neste contexto claramente a medida atende aos interesses de um setor muito forte no Brasil, o agropecuário.
EFEITOS ECONÔMICOS
Ainda que em pequena dose, uma maior quantidade de uso de álcool anidro na gasolina diminui a necessidade de importação deste combustível melhorando a nossa balança comercial e reduzindo a exposição a uma flutuação cambial.
A gasolina pura produzida no Brasil é precificada em dólar e identificada como “gasolina tipo A”. Ela será acrescida do álcool anidro em 30% e esta mistura será vendida nos postos e denominada por “gasolina C”.
Apenas para efeitos didáticos, o poder calorífico da gasolina tipo A é considerado, segundo a ANP, 10.400 kcal/kg e o do álcool anidro 6.750 kcal/kg; ao efetuarmos algumas contas matemáticas em relação ao poder calorífico dos combustíveis, o acréscimo dos 3% trará um impacto de apenas 1,16% de diferença na composição final impactando diretamente o consumo de combustível. Veja neste link.
Importante considerar que nossa indústria tende a se especializar nos próximos anos e, neste contexto, tende a se tornar um polo regional de produção propício a exportação e, assim, não podemos deixar de considerar que outros países que recebem nossos veículos ainda terão motores que são capazes de fornecer gasolina com 10 ou 15% de álcool anidro apenas.
Outro fator a ser considerado consiste no fato de o álcool ser mais barato que a gasolina e este incremento de 3% muito provavelmente não chegará ou sequer será sentido pelo consumidor final.
Coisas de Brasil.
MKN
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