Semana passada escrevi aqui sobre a questão das leis que pegam e das que não pegam. Mas tem também aquelas que “nem-nem”. Ou seja, aquelas que nem pegam nem deixam de pegar. Simplesmente andam por aí, nos códigos de trânsito, nas legislações municipais, federais, e por aí vai. Tipo zumbi ou daquele seriado “The Walking Dead”. Nem totalmente mortos nem totalmente vivos. De tempos em tempos às vezes alguém resolve multar e exigir o cumprimento, mas depois voltam para aquele limbo.
Para mim a questão das luzes dos carros entra nessa categoria. Existem leis, normas, regras para isso? Claro que sim. E muitas — como sói acontecer aqui no Brasil. Mas, cadê o cumprimento delas? Bom, veja bem…
Um tempo atrás, em 2011, as autoridades de trânsito chegaram a criar a resolução 384 do Contran, que atualizou a lei proibindo o xenônio nos veículos e limitando seu uso aos que já tinham esse modelo de fábrica ou regularizados anteriormente a esta resolução. Por “anteriormente” entenda-se a resolução 292 de 29 de agosto de 2008, que dizia que era permitido a regularização do xenônio mediante certificado de segurança veicular (CSV). Hoje qualquer modificação para xenônio que não seja de fábrica ou regularizado anteriormente à lei, estará sujeito a multa pelo Artigo 230, VII (“conduzir o veículo com a cor ou característica alterada”) e passível de multa, considerada infração grave, levam-se de brinde 5 pontos na carteira de motorista e pode haver retenção do veículo para regularização — além dos R$ 195,23 da multa.
Deu certo? Muito, muito pouco, devo dizer. Basta andar por aí, em qualquer cidade ou nas estradas, para ver que ainda há muitos veículos (incluo motos, caso em que é especialmente incômoda aquela luz mal regulada), assim como há na internet ou nas lojas de peças de reposição muitos “kits” de luzes de xenônio.
Em condições normais de pressão e temperatura, a luz de xenônio ilumina extremamente bem, não incomoda quem está adiante do veículo, são econômicas, etc, etc, etc. Parece uma boa opção, não? E é, desde que de boa qualidade, especialmente, bem regulada. E, vamos aqui usar a denominação corrente desses faróis horrorosos, “xing ling”. Sim, porque a maioria são de fabricação chinesa. Se eu tenho algo contra produtos chineses? Absolutamente nada de nada. Soube que eles estão fazendo uns vinhos de qualidade surpreendente. A pesar de ser minha bebida favorita, ainda não provei um desses, mas acredito que isto é possível, sim. A mesma coisa serve para muitos outros itens. Mas os chineses, assim como os cidadãos de qualquer país, fazem produtos de qualidades variadas. E parece que no Brasil fomos premiados com todo o lote de faróis de xenônio de péssima qualidade. Talvez quem fez os embarques tenha bebido do vinho que não é de boa qualidade…
Lâmpada de xenônio é boa? Pode ser, sim. Ela emite até três vezes mais luz do que a comum, dá mais visibilidade lateral e de longa distância, consome menos energia (35 watts conta 55 de uma halógena) e tem o dobro de vida útil. E por que insistir no “original de fábrica”? Porque esses têm um controle de nível, responsável por dirigir automaticamente a luz projetada de acordo com o posicionamento do carro em relação ao solo, graças a pequeníssimos motores instalados nos faróis. Com isso, não se projeta uma grande quantidade de luz no carro à frente ou naquele que vem no sentido oposto.
Pessoalmente gosto muito do sistema utilizado no Peugeot 408. É supereficiente, especialmente quando se trafega à noite em estrada de terra muito estreita, com muitos buracos, o que obriga o motorista a fazer zigue-zagues. Também funciona muitíssimo bem nos desníveis da estrada, abrangendo exatamente a área que se precisa iluminar, e não de forma fixa e estática, como na maioria dos carros. Fazer curvas com esses faróis, especialmente em condições como as que mencionei acima, é uma delícia. Dá uma segurança fantástica, pois a luz acompanha o movimento do carro.
Em compensação, farol desregulado é uma tortura. Não é à toa que uma das formas de torturar um ser humano é mantê-lo durante muito tempo sob luz extremamente forte. Uso muito o antiofuscamento do retrovisor interno, mas os externos não tem… aí é “sofrência” das bravas. Se estou no banco do carona, chego a cobrir parcialmente com a mão o facho de luz projetado dentro do carro. Mas, claro, só adianta para mim. Quem está no volante está lascado do mesmo jeito…
E tem também aqueles tipo Código Morse ou pisca-pisca de Natal. Ofusca, não ofusca, ofusca, não ofusca, ofusca, não ofusca, ofusca, ofusca… Chego a pensar que tem lâmpada solta, pendurada apenas por um fiozinho suficiente para que ela acenda, mas totalmente solta dentro do farol. Vixe! Um horror! E não tem como o motorista do carro torturador não perceber isso, pois é óbvio. Mas se tem gente que nem percebe que está com o farol desligado, será que todos realmente olham o que o próprio farol está iluminando? Eu sou tão neurótica com segurança veicular que olho frequentemente no carro à frente do meu para checar se meus faróis estão OK. É tão fácil perceber o reflexo no carro adiante! Isso sem mencionar as checagens periódicas na garagem, antes de sair de casa ou de onde estiver. As de trás eu checo olhando o reflexo na parede.
Mas talvez o pior de tudo isto é que lâmpada de carro é uma das poucas coisas que realmente são baratas no Brasil. As comuns, então, são questão de moedas. E se você quer colocar de xenônio, pelo menos coloque uma de boa qualidade, não? Se não, vai de lâmpada comunzinha mesmo, mas regulada, não? Tem seguradora que troca de graça. É só ir até o pronto atendimento e sem burocracia nenhuma eles fazem o serviço. Nada justifica andar com carro que incomoda os demais motoristas e coloca em risco a todos.
Isso para não falar nas cores, digamos, exóticas, que algumas pessoas gostam de colocar nos carros. Por que alguém quer deixar o carro “diferente” ou “lindão”? Coisa para anos no sofá de um terapeuta. Tem tanta coisa que pode ser personalizada num carro sem violar nenhuma norma do Código de Trânsito e tem gente que quer “personalizar” as luzes? Apenas lembrando que a resolução 383 de 2011 do Contran diz que as luzes dos faróis de luz alta, as de longo alcance, as baixas, as de rodagem diurna devem ser brancas. As de farol de neblina dianteiro podem ser brancas ou amarelas. No caso das motos, a resolução 548 de 2015 diz que farol de facho de luz alta, o de luz baixa, a iluminação da placa de licença e a lanterna de posição dianteira podem ser brancas ou amarelas. A lanterna indicadora de direção e a lanterna de advertência devem ser âmbar. A lanterna de freio e a lanterna de posição traseira e o retrorrefletor traseiro devem ser vermelhos.
Sim, caro leitor, em nenhum caso está prevista aquela luzinha azulada que eu digo que parece vela de macumba e que alguns motoristas insistem em colocar. Em tempos de campanha disto e daquilo e hashtag disto e daquilo, que tal uma campanha #pelofimdasluzinhasdemacumbanoscarros?
Mudando de assunto: Eba!!! Voltou a Fórmula 1! Gostei da vitória do Vettel, especialmente dos agradecimentos que ele fez a toda a equipe, e adorei a ultrapassagem múltipla de Hulkenberg e Ocón sobre Alonso. De resto, não foi assim tão emocionante, houve muitos erros de transmissão, faltava muita informação pela televisão, mas só o fato de voltar a ouvir aquele barulhinho aos domingos…
NG