Recentemente falei neste espaço sobre o condicionamento de alguns motoristas que talvez acostumados a andar em velocidades mais baixas, talvez traumatizados pela proliferação de radares ou uma mistura de ambos traumas, empatam quem quer (e pode) andar mais rápido. Por óbvio, ninguém é obrigado a andar sequer na velocidade máxima permitida por uma pista mas é, sim, obrigado a dar passagem a quem quer (e pode) fazê-lo. A rigor, segundo o Código de Trânsito Brasileiro, deve-se dar passagem a qualquer um que venha mais rápido, ainda que este veículo esteja acima da velocidade permitida para a pista. Está lá, no CTB que ultimamente só não é menos lido ou conhecido do que a Constituição Federal, embora seja mais claro e permita menos interpretações ou, vá lá, divagações do que nossa Carta Magna.
Diz o Artigo 30 do CTB que todo condutor, ao perceber que outro motorista que o segue tem o propósito de ultrapassá-lo, deverá, se estiver circulando pela faixa da esquerda, deslocar-se para a faixa da direita, sem acelerar a marcha. E ainda, de acordo com Artigo 198, deixar de dar passagem pela esquerda, quando solicitada é uma infração média, penalizada com multa (foto de abertura, em São Paulo, rodovia Fernão Dias).
E tem mais. Também pelo CTB deve-se circular à direita, sempre, deixando a pista da esquerda livre para ultrapassagens. E fora os leitores do AUTOentusiastas e alguns iniciados, quem mais sabe disso? N-I-N-G-U-É-M. Novamente, está lá, no Código: Artigo 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes normas: I – a circulação far-se-á pelo lado direito da via, admitindo-se as exceções devidamente sinalizadas.
Como meus caros leitores sabem, sou assídua frequentadora não apenas das ruas e avenidas de São Paulo mas também das estradas do Estado. E é cada vez mais difícil conseguir andar por elas sem ter de pedir passagem várias vezes ou em muitas oportunidades, ter de ir para uma faixa mais à direita e então apenas ir embora pela direita mesmo porque o indigitado que está na frente apenas não sai. Isso quando não resolve frear propositadamente ou ligar o pisca-alerta ou, ainda, a seta em “resposta”(hã?). E isso quando não há absolutamente ninguém à frente do motorista por quilômetros e, claro, ninguém à direita dele, o que permitiria que fosse para a outra faixa e me permitisse ultrapassá-lo com segurança e visibilidade.
Mas não, sou obrigada a ir para a direita com muito menos segurança e fazer uma manobra irregular. Geralmente apenas sigo em frente pela pista mais à direita mesmo para não caracterizar ultrapassagem e sim sobrepassagem, mas é apenas uma tecnicalidade para evitar ter de discutir uma multa.
Já tentei por diversas vezes a técnica ensinada pelo Bob Sharp aqui, de ficar atrás do carro numa distância do carro à frente que incomode, equivalente a dois carros, mas nunca deu certo comigo. Ando quilômetros com meu carro enchendo o espelho do sujeito à frente e nada… Suponho que devo ter uma carinha meiga e doce que não representa ameaça ao reticente motorista que anda na minha frente. Ele deve pensar: ah, esse anjinho não vai fazer nada, deixa estar! E por isso não sai da pista.
Já pensei em treinar caretas na frente do espelho: cara de brava, louca ensandecida, motorista cegueta (pensei até em quase encostar o rosto no para-brisa para similar que não enxergo bem) mas, claro, não passam de pensamentos sombrios que me veem à mente e que minha formação não permite levar adiante. Culpa dos meus pais. Ah, mas como gostaria de fazer como meu pai vez uma vez com o Torino, que já contei aqui .
Pensei inúmeras vezes na satisfação que teria com isso mas, claro, novamente minha formação falou mais alto, além do meu apreço ao meu carro e todos meus freios morais e educacionais. Mas como já ouvi de uma psiquiatra amiga, pensamento a gente não controla, os atos sim. E é isso o que nos diferencia dos seres irracionais e dos psicopatas.
Ultimamente tenho mudado mais ainda de faixa não apenas pela dificuldade em ultrapassar, mas também pela proliferação de motoristas com faróis desregulados e principalmente com farol alto. Costumo avisar que estão com o farol alto e, em alguns poucos casos, percebem e baixam para farol. Mas muitos nem se tocam. Já me aconteceu de estar num congestionamento na estrada, daqueles que duram quilômetros, vindo de Casa Branca (interior de São Paulo). O carro estava bem atrás de mim havia quilômetros, naquele anda-para infernal. Pus o braço para fora da janela, fazendo sinal de farol, e nada. Umas três vezes. Então dei passagem para o motorista, fiquei atrás dele e liguei meu farol alto por alguns segundos e aí sim, o infeliz percebeu.
Mas também me aconteceu de nem isso e o motorista apenas mudar de faixa porque se sentiu incomodado. Ora, vejam só, percebeu que farol alto na cara dos outros incomoda. Nooossa! Quanta sensibilidade, não? Mas para circular com o farol alto incomodando os outros, não… ufa!
Não coloco farol alto para avisar que alguém está com farol alto quando o carro trafega no outro sentido porque acredito que ofuscar pode ser pior ainda, mas fico muito, muito brava. E tenho notado desde que tornou-se obrigatório andar com farol ligado durante o dia nas estradas de todo o país que isso é cada vez mais frequente, especialmente à noite, que é quando mais incomoda. Não entendo como alguém não percebe isso.
Vamos supor que a luz que indica farol alto no painel não funcione. Mas o motorista não percebe o reflexo da luz alta no carro da frente? Acredito que poucos saibam o que deve e o que não deve ser iluminado pelos faróis, senão não haveria tanta gente com farol desregulado, lâmpada queimada ou farol irregular. Mas essa é apenas uma teoria minha. Se alguém tiver outra, mensagens para o AE, por favor. Estou deveras curiosa.
Voltando à lei do farol nas estradas, inicialmente ela deveria ser para aquelas que não tinham canteiro central ou divisão entre as pistas num sentido e no outro — o texto falava em estradas municipais, de pista simples e outras especificações. Mas numa Imigrantes, por exemplo, onde todas as pistas vão na mesma direção e sequer que enxergam as pistas que vão no outro sentido de tão longe que ficam ainda me parece bastante inútil. Se é para alertar pedestres, novamente, eles não devem atravessar a estrada e para carros que andam no mesmo sentido é bastante sem sentido.
Estive na Lapônia finlandesa em fevereiro passado — ou seja, pleno inverno, com poucas horas de luz por dia. Estradas todas de pista simples, sem acostamento, sem iluminação de nenhum tipo, velocidade máxima sempre entre 80 e 100 km/h e entendo que nesses casos o uso do farol durante o dia se justifique. E isso é apenas no inverno, pois no verão durante várias semanas o sol sequer se põe.
Mas nas rodovias do Estado de São Paulo e algumas outras com várias pistas, sentidos segregados por canteiro central de várias dezenas de metros, iluminação excelente… continuo sem entender. O que dizer, então de farol alto? Nada que possa ser publicado aqui, certamente.
Mudando de assunto: a corrida de Fórmula 1 da China foi das mais emocionantes dos últimos tempos. Eu já tinha gostado do treino livre, cheio de acontecimentos ao contrário do oficial, mas não esperava tanto show. Ricciardo foi simplesmente impecável. Sempre gostei dele e desta vez o azar deu uma folga para ele. As manobras mais lindas do dia foram as precisas e arrojadas ultrapassagens que fez, ajudado por uma ótima estratégia e eficientíssimas trocas de pneus. Verstappen, como sempre, merecendo uns cascudos no estilo Piquet-Salazar. Bottas correto e Kimi num ótimo terceiro lugar — sim, todos sabem que gosto muito dele. Alonso sendo Alonso e colocando o Vettel para fora da pista — sim, todos sabem que reconheço no espanhol um grande piloto, mas tenho grandes restrições ao seu estilo, digamos, Dick Vigarista. Gostei tanto da corrida que vi ao vivo e mais duas vezes o videotape. E achei uma utilidade para o horroroso halo: servir de plataforma para o Ricciardo subir e comemorar a vitória quando terminou a corrida. Bom, para algo serve aquela geringonça.
NG