O longo período de entressafra que a F-1 vive desde a temporada que terminou em Abu Dhabi e a que vai começar em Melbourne abriu espaço para que várias categorias e eventos ganhassem protagonismo na mídia especializada. O universo das provas de Endurance e RaI-Reides (foto de abertura), por exemplo, chega a ter eventos paralelos disputando a mesma clientela em diferentes partes do mundo, enquanto monopostos se espalham pela América do Sul e pela Oceania, neste caso para pilotos em diferentes estágios de suas carreiras.
Maior evento mundial em termos de duração e regularidade de edições, o Rally Dakar (focalizado na edição passada desta coluna), desde 2009 é realizado de suas origens, o trajeto entre Paris e a capital do Senegal. Este ano abre um novo capítulo em sua história e tem como cenário o deserto da Arábia Saudita; mas tais mudanças jamais conseguiram conquistar a essência do evento criado em 1979 por Thierry Sabine. Assim, um grupo de entusiastas franceses decidiu criar o rali Africa Eco Race, com início na Europa — já houve largadas em Lisboa, Mônaco, Marselha e outras cidades francesas e término na capital senegalesa às margens do Atlântico oriental.
Com um viés que explora a sustentabilidade e promove o aproveitamento de mão de obra local para serviços de apoio, como montagem e desmontagem dos bivouacs (tendas de campanha) e processamento de materiais recicláveis, os promotores do Africa Eco Race incentivam o uso de painéis solares nos veículos que participam da prova, seja competindo ou atuando como transportando dirigentes da prova. Além disso garantem que todo óleo lubrificante descartado dos carros nas 12 etapas disputadas entre os dias 7 e 19 deste mês é coletado e enviado para a França para reciclagem.
Os franceses Jean-Louis Schlesser (famoso nestas bandas pelo acidente que tirou Ayrton Senna da liderança do GP da Itália de 1988) e René Metge, nomes consagrados no rali-reide mundial, são os responsáveis pela ideia, que privilegia o mínimo de quilometragem em deslocamentos e o máximo em competição. Uma boa pitada de provocação é notada no material de divulgação da prova, onde se lê que “existe somente uma Dakar e ela é a capital do Senegal, país situado na África”.
Outro mercado com demanda crescente é o que reúne as provas de Endurance (Resistência) e de carros GT. No último fim de semana os promotores da 24 Horas de Daytona realizaram o “Roar”, uma sessão de treinos onde os tempos registrados determinam a ordem de ocupação das garagens do tradicional circuito da Flórida. Em puro marquetês, uma forma de dar a esse treino livre algum valor agregado. Nos mesmos dias a Asian Le Mans Series teve sua segunda etapa realizada em Tailem Bend, longo traçado de 7,7 km localizado a 100 quilômetros de Adelaide, agradável cidade que nos anos 1980/90 recebeu o GP da Austrália de F-1.
O brasileiro Marcos Gomes participou dessa prova e terminou em segundo lugar na categoria GT a bordo do Ferrari que compartiu com o italiano Davide Rigon e o australiano Liam Talbot. Gomes deverá disputar as etapas de Sepang (Malásia) e Buriram (Tailândia), respectivamente nos fins de semana de 15 e 23 de fevereiro; o objetivo brasileiro e da equipe HubAuto Racing, é conseguir uma vaga para disputar a 24 Horas de Le Mans deste ano.
Ainda no mesmo fim de semana houve a 24 Horas de Dubai, etapa do calendário da Creventic, empresa holandesa que há 13 anos iniciou a promoção de um calendário que hoje tem provas nos Estados Unidos (Cota), Europa (Barcelona, Imola, Monza, Paul Ricard, Portimão e Spa) e Oriente Médio (Dubai). Quatro delas — Espanha, Portugal, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos — são as mais longas e duram 24 horas; ironicamente a etapa de Dubai foi finalizada com 15 horas por causa de chuvas tão fortes quanto inesperadas e que alagaram Dubai e boa parte do circuito. A vitória ficou com o Mercedes-AMG GT3 2016 de Khaled Al Qubasi (UAE), Ben Barker (UK), Hupert Haupt (D), Manuel Metzger (D) e Jeroen Bleekemolen (NL).
No universo dos monopostos os pilotos mais jovens concentram atenções na Castrol Toyota Racing Series, campeonato cujas origens remetem à Copa Tasmaniana, torneio disputado nos anos 1960/70 cuja importância podia ser medida pelos pilotos e equipes participantes: boa parte da lista de inscritos era composta por nomes em destaque na F-1 da época. Brabham, Ferrari e Lotus chegavam a construir carros especialmente para essa série.
Mais recentemente as circunstâncias foram alterando as características do campeonato atualmente disputado com carros da F-3 regional equipados com motores Toyota. A primeira prova desta temporada — que terá cinco etapas nos traçados neozelandeses de Highlands, Teretonga, Hampton Downs, Pukekohe e Manfield — será no final de semana e a lista de 20 inscritos inclui os nomes dos brasileiros Caio Collet e Igor Fraga e do argentino Franco Colapinto. Para a edição deste ano o cinco melhores classificados receberão, respectivamente, 10, 7, 5, 3 e 1 ponto para a obtenção da superlicença que permite a participação na F-1.
No mesmo fim de semana nomes já consagrados, vários deles com passagem pela F-1, se exibem nas ruas de Santiago do Chile para a segunda etapa da temporada 2019/2020 da F-E, a categoria de carros elétricos. Felipe Massa e Lucas Di Grassi representam Brasil no grid de 24 pilotos.
WG