O Feicibúqui é uma fonte inesgotável de todo tipo de material. Dá para passar raiva até o infinito com o monte de bobagens que se encontra nessa Babel de ideias e de falta de ideias. E aqui não me refiro a questões políticas ou a opiniões, campo no qual há margem para todo tipo de alternativa. Digo bobagens mesmo, daquelas totalmente comprováveis.
Há, é claro, alguns oásis de bom senso, boas ideias, pontos de vista que, mesmo diferentes dos nossos, valem a pena ser lidos pelo raciocínio, pelos argumentos. Novamente, não me refiro apenas às questões políticas. Já mencionei aqui várias vezes o excelente cronista Eduardo Affonso, que escreve sobre diversos assuntos e é uma fonte inesgotável de cultura. Suas postagens sobre gramática são primorosas e certamente se boa parte das pessoas que se manifestam nas redes (anti)sociais tivessem aprendido Português com pessoas como ele nos poupariam muita raiva e, principalmente, muitos mal-entendidos criados, apenas, pela absoluta falta de clareza em se expressar. Canso de ler postagens de pessoas que querem dizer alguma coisa mas é absolutamente impossível entender o quê. E muitas outras que simplesmente dizem o contrário do que queriam e iniciam longas discussões. Falta de pontuação e de uso de tempos de verbos corretos são os principais motivos. Como saber se algo é pergunta se não há um signo de interrogação? É perfeitamente possível interpretar que é uma afirmação. E confundir “passaram” com “passarão”? Passado e futuro são um só apenas em algumas línguas indígenas, mas certamente não no português.
Tem também as traduções puxadas de publicações estrangeiras mal feitas. O Gúgol Translêitor é uma grande ajuda desde que se tenha alguma ideia do idioma (de preferência os dois, o de base e a versão) ou quando não se tem nenhuma e ele serve apenas como uma mera referência. O que não dá é para levar ao pé da letra aquilo que uma ferramenta automática mostra, sem nenhuma revisão realmente inteligente.
Sempre procuro notícias sobre corridas, especialmente na “entressafra”, aquele período interminável para mim, como fã, entre um campeonato e outro. Dia destes me deparei com a prova cabal de que inteligência artificial ainda é algo muito, muito limitado a poucas coisas. Vejam só o que acontece quando se aciona a tradução automática do serviço de transmissão de Fórmula 1 de um serviço de streaming:
Na linha dos nomes dos pilotos, Vettel (VET) virou Veterinário (“vet”, veterinário, em inglês); Bottas (BOT) virou Robô (de “bot”, robô ou programa autônomo que interage com pessoas, fazendo-se passar por ser humano); e Hamilton (HAM), virou Presunto (tradução direta de ham, presunto, em inglês). Logo ele que é vegano! Neste caso aplica-se o aforismo italiano, “traduttore, traditore” (tradutor, traidor).
Mas quando falamos de internet nada é tão ruim que não possa piorar e vendo as outras telas os horrores se repetem e se potencializam. Se não, vejam só:
Aqui, uma combinação entre os nomes dos pilotos e suas nacionalidades. Novamente, a praxe é que se usem três letras – e já aviso que nos dois casos não são necessariamente as três primeiras, mas sim aquelas que realmente identificam pessoas e países. Por falar nisso, achei linda a insistência de Mick Schumacher em ser reconhecido pela identificação MSC, que pertencia a seu pai. Além de ser a cara dele, o gsroto deve realmente gostar muito de correr.
Mas, voltemos ao assunto. A Fórmula 1 sequer segue os padrões internacionais de identificação de países. Se assim fosse, Alemanha seria DEU e não GER. Espanha não é SPA ou algo assim (em inglês é Spain), mas sim ESP. Ou seja, seguem um código próprio – mas faltou avisar aos mecanismos de tradução automática. O resultado, talvez justamente por isso, ficou hilário.
Repetem-se o Veterinário, Robô, Presunto e há outros que nasceram em países que nem no tabuleiro do War se encontram: sabe-se que Lance Stroll nasceu na cidade de Montreal que, aparentemente, fica agora no país “Posso”. Obviamente, o mecanismo de tradução pegou a abreviação de Canadá (CAN) e ao jogar no moedor de carne automático, saiu “Posso”, mas podia ter saído “poder” ou qualquer outra versão de “can”, verbo poder em inglês. Talvez por acaso não saiu “lata”, que também seria uma tradução possível. Caso típico de polissemia e, pronto, já encerro meu momento cultural para compensar a falta de ênclises desta coluna.
Charles Leclerc não é cidadão monegasco, portanto, de Mônaco, mas de um estranho país chamado SEG. Suspeito que a entidade ectoplásmica que fez a tradução tenha pinçado a abreviação de Monaco (MON), interpretado como segunda-feira (MON, em inglês) e tenha concluído que o moço tem cidadania seg-uiana. Se alguém tiver uma teoria diferente da minha, é bem-vinda. A minha é uma mera suposição, pois acho que nada faz sentido, na verdade.
Minha teoria sobre Stroll se confirma ao ver a imagem acima.
O canadense Nicholas Latifi também tem nacionalidade desse país que desconheço chamado Posso.
Mas o verdadeiro desafio que estes mecanismos automáticos me impuseram foi nessa mesma foto, o nome e a nacionalidade do piloto da Haas. Nome: Ajuste, nacionalidade: Sutiã. Devo andar pouco criativa ultimamente, mas não consigo imaginar como chegaram nisto já que os pilotos da Haas são Mick Schumacher (nascido na Suíça, mas corre pela Alemanha) e o russo Nikita Mazepin. Até agora não sei como chegaram a essa conclusão.
Mudando de assunto: Sempre tive muito orgulho de ter bons amigos. Mas me faltou alguém que me amarrasse e me impedisse de fazer uma reforma em casa. Alguma alma caridosa que falasse: deixa como está, está tudo lindo, fica quietinha… Não, ninguém assumiu o desafio e cá estou eu brigando com a loja de material de construção. Tive um diálogo telefônico surreal. Comprei uns azulejos, argamassa, rejunte e separadores. Entregaram primeiro o material básico e os azulejos estavam prometidos para uma sexta-feira. Na quinta, liguei e, claro, a data já não era essa. Seria na terça. No sábado me ligam do Atendimento ao Cliente para dizer que “o fornecedor não nos pagou” e por isso, a loja não me entregaria os azulejos. Questionei o que é que o fornecedor teria que pagar, pois entendo que ele teria que entregar os azulejos e não pagar coisa alguma. Claro que a atendente (?) não soube me explicar, mas repetiu que não poderiam me atender e que como não tinham data prevista de entrega, eu poderia cancelar meu pedido. Foi o que fiz e pedi que viessem buscar o material básico. Fizeram isso na terça. Na quarta me liga a vendedora para saber se podia me entregar os azulejos. Como assim? Expliquei que havia cancelado tudo pois não havia previsão de entrega do raio dos azulejos. Para ela, aparecia que estavam no centro de distribuição. Não, não quero nada desta loja pois é tudo uma palhaçada e me transfira para o Atendimento ao Cliente. Voltei a cobrar o cancelamento da compra – queriam estornar em 60 dias. Nananinanão, vocês vão cancelar imediatamente a compra. Relutantemente, a atendente concordou, mas ainda assim me cobrariam o frete pela entrega do material básico. Claro que não, eu tive que devolver. Mas a senhora o recebeu. Mas só porque eu o havia comprado junto com os azulejos que vocês me venderam, mas que não tinham. Resumindo, tive que explicar que eu só havia comprado aquele tipo de argamassa, aquela cor de rejunte e aquele tamanho de separador para aqueles azulejos. Para outros, provavelmente teriam que ser de outro tipo, outra cor, etc. Me dei ao trabalho de explicar tecnicamente porque podia comprar argamassa CII e não CIII que é mais cara… Mas parece que ela só entendeu quando eu disse: imagina você comprar uma televisão com controle remoto. Eu te entrego o controle remoto, que só funciona nesse televisor, mas depois não entrego a TV. Você ainda teria de pagar pelo frete e entrega do controle remoto que foi obrigada a devolver? Por isso é tão difícil explicar o Brasil para estrangeiros.
NG