Estes dias falando com Marco Hammerand, de Blumenau, SC o assunto VW Käfer 1303 S GSR veio à baila. Quando ainda morava na Alemanha ele teve um exemplar, participou do clube do carro e de vários eventos que reuniram alguns dos sobreviventes desta série limitada que teve somente 3.500 unidades produzidas. Hoje estima-se que existem uns 70 sobreviventes no total.
A série especial GSR (Gelb-Schwarzer Renner – carro de competição amarelo-preto) do VW Beetle 1303-S foi produzida pela Volkswagen na primavera do hemisfério norte de 1973.
Ele foi fornecido de fábrica com a atraente combinação de cores amarelo Saturno (código de cor VW L13M) para a carroceria e preto fosco (código de cor VW L41) para o capô dianteiro, tampa do motor, maçanetas, frisos e parte dos para-choques.
Em 1973, esta combinação de cores correspondeu ao Zeitgeist da época quando se tratava de veículos esportivos, o que também se refletiu no fato de que a Opel produziu vários modelos como o Kadett, Manta e o Commodore, em uma combinação de cores amarelo e preto.
O modelo especial GSR gerou até acirradas discussões no Bundestag (Parlamento alemão) em 1973, ano da primeira crise do petróleo, por causa de sua pintura esportiva e da homologação oficial da Volkswagen para motores de até 100 cv, ou seja, a fábrica tinha fabricado o carro de modo que um motor de até 100 cv pudesse ser instalado sem afetar os demais componentes do carro.
Os proprietários podiam aumentar a potência do motor do carro, que originalmente era de 50 cv, havia inclusive uma grade na saia dianteira que poderia ser usada para a instalação de um radiador de óleo externo. Esta grade, porém, na versão americana, que era o Sports Bug, que veremos adiante, era usada para o condensador do ar-condicionado.
Alguns detalhes do exemplar GSR do AutoMuseum Volkswagen. Os bancos dianteiros tinham apoios de cabeça separados e revestimento em courvin e veludo.
Na foto abaixo aparece o volante esportivo de três raios. E para diminuir o peso do carro, não foram instalados apoios para os braços nas portas, mas foram usadas alças mais leves da Kombi Clipper como mostrado na foto. Ao contrário do que foi feito com o Fusca desportivo brasileiro — o “Bizorrão” — o GSR não recebeu uma instrumentação adicional de fábrica, nem ao menos um conta-giros.
O GSR tinha um carburador apenas, pois a intenção da fábrica foi criar uma base para firmas de preparação de motores, como a Oettinger, fazerem carros esportivos por meio de um motor mais potente.
Resumindo, além de seu esquema de cores esportivo, o Käfer 1303-S recebeu os seguintes equipamentos:
– Volante esportivo com aro em couro
– Interior completo em preto, incluindo dois bancos dianteiros esportivos
– Rodas de aço no tamanho 5 1/2 J x 15 ET 26 com pneus 175/70HR15 Pirelli Cinturato
– Freios dianteiros a disco (traseiros a tambor)
– Motor de 1,6 litro (1.585 cm³) de 50 cv
Os modelos 1302 e 1303, família à qual o GSR pertence, também são conhecidos por Super Beetle e eu já escrevi uma matéria detalhada, em três partes, sobre estes carros. Aqui vai o link para a Parte 1 — Você sabe o que é um Super Beetle?, com links para as demais partes na matéria. Indico este link para quem quiser saber detalhes desta incrível série de carros que acabou não vindo para o Brasil.
Mas a suspensão dianteira, do tipo McPherson e a suspensão traseira por braços semiarrastados que exigiu semiárvores com juntas homocinéticas nas extremidades (exatamente como na Variant II), foram pontos altos que conferiram um excelente comportamento esportivo a estes carros.
O “irmão” americano do GSR era o Sports Beetle, que era fornecido em duas cores: amarelo Saturno L13M (Saturngelb, ’67) ou azul Maratona metálico L96M (Marathonblau-metallic, ’89). Muitos detalhes eram opcionais, como a faixa da cintura do carro. Mecanicamente ele era similar ao GSR e podia vir com ar-condicionado.
Também houve uma curiosa versão de 300 exemplares que seguiu o mesmo esquema de pintura com o capô dianteiro e a tampa do motor em preto; ela foi feita para a comemoração da vitória da Alemanha Ocidental na Copa Mundo de Futebol de 1974, a série World Cup 74. Mas ela, além da pintura, não tinha muita semelhança com o GSR já que vinha com motor 1300 (1.285 cm³) de 43 cv. As fotos abaixo são de um raro sobrevivente dos 80 que foram pintados na cor especial Cliffgrünn – verde Penhasco (Fotos: site herando.com):
O carro de Marco Hammerand
Quando ele o comprou, ele estava “meio abandonado”, segundo ele, como mostram as fotos abaixo (fotos dele)
Depois de uma cuidadosa restauração o carro voltou a sua condição original:
Encontros do Clube IG GSR*
(*) O cube do GSR é o Interessensgemeinschaft Gelb-Schwarzer Renner (IG GSR) – Grupo de Interesse GSR.
Um belo encontro foi o da cidade Gundelsheim no rio Neckar, realizado entre 25 e 28 de maio de 2006. O evento incluiu uma visita ao Süddeutsches Eisenbahnmuseum (SEH) – Museu Ferroviário do Sul da Alemanha da cidade de Hailbron. Compareceram 14 GSR ao encontro. Seguem algumas fotos deste evento:
Iniciando pela área do camping onde os carros ficam estacionados junto às barracas dos participantes; o carro de placas ‘FFB 1 303 H’ era o do Marco:
Os carros fizeram pose para fotografia num belo bosque e as fotos ficaram muito interessantes. A foto de abertura foi uma destas fotos em grupo dos carros:
Visita ao Museu Ferroviário do Sul da Alemanha da cidade de Hailbron, os carros entraram na antiga área de oficina e manobra de trens, visitando alguns que estavam expostos. Uma linda locomotiva a vapor estava com sua caldeira ativada, pronta para levar os visitantes para um nostálgico passeio:
Faz parte do acervo deste museu uma Draisina tipo Klv que detalhei na matéria “Volkswagen nos trilhos – literalmente” ela é a primeira da esquerda na foto abaixo:
Marco também aproveitou a possibilidade de dar uma volta de locomotiva, só que ele escolheu a segunda da esquerda para a direita da foto acima, que é uma pequena locomotiva Diesel tipo KÖF II. E ele explicou o motivo da escolha: “Foi porque era a minha preferida quando tive um trem em miniatura na Alemanha”:
Para se despedir deste museu, que é mantido por voluntários aficionados em antigos equipamentos ferroviários, ai vai a foto da locomotiva a vapor que levou o pessoal para um breve passeio na cabine do maquinista:
Marco enviou fotos de outros dois encontros deste clube que são os da cidade de Göppingen, na região administrativa de Stuttgart em Baden-Württenberg, nos anos de 1997 e 2003:
A volta do GSR em 2013
Em 2013 a Volkswagen produzia um descendente do New Beetle bastante evoluído e chamado de VW Beetle, denominação que continua a causar uma grande confusão, pois confunde com as gerações anteriores. Neste cenário foi lançado o que se pode chamar de novo GSR, ou Beetle GSR, em sua pintura característica baseada na pintura do GSR de 1973.
Os megaeventos de Volkswagens antigos de Hessisch Oldendorf são patrocinados pela própria Volkswagen AG e com isto é reservado um espaço para um estande da fábrica bem no centro do evento — que geralmente é ocupado pela Volkswagen Classics, que é responsável pela manutenção da coleção de seus carros antigos. Em 2013 este espaço foi usado para o lançamento do Beetle GSR, como mostram as fotos que Marco fez naquela oportunidade:
Eu já apresentei aqui na coluna Falando de Fusca & Afins uma megamatéria sobre o evento de Hessisch Oldendorf de 2017, bem detalhado (em quatro partes). É uma leitura interessante para os apreciadores dos Volkswagens Clássicos.
Aqui cabe um agradecimento ao Marco Hammerand pela parceria nesta matéria. Nosso contato foi basicamente feito pelo Messenger do Facebook por onde vieram as fotos e foram trocadas inúmeras mensagens. O Marco já colaborou em outras matérias desta coluna e já é um “Parceiro Premium” nosso, sempre pronto para outra matéria. Suas fotos de eventos são muito interessantes, pois permitem ver como as coisas ocorrem por lá.
Em tempo, o amigo Marco Hammerand tem uma loja de peças para VW e se propõe ajudar a encontrar qualquer peça que o cliente esteja procurando. o endereço do site dele é www.vwantigo.com. Vale a pena uma visita.
AG
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