No final de semana que passou, com a estreia de Nick de Vries nas pistas de um grande prêmio de Fórmula 1, percebi que havia dois neerlandeses correndo — não, não vou entrar na discussão de que Max Verstappen é belga porque nasceu em Hasselt. Ele tem nacionalidade neerlandesa, é torcedor do PSV Eindhoven, fala holandês, se considera neerlandês e quando sobe ao degrau mais alto do pódio hasteiam a bandeira dos Países Baixos e tocam o hino daquele país, então não serei eu a discutir isso. Ah, os Países Baixos têm apenas 17,4 milhões de habitantes e até agora tiveram 17 pilotos de Fórmula 1, mas apenas Max Verstappen ganhou um campeonato, o de 2021, até agora.
Ao mesmo tempo, e no mesmo dia, assistia à prova de Fórmula 2 em que o brasileiro Felipe Drugovich se sagrou campeão d categoria, ainda que sem terminar a corrida sprint. A verdade é que ele fez uma temporada excelente. O que os narradores destacaram é que desde 2000, quando Bruno Junqueira levou a taça, não havia um campeão brasileiro na Fórmula 2.
Como a memória nos prega peças sempre, fui pesquisar quais são os países que tem mais campeões mundiais de Fórmula 1 — mas, como sempre faço, vamos fazer as contas proporcionalmente. Lembro quando começaram a divulgar os números de mortos pela Covid, em números absolutos, o espanto de alguns jornalistas e, pior, ‘o Brasil é o país com o maior índice de mortos” e blá blá blá. Espanto por que, se somos 212 milhões de pessoas? Espanto para mim seria o Uruguai, com 3 milhões, ser o país com maior número de mortos.
Atenção, que fique claro: não estou fazendo pouco caso das mortes, nem acho que tenham sido poucas — só acho que temos que ter bom senso. O mesmo acontece com números de acidentes de carros. Qual é a população brasileira? Quantos carros rodam aqui? Vamos comparar com, sei lá, a Nova Zelândia que tem 5 milhões de habitantes e 4,4 milhões de carros?
Bem, voltemos então aos números.
Claro que sempre me chamou a atenção a quantidade de pilotos finlandeses, campeões ou não. É impressionante como um país com somente 5,5 milhões de habitantes (desde que estive lá tenho certeza de que há mais renas do que gente, pelo tanto que vi. Não, brincadeira; momento uiquipídia: há 300.000 renas livres em todo o país) tem tantos e tão bons. E nem menciono outras categorias como rali, pela qual os finlandeses tão absolutamente apaixonados e têm uma habilidade incrível.
Por questão de metodologia, usei os números de campeonatos e de pilotos totais, mas os de habitantes atuais, já que fazer os de habitantes à época de cada título ou de atuação de cada piloto seria uma confusão absurda e não poderíamos fazer nenhuma comparação. Isso dá alguma distorção? Certamente, mas a proporção na distorção se mantém em todos os países, exceto naqueles como no Brasil em que o crescimento populacional foi muito grande comparado com o ano do último campeonato mundial. Pronto. Se não, posso fazer como os institutos de pesquisa e estabelecer um índice de confiabilidade de x% e somá-lo a uma margem de variação de y pontos porcentuais. Que tal? Outra possibilidade é apenas lermos estas não tão mal traçadas linhas apenas como curiosidade.
Em números concretos, a Finlândia tem três campeões mundiais: Keke Rosberg (1982), Mika Häkkinen (1998 e 1999, foto de abertura) e Kimi Räikkönen (2007), num total de quatro títulos. Mas, como curiosidade, correram ainda: Mika Salo, J.J Lehto, Heikki Kovalainen, Valteri Bottas, Leo Kinnunen e Mikko Kozarowitzky. Ou seja, nada menos que nove pilotos na F-1. Em títulos, isso dá 1 título para cada 1.375.000 habitantes ou um total de 1 piloto para cada 555.555 habitantes.
Os britânicos, que sempre chamaram a atenção pela quantidade e pela qualidade, somam nada mais e nada menos do que 20 títulos. E aqui, escoceses, irlandeses, irlandeses do Norte, ingleses e galeses que me perdoem, mas preciso somar tudo, se não a conta vira uma bagunça. Os pilotos campeões foram: Mike Hawthorn, (1958), Graham Hill (1962, 1968), Jim Clark (1963, 1965), John Surtees (1964), Jackie Stewart (1969, 1971, 1973), James Hunt (1976), Nigel Mansell (1992), Damon Hill (1996), Jenson Button (2009) e Lewis Hamilton (2008, 2014, 2015, 2017, 2018, 2019, 2020), Como o total de habitantes no Reino Unidos é de 68 milhões, há 1 título para cada 3.400.000 habitantes. Se formos considerar todos os pilotos que já correram alguma vez (mesmo que uma só) sob a bandeira do Reino Unido, dá um incrível total de 164 pilotos que, por óbvios motivos de espaço, não nomearei um por um, mas, caros leitores, acreditem, é isso mesmo. Ou inacreditáveis 1 piloto por grupo de 414.600 habitantes.
Claro que os alemães não ficam atrás. Neste momento podem não ser tantos, mas desde o início da Fórmula 1, houve um total de 54 pilotos daquela nacionalidade que, novamente, por questões de espaço não nomearei aqui. Campeões, mesmo, foram três, mas que concentraram um total de 12 títulos. Foram eles: Michael Schumacher (1994, 1995, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004), Sebastian Vettel (2010, 2011, 2012 e 2013) e Nico Rosberg (2016). Ou seja,1 piloto para cada grupo de 1.500.000 de habitantes (no total, a Alemanha tem 84 milhões de habitantes) ou 1 troféu para cada 7.000.000 habitantes.
Os italianos, quem diria, tão aficionados pelo esporte, tem números irregulares. Para uma população de 60 milhões de habitantes, tem um total de apenas dois campeões mundiais, e ambos já faz muito tempo: Giuseppe Farina (1950) e Alberto Ascari (1952 e 1953). Mario Andretti ganhou o campeonato de 1978, mas apesar de ser ítalo-americano corria sob a bandeira dos Estados Unidos. Isto dá um total de três taças, ou 1 troféu por grupo de 20.000.000 habitantes. Mas que disputaram provas foram muitos — 98 pilotos — ou 1 piloto para cada 1.555.555 habitantes.
O Brasil já conheceu dias melhores, é verdade. Para seus 212 milhões de habitantes têm 8 títulos (dois de Emerson Fittipaldi, em 1972 e 1974), três de Nélson Piquet (1981, 1983 e 1987) e três de Ayrton Senna, 1988, 1990 e 1991), o que dá 1 troféu para cada grupo de 26.500.000 habitantes. Mas em toda sua história foram 32 pilotos, o que corresponde 1 piloto para cada 6.625.000 habitantes.
A Argentina, apesar dos cinco títulos de Juan Manuel Fangio, ficou por isso mesmo e todos nos anos 1950, exatamente em 1951, 1954, 1955, 1956, 1957. E precisa dividir as cinco taças entre seus 40,54 milhões de habitantes, o que dá 1 campeonato por grupo de 9.080.000 habitantes. E, no total, teve 25 pilotos na Fórmula 1 em toda sua história, ou 1 para cada 1.816.000 habitantes.
A Nova Zelândia tem apenas 5 milhões de habitantes, mas números semelhantes aos da Finlândia em termos de participação de pilotos na F-1. Foram nove, incluindo o grande Bruce McLaren. Estes dá para nomear um por um: Chris Amon, Howden Ganley, Brendon Hartley, Denny Hulme, Bruce McLaren, Graham McRae, John Nicholsoon Tony Shelly e Mike Thackwell. É fato que eles só tem um campeonato, o de Hulme, em 1967, mas se Stirling Moss chegou a dizer que a contribuição da Nova Zelândia para a formação dos escalões da F-1 em termos de sua população era maior do que a de qualquer outro país (OK, isso foi em 1970), quem sou eu para negá-lo? Novamente, isso dá um total de 1 pilotos para cada 555.555 habitantes, embora apenas 1 título para cada 5 milhões de habitantes.
Outra surpresa é Mônaco, com seus apenas 39,2 mil (sim, isso mesmo, mil) habitantes e um total de cinco pilotos que participam ou participaram da Fórmula 1. Foram eles: Olivier Beretta, Louis Chiron, Robert Doornbos, André Testut e, claro, Charles Leclerc. Até agora nenhum monegasco ganhou um campeonato de F-1 e Leclerc foi o primeiro até mesmo a ganhar uma corrida — logo, nem foi fazer os cálculos de troféus por habitante pois daria algo absurdo, mas em termos de pilotos participantes por habitante o índice é até bastante bom; 1 piloto por grupo de 7.840 habitantes – a melhor média desta minha lista, à frente até da Finlândia.
A impressão que temos da França corresponde bastante à realidade. O país tem 67,4 milhões de habitantes e um total de 74 pilotos que já participaram da categoria, mas apenas um campeão que, aliás, obteve todos os troféus do país: Alain Prost com seus quatro títulos de (1985, 1986, 1989, 1993), embora em termos de vitórias e de renome tenha uma coleção generosa de pilotos. Mas a média cai um pouco com apenas um piloto e, assim, os franceses tem 1 título mundial para cada 16.850.000 habitantes e 1 piloto para cada 910.810 habitantes até agora.
Austrália tem 25,7 milhões de habitantes e teve 17 pilotos na Fórmula 1. Dois deles ganharam campeonatos: Jack Brabham (1959, 1960 e 1966) e Alan Jones (1980), mas até agora apenas Mark Webber e Daniel Ricciardo foram os únicos que venceram alguma prova. Isso significa um total de 1 campeonato para cada 6.425.000 habitantes ou 1 piloto para cada 1.511.000 habitantes. Nada mau, não? Mas vamos ver agora com o Oscar Piastri se esse índice muda.
Moral da história: participação é uma coisa, taxa de sucesso é outra. E nesse quesito, os finlandeses ainda são imbatíveis.
Mudando de assunto: torcedor de Fórmula 1, ou de qualquer esporte na verdade, é engraçado. No ano passado, muitos reclamaram da atitude do Michael Mais ao evitar terminar a prova com safety car e deixar passar apenas os carros entre o primeiro e o segundo colocadas — o que, de fato, era a única coisa que poderia alterar algum resultado na última volta. Depois de muita polêmica, a FIA reescreveu o parágrafo que permitiu que Masi fizesse isso para evitar interpretações como a dele e agora isso não pode mais ser feito. Assim, a corrida de Monza terminou com safety car, algo extremamente desestimulante e que “engoliu” a vantagem de Verstappen (P1), que era de 17 segundos até a entrada do carro de segurança e permitiu que a Ferrari (P2) colasse nele. A demora na retirada do carro de Ricciardo se deveu à organização da prova, toda ela de responsabilidade dos italianos do circuito que, suponho, estariam mais do que interessados em ajudar Leclerc com Ferrari. No entanto, os adeptos da teoria da conspiração viram favorecimento à Red Bull e ao neerlandês e reclamaram, agora, de a prova ter terminado com safety car. Nem tento mais entender, especialmente quando são as mesmas pessoas que mudam as teorias dependendo de quais são os interesses.
NG