Como compacto urbano, ótimo; como estradeiro, até que viaja bem.
Não sei se é o caso do leitor, mas no meu caso, na cidade gosto dos carros compactos, ainda mais numa cidade atrapalhada como São Paulo, de trânsito obstaculado e imprevisível. Com facilidade eles passam por brechas nos engarrafamentos, com maior facilidade se acha vagas para estacionar, com facilidade são manobrados em garagens apertadas, e por aí vai. Na cidade são inquestionavelmente mais práticos.
O Kia Picanto é um desses compactos perfeitos para a cidade. Mede 3.595 mm de comprimento, ou seja, arredondando, só 3,6 metros, e mesmo assim oferece amplo espaço para quem vai à frente e aceitável espaço e conforto para os que vão no banco de trás. Para tanto, sacrificaram os volumes do porta-malas — que tem só 200 litros — e o do tanque de combustível, com só 35 litros — como no VW up! alemão, que na versão brasileira passou a 50 litros. Foi a opção tomada. O porta-malas, diga-se, pode aumentar bem ao se rebater o assento e o encosto do banco traseiro, divididos 2/3, 1/3. Com isso o fundo do porta-malas fica convenientemente plano. Usando-o a todo volume ele chega a 470 litros. Tem ancoragens Isofix para bancos de criança. Para a necessidade de muitos, essas “condições espaciais” bastam, seja para carro único ou para segundo carro da família.
A versão testada é a mais simples. Vem com câmbio manual de 5 marchas e alguns itens básicos que garantem comodidade e conforto, como um eficiente ar-condicionado e comandos do áudio no volante. Falta-lhe um computador de bordo. Essa versão tem preço sugerido de R$ 39.900 — por enquanto, pois por ser importado ainda tem como base o dólar cotado a R$ 2,80. A outra versão, cujo preço é de R$ 46.900, vem com câmbio automático de 4 marchas, além de mais itens, como rodas de liga leve. O motor de ambos é o mesmo 3-clindros de 1 litro que equipa o Hyundai HB20, de 77 cv a 6.200 rpm e 9,6 m·kgf a 4.500 rpm quando com gasolina e 80 cv e 10 m·kgf quando com álcool, às mesmas rotações. Tem sistema de partida a frio quando com álcool mediante injeção de gasolina e reservatório.
Logo à primeira saída com o Picanto o que impressiona é o a suavidade e o silêncio do motor, que acima de tudo é bem isolado. Tanto na cidade, quanto na estrada têm-se silêncio, e o ronco que vem em alta — aquele som comum aos novos motores de 3 cilindros, que lembra o 6-cilindros boxer do Porsche 911 —, agrada. O volante, com aro revestido com couro, tem boa pegada. Tem regulagem só de altura, e isso aliado à regulagem da altura do banco do motorista proporciona posição correta para guiar, apesar de estar um pouco deslocado à esquerda. Sua assistência é elétrica com atuação regressiva. É leve, mas não excessivamente, o que também agrada. Na estrada fica firme, ótimo.
O comando do câmbio é via cabo. De tão bom que é, talvez até supere os da Volkswagen, até então uma referência em questão de leveza, curso e precisão. Os pedais estão bem posicionados, sendo que a embreagem é leve, bem leve e de curso curto; o do freio é progressivo e bom de dosar, e seu posicionamento em relação ao do acelerador permite que se faça o punta-tacco com relativa facilidade.
Os retrovisores externos são grandes e eficientes. Pena que o da direita não tenha ajuste elétrico. Para o da esquerda não é necessário ter, já que é alcançado facilmente, mas para ajustar o da direita há o inconveniente de requerer certa ginástica e algumas tentativas até acertar.
A suspensão não foi erguida e é firme. Parece ser mais firme que a dos concorrentes VW up! e Ford Ka, mas nada que chegue a incomodar, mesmo numa cidade mal remendada como São Paulo. Na estrada, sendo estrada boa, muito menos. Usa McPherson na frente com subchassi, com barra estabilizadora, e eixo de torção atrás, sem barra. Carro muito bem acertado, porque faz curva para valer, com bons modos e precisão. É um prazer metê-lo rápido nas curvas. Muito ágil e previsível, sem vícios.
O motor, que tem duplo comando variável, é esperto e elástico; e é perfeitamente aproveitado por um câmbio com ideais relações de transmissão. Suas relações são o que no geral consideram longas, porém, aqui para nós, do Ae, são o que consideramos certas para a proposta, embora o giro em 5ª a 120 km/h pudesse ser um pouco menos que as 4.000 rpm.
Por falta de um computador de bordo não foi possível medir o seu consumo de combustível. Pelos testes do Inmetro ele obteve nota C, com 8,2 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada, quando com álcool, e 12 km/l na cidade e 14,4 km/l na estrada, quando com a nossa gasolina oficialmente (bem) batizada. Na prática, dirigindo de modo a evitar consumo desnecessário, consegue-se maior economia que os obtidos pelo órgão. Esses dados valem principalmente como referência, por serem obtidos sob as mesmas e exatas condições.
Seu desempenho na estrada é satisfatório, desde que não muito carregado. Mantém com facilidade e com baixo nível de ruídos a velocidade máxima permitida de 120 km/h reais, e até mais. Por ter marchas corretamente longas, há, sim, a necessidade de reduções para subir aclives, mas isso não é incômodo algum, já que, como disse, trocar-lhe as marchas é algo fácil, prático e leve. Ele, levando pouco peso, proporciona viagens rápidas e agradáveis.
O design agrada, principalmente o do interior, que é no estilo “clean”, limpo, sem rebuscamentos que podem descambar para o confuso. Parece inspirado no design alemão — aliás, a nacionalidade do vice-presidente de Design da Hyundai/Kia, Peter Schreyer. Inclusive o desenho dos mostradores segue a linha “Wolfsburg”, dando fácil e rápida leitura.
O diferenciador do modelo é ser o único que oferece motor de 1 litro e câmbio automático epicíclico, o que para muitos pode ser a opção ideal para encarar o dia a dia urbano.
O Picanto, sem dúvida, é um forte concorrente no mercado. Quem procura um compacto, e gosta dele ao vê-lo passar pela rua, deve experimentá-lo, também. Terá uma surpresa agradável.
Vídeo:
AK
Fotos e vídeo: Paulo Keller
FICHA TÉCNICA KIA PICANTO 1,0 L MANUAL | |
MOTOR | |
Descrição | 3-cil em linha, transversal, duplo comando variável admissão e escapamento, acionamento por corrente, 4 válvulas por cilindro; flex com injeção de gasolina a frio quando com álcool |
Cilindrada | 998 cm³ |
Diâmetro e curso | 71 x 84 mm |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Potência máxima | 77 cv (G)/80 cv (A); a 6.200rpm |
Torque máximo | 9,6 m·kgf (G)/10 m·kgf (A); a 4.500 rpm |
Formação de mistura | Injeção eletrônica seqüencial no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo manual de 5 marchas, tração dianteira |
Relações da marchas | 1ª 3,727:1; 2ª 1,894:1; 3ª 1,192:1; 4ª 0,906:1 5ª 0,719:1; Ré 3,636:1 |
Relação de diferencial | 4,80:1 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, MvPherson, braço transversal, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora; subchassi |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 9,8 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado Ø 241 mm |
Traseiros | A tambor Ø 180 mm |
Controle | ABS |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço 5Jx14 |
Pneus | 165/60R14 |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | 200 litros, 470 litros com banco traseiro rebatido |
Tanque de combustível | 35 litros |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 940 kg |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 3.595 mm |
Largura | 1.595 mm |
Altura | 1.490 mm |
Distância entre eixos | 2.385 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.415 mm/1.418 mm |
Distância mínima do solo | 152 mm |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (Inmetro/PBE) | |
Cidade | 12 km/l (G)/ 8,2 km/l (A) |
Estrada | 14,4 km/l (G) / 9,8 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 29,4 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 4.080 rpm |
Rotação à vel. máx. em 5ª | 5.400 rpm (160 km/h estimada]. |