Recentemente o Juvenal Jorge escreveu por aqui sobre celulares e trânsito. Neste caso não discordo necessariamente do Juvenal, ao contrário, concordo em vários pontos, mas como o Bob Sharp sempre diz, os editores do Ae temos opiniões diferentes sobre diferentes assuntos — ainda bem que no Brasil temos espaços onde isso ainda é permitido. Sei lá, depois que começaram a falar em “socializar” os meios de comunicação, em “regulamentar” a mídia e outras disgressões para não ir direto ao ponto que é censurar…
Bom, Norinha, de volta ao assunto. Pessoalmente, acho que a maioria das pessoas poderiam, sim, falar ao telefone e dirigir. Digo a maioria pois entendo que algumas que o fazem sequer poderiam apenas dirigir, que fique bem claro. O fato de sair por aí atrás de um volante não significa que deveriam fazê-lo. É necessário destreza e um número mínimo de neurônios e, convenhamos, nem todo mundo têm — nem uma coisa nem a outra. E para isso o uso de dispositivos tipo Bluetooth é indispensável. Nada de tirar as mãos do volante, que fique bem claro. Para mim, conversas rápidas que não exijam maior concentração são como falar com o carona. Nada de discutir a relação com a cara-metade nem fazer um longo e complicado conference call com a matriz do escritório. Analogamente, não gosto de discutir com crianças nem tenho paciência para brigas entre pimpolhos no banco de trás. Ou seja, nada que tire minha concentração do trânsito. As conversas no carro têm de ser amenas. E, obviamente, nada que precise de algo que tenha que ser escrito ou visto num papel ou num computador.
Isto posto, não estou incentivando ninguém a desrespeitar a lei. No Brasil, falar ao telefone é proibido, então, caros leitores, não o façam, OK? E mandar mensagens de texto, tipo WhatsApp ou MSN, não tem cabimento. Isso significa tirar a vista do trânsito, dos retrovisores, de tudo, enfim. E isso não se justifica. Eu parto do princípio de que eu dirijo bem, mas por uma questão de estatística, sempre posso me envolver num acidente, certo? Se dificilmente eu provocaria um por ser cuidadosa obviamente tenho que prestar atenção nos outros, já que são eles os que poderiam provocar um. Como, então, deixaria de olhá-los?
Só tenho Bluetooth num dos meus carros e até hoje não configurei meu celular. Meu marido diz que tenho medo de tecnologia. Juro que não é isso. É preguiça, mesmo, pois se alguém o fizer, usarei alegremente. Sei que é fácil e como estou longe de ser burra, poderia fazê-lo sem maiores dificuldades — gosto de acreditar. Talvez coloque isso na lista de tarefas a fazer no ano que vem, ou peça para o Papai Noel providenciar. Por isso, não atendo o telefone quando estou no carro. E ponto final. E, convenhamos, minha bolsa é algo parecido com um buraco negro. Não é nada fácil encontrar qualquer coisa lá dentro e com telefone não é diferente. Como posso fazer para dirigir e ainda tatear para encontrar algo? Deixo tocar e quando chegou ao meu destino retorno as ligações.
Já tentei usar aqueles organizadores de bolsa — umas minibolsas de tecido cheias de compartimentos que, na teoria, permitiriam que tirássemos eles inteiros de uma bolsa e os transferíssemos para outra sem esquecer nada e mantendo a arrumação de tudo. Comigo não deu certo. O número de divisórias se mostrou insuficiente, os interiores das bolsas não comportaram os tais organizadores, enfim, toda vez tiro todas as coisas sobre a mesa e passo de uma bolsa para outra. E aí, o celular que na bolsa preta ficava num bolsinho do lado externo na bolsa vermelha fica num do lado interno, mas na bolsa verde fica jogado dentro… e por aí vai. Coisa que somente outra mulher me entende. E sim, preciso de tudo que está lá, OK? E não se fala mais nisso. Pronto.
Já sei, poderia deixar o celular à mão, fora da bolsa, mas aí ficaria tentada a atender ou poderia esquecê-lo no carro, pois não tenho o hábito de deixar coisas espalhadas pelo possante. E sem um dispositivo que me deixe as mãos livres… OK, vou descobrir como uso o raio do “blutuf”. Já entendi ao reler o que eu mesma estou escrevendo. Não faz sentido não apertar umas teclinhas e fazer isso de uma vez por todas. Certamente é mais rápido do que continuar me desculpando. Somente aqui já foi quanto tempo? Já podia ter configurado meu espertofone, não?
Como jornalista de Economia e também Relações Públicas de grandes empresas há muitos anos, transito no meio corporativo e convivo com todo tipo de modismo, tanto de Administração quanto de RH. Já passei por vários, desde o kanban japonês, o sistema que tentou implementar o estoque zero de matérias-primas aos ambientes compartilhados sem mesas fixas (nem para todos) que na verdade são uma forma de as empresas economizarem nos aluguéis de espaço.
Nos últimos tempos, tem-se louvado as pessoas multitarefas — aquelas que seriam capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Balela. A ciência provou que o cérebro tem capacidade limitada de fazer coisas simultaneamente — geralmente duas, e dependendo de quais, às vezes nem isso pois estão no mesmo hemisfério. Por isso conseguimos falar e andar ao mesmo tempo, mas correr na esteira e ler é mais complicado e geralmente temos que reler o mesmo parágrafo. Mas conseguimos correr e ouvir música sem problemas. E há coisas que simplesmente não podem ser feitas ao mesmo tempo. Na verdade, o que essas pessoas ditas multitarefas fazem é parar uma tarefa e fazer outra. Por exemplo, interromper a leitura de um e-mail e atender um telefonema. Ou responder e-mails durante uma reunião. O que elas fazem é parar de prestar atenção à reunião e responder à mensagem. É como dar pausa num filme e depois reiniciar. O que acontece? Consegue-se ver o filme todo, claro, mas demora-se mais e a compreensão fica prejudicada pela interrupção, que atrapalha a continuidade. O mesmo ocorre quando se digita uma mensagem no celular no trânsito. E ainda atrasa a saída do sinal — quando não se provoca um acidente ou obriga o motorista de trás a desviar dos zigue-zagues que quem está digitando acaba fazendo.
Lembro de ter visto uma foto de uma placa numa estrada nos Estados Unidos, acho que dos anos 60, que dizia, se você está beijando e dirigindo, não está prestando a devida atenção ao beijo. Bem, é por aí. Claro que os anos 60 eram mais românticos e as noções de segurança no trânsito eram outras, mas o princípio que eles queriam passar, ainda que de forma marota, era que não se devia tirar a vista da estrada. Evidentemente há pessoas que têm uma capacidade fora do normal, mas são exceções. Meu marido tinha um professor no segundo grau que conseguia escrever na lousa ao mesmo tempo, com as duas mãos, parágrafos inteiros sobre coisas diferentes. Um gênio da Física, que sempre era entrevistado quando havia uma nova descoberta mundial. Mas, claro, um em milhões. Tem gente por aí que não consegue concatenar frases com começo, meio e fim. Sequer uma de cada vez. E aí sobra espaço no cérebro até para armazenar vento…
Mudando de assunto: No GP de Fórmula 1 da Rússia teve de tudo. Ultrapassagens legais, acidentes nem um pouco legais (nunca são, na minha opinião), estratégias. Gostei de tudo, mas curti muito os dois beijinhos no rosto e os gorrinhos cossacos que os pilotos que foram ao pódio receberam dos organizadores da prova. Meu único receio é que alguém resolva copiar isso aqui no Brasil. Já pensou botarem um chapéu à la Carmen Miranda, com bananas e tudo, no Lewis Hamilton? Socorro!!
NG