Anos atrás saí com meu marido para fazer uma compras de material de construção. Fomos a uma loja na Av. Brasil, umas das mais bonitas de São Paulo, larga, arborizada. Domingão de sol etíope — bom, ainda não estive na Etiópia, mas é assim que imagino que seja o astro-rei naquelas paragens: muito, muito intenso. Era como se todos os paulistanos tivessem tido a mesma ideia. A loja estava lotada, o estacionamento idem. Mas eis que havia uma vaguinha, bem embaixo de uma árvore frondosa, perto da porta. E só ela. De resto, carro saindo pelo ladrão. Embicamos o possante mas com muita desconfiança. Só podia ser pegadinha. Naquele calor, uma vaga bem na sombra?
Já durante a manobra, olhei bem em volta: devia ser vaga de cadeirante. Ou idoso. Ou sei lá o quê, mas parecia pouco provável que ela estivesse lá só para nós. Não, nenhuma marcação. Automaticamente, os dois repassamos todo o Código de Trânsito mentalmente para ver se havíamos esquecido alguma proibição. Hidrante? Não, não estávamos em Nova York. Guia rebaixada? Nem perto.
Foi aí que, depois de tantos anos de convivência, tivemos a mesma ideia ao mesmo tempo e olhamos para cima. A tal árvore era uma jaqueira. E, sim, estava carregada de frutas. Nem preciso dizer que em segundos já estávamos dentro do carro dando marcha à ré. Quinze minutos depois voltamos à loja, depois de parar beeeeem longe da árvore. Até hoje damos risada do fato e da sorte que demos em olhar antes de deixar o carro lá.
Quando era pequena meu pai me deu o livro “A Reforma da Natureza”, de Monteiro Lobato. Eu morava na Argentina, mas ele já estava no Brasil e nos levava muitas coisas daqui. Gostei muito, mas para mim a menção que se faz à jaqueira como aquelas coisas que deveriam ser diferentes, é curta demais. Quando vi uma jaca pela primeira vez achei que merecia um capítulo inteiro do livro. Jamais entendi como uma geringonça como a jaca podia dar em árvore e o moranguinho ser uma planta rasteira…
Nem meu marido nem eu temos preferência por estacionar na sombra se não for absolutamente seguro. Tenho obsessão por ver se a árvore não está tomada pela terrível erva-de-passarinho e preferimos passar calor na volta por um tempinho do que amargar algum prejuízo no carro. Mas nem sempre as ameaças são tão óbvias assim. Adoro ar livre e natureza, mas achar que ela é inofensiva é ingenuidade. A recente e trágica morte do ator Domingos Montagner que o diga. Tendo dito isto, por que é que alguns municípios teimam em achar que podem dominar a Natureza?
O exemplo da Av. Atílio Correia Lima, em Goiânia, é típico. Ela é uma via coletora com uma ilha com lindas árvores entre as faixas mas, assim como a jaqueira da loja de material de construção, tem uma pegadinha. Pegadona, aliás. Ela é toda arborizada com jamelões, também conhecidos como jambolões ou em alguns lugares, oliveiras. Amo plantas e tecnicamente eles são Syzygium cumini, da família das jabuticabas e das mirtáceas. São lindas, tem até 15 metros de altura com copa bem cheia, coberta de folhas lisas e brilhantes e os frutos são roxos e comestíveis. Pessoalmente não gosto, assim como não gosto de jaca nem de jabuticaba — e por serem as únicas frutas da face da Terra que não curto, meu problema deve ser com a letra “j”. Mas voltemos às árvores. Vocês perceberam: da família das jabuticabas, com frutos, folhas lisas… está feita a combinação fatal para todo tipo de veículo, incluindo carros, motos e, claro, pedestres. O que cai delas é um sabão só. Ou seja, por óbvio, não é adequada a espaços públicos pavimentados por deixar o solo escorregadio e por manchar veículos, roupas, mobiliário urbano…
Veja essa matéria do G1:
https://youtu.be/LCW0G2YvLWI
É aí que vem aquela vozinha lá no fundo e me pergunto: e por que são plantadas em áreas urbanas? Sim, porque Goiânia, segundo a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) tem cerca de 30 mil árvores dessas. E outro detalhe: nem nativa ela é, pois é originária da Índia. Ou seja, foi plantada propositadamente. Mas, insiste a vozinha, as prefeituras não têm Secretarias de Meio Ambiente? Não têm Secretarias de Transporte? Não têm Secretarias de Planejamento? No mínimo concluo que elas não se conversam. Nem pessoalmente, já que na mesma Av. Atílio Correia Lima, de Goiânia (vídeo) fica a sede do Detran de Goiânia, de onde se vê pela janela acidentes o tempo todo.
Os frutos do jamelão caem, basicamente, durante um mês por ano, as folhas durante mais tempo. Mas será que vale a vida de pessoas ou mutilações permanentes? Há tantas espécies que não provocam esses acidentes nenhum dia sequer!
Mas, como nos anúncios da televisão, espere, não ligue agora! É só Goiânia? Não! Tem jamelões também em Brasília e em várias cidades da Paraíba. Encontrei problemas com essas árvores em Palmas, no Tocantins, Araranguá, em Santa Catarina, onde serão substituídos por palmeiras — de novo!, nada de sombra, muitas lagartas…
Mas não são apenas os jamelões que foram plantados em lugares inadequados — 30.000 no caso de Goiânia, é bom que se repita para que não pareça que foi algo ao acaso. Lembro de correr a pé pelas ruas de Belém, no Pará, para desviar das mangas assassinas que caem a toda hora das árvores (foto de abertura). E nunca havia visto tanto para-brisa quebrado pelas frutas e tanto tombo de pedestres que patinam nas polpas e cascas espalhadas. Gosto de manga? Claro. A árvore é bonita? Sem dúvidas, mas de quem foi a ideia de colocar mangueiras nas ruas de uma cidade dessas? Por que foram plantadas depois que foi feito o calçamento e o asfalto? Não estamos aqui falando de árvores da época da descoberta do país.
Aí chega o poder público e coloca placas para diminuir a velocidade, como se um pedestre não corresse riscos também. Às vezes fazem varrições que, claro, duram apenas alguns quartos de hora. Ou então pior: poda as árvores que, claro, voltarão a crescer e enquanto isso ficam horrorosas. Por que não transplantá-las para uma praça ou parque, bem no meio da grama? E colocar no lugar lindas e frondosas árvores, em lugar de mudas de coqueirinhos que mais parecem bonsais, que não dão sombra alguma? Como diria o Bob, porque isso dá um trabalho danado…
Mudando de assunto: É sempre bonito ver a Fórmula 1 em Cingapura. Apesar de ser circuito de rua e com poucos pontos de ultrapassagem, gosto da corrida noturna, da iluminação impecável, organização idem… O Sebastian Vettel deu show. Nico Rosberg fez tudo certo, Daniel Ricciardo também e embora meu pódio favorito deveria ter o Kimi Räikkönen no lugar do Lewis Hamilton, foi justo. Achei engraçado o Fernando Alonso segurar o Daniil Kvyat, justamente ele que em 2010 reclamou um monte porque Vitali Petrov, outro russo, não lhe dava passagem em Abu Dhabi embora estivessem disputando posição na pista. Mas tenho dúvidas quanto a quem era o diretor de prova. Vejam minha teoria: a velocidade do pit lane caiu para 60 km/h; mostraram bandeira preta e laranja para o Carlos Sainz por causa de um pedacinho de carenagem (quantas teriam de mostrar para Gilles Villeneuve no Canadá em 1981? Cobririam toda a extensão da pista, kkk), mas permitiram que um fiscal transitasse pela pista com os carros a milhão… Não lembra um certo prefeito?