Após testar esta Fiat Strada com câmbio robotizado constatei que a evolução desse sistema de transmissão está tão acelerada que só num dado momento se pode opinar sobre qual dos fabricantes o está fazendo melhor. Só dá para emitir uma opinião de maneira instantânea, tipo: “No momento, dia tal, mês tal, ano tal, o melhor robotizado está sendo tal”, porque amanhã provavelmente aparecerão melhorias no de outra marca e aí o resultado muda.
Por exemplo, há dois anos testei o Fiat Linea com o câmbio Dualogic Plus e, recentemente, o Renault Logan com seu robotizado Easy’R. Achei o do Renault melhor que o do Fiat de dois anos atrás, porém, agora, ao pegar esta picape Strada, imediatamente notei a grande evolução conseguida pela Fiat com seu sistema robotizado e vi que, hoje, ele e o Easy’R estão bem parelhos em termos de suavidade e presteza nas trocas de marcha. Com a vantagem do sistema da Fiat ter a opção de uma programação mais esportiva, a tal tecla S junto à alavanca. O Easy’R não tem essa tecla, mas se pode tocar esportivamente dando toques na alavanca.
Citei esses casos só para esclarecer o leitor de como está a situação. Impressões, até relativamente recentes que tivemos, já não valem hoje, e isso é ótimo, porque é sinal de que a programação do sistema está tendo sensível melhora. Isso se nota pela velocidade com que o sistema se adapta ao nosso modo de dirigir. Este da Fiat, talvez devido ao motorista anterior ter uma tocada semelhante à minha, já saiu trocando marchas de maneira suave e sem as tais “cabeçadinhas” — sensação desagradável, provocada por uma leve desaceleração anterior ao início do desacoplamento da embreagem (o carro desacelerava, para só então debrear).
Neste, não, as trocas estão realmente agradáveis, pois ele só diminui a aceleração após iniciar o desacoplamento da embreagem, e assim já está chegando perto do imperceptível. E estão mais rápidas, também. As trocas do sistema da Fiat estão bem próximas do que faria um bom motorista.
Também agradou bastante a funcionalidade do modo “S”. É a primeira que pego que faz as coisas realmente direito. Ao apertar o botão, o pedal do acelerador fica bem mais sensível, com relação mais rápida, dando maior aceleração por curso do pedal, e as trocas de marcha parecem ser feitas mais rapidamente. E ele não fica “excessivamente esportivo”, como alguns outros ficam, só trocando marcha em giro alto demais, mesmo que não estejamos acelerando fundo, um modo esportivo que não sabe ser esportivo, agarrado à marcha com unhas e dentes.
Este modo “S” da Fiat pode até ser usado em trecho urbano, pois ele troca marcha também em giro baixo, caso estejamos com o pé leve. Gostei tanto de sua programação esportiva que a usei numa solitária, rápida e sinuosa subida de serra, só usando as borboletas para redução de marchas nas aproximações de curvas. Ao comandarmos uma redução, ele levanta corretamente o giro para evitar que a marcha mais provoque tranco. Numa viagem em estrada de pista simples, acionar o botão “S” também vai muito bem, pois o carro fica sensivelmente mais responsivo, as reduções de marcha vêm com maior presteza e menor aceleração, e isso se reflete em maior segurança.
Acelerando a fundo, ele passa para marcha mais alta quando atinge 6.200 rpm, praticamente mil giros acima da rotação de potência máxima. Quando acionado o modo manual — o que se faz ao trazer por mais de 2 segundos a alavanca para a esquerda —, as marchas só são trocadas se comandarmos; e aí o motor atinge o limite de giros, 6.400 rpm, e o corte é sujo, começa a picotar, e ele mantém a marcha, não a muda, e isso é bom.
Parado, pé no freio ou freio de estacionamento puxado, e engatado, ele desacopla a embreagem. Tirando o pé do freio, após 2 segundos ele a acopla e o carro começa a se deslocar lentamente. Bom para manobras, bom para o trânsito engarrafado. Caso uma porta esteja aberta ele fica em neutro e não engata marcha. Caso uma porta se abra ele vai para o neutro. Concluindo, o Dualogic Plus da Fiat, que antes era aceitável, agora é desejável.
Eu já havia testado a Strada Adventure, mas com câmbio manual , e ela voltou a impressionar pelo bom acerto de suspensão. Corretamente equipada com bons pneus para asfalto, Continental Power Contact 205/60R16 — pneus de duplo-propósito só devem ser usados por quem realmente precisa encarar terra, já que no asfalto eles nunca serão tão bons quanto os “normais” —, ela tem um chão tão bom que custa acreditar que uma picapinha com essa tremenda altura do solo (194 mm) seja tão boa de curva. A frente entra rápido, mas sem exageros, e logo ela passa a se apoiar também com a traseira e segue equilibrada, agarrada e segura. É um prazer botá-la para fazer curvas, uma atrás da outra, trocando de apoio quase sem balanços da carroceria. Valente, segura e divertida. Não há o que pedir de melhoria quanto a isso, e só resta elogiar. E apesar de firme, como toda picape deve ser, a suspensão não é áspera. É agradável e nada cansativa. Tem barra estabilizadora só na dianteira. Mostra-se robusta e silenciosa.
Apertando a tecla Locker no painel, bloqueia-se o diferencial, e esse recurso lhe dá bastante eficiência para encarar difíceis lamaçais ou terreno muito desnivelado. Ela é aventureira de verdade, não é só visual.
O motor de 1,8 litro (1.747 cm³), que rende 132 cv a 5.250 rpm e 18,9 m?kgf a 4.500 rpm (álcool), dá e sobra para esta leve picape de 1.258 kg (só 5 kg mais pesada que a de câmbio manual). Segundo a Fiat, ela acelera de 0 aos 100 km/h em 10,3 segundos e atinge máxima de 179 km/h. Na prática do dia a dia, na estrada ela acelera com disposição e pouca bola dá para os aclives; sustenta velocidade praticamente sem que tenhamos que imprimir maior aceleração. Na cidade é ágil. Motor robusto, forte, elástico, e bom em giro alto.
Seu consumo está dentro do esperado para um motor dessa potência e cilindrada: ao redor de 7,5 km/l (álcool) na cidade e 9,3 km/l na estrada a 120 km/h reais. A essa velocidade e em 5ª marcha, o giro está a 3.500 rpm. Poderia ter uma relação final um pouco mais longa, pois o motor é parrudo e sustentaria isso com folga, mas está dentro do adequado. Vale mencionar que com o câmbio robotizado ela obteve comigo o mesmo consumo que com câmbio manual. Os 58 litros de capacidade do tanque lhe dão boa autonomia.
Os mostradores são facilmente lidos. A ergonomia é boa, só faltando que o volante, que tem regulagem de altura e distância, desça um pouco mais. Mesmo na posição mais baixa, continua alto. Dá para se acostumar com ele assim, mas se acostumar não é desejar. Sua assistência é hidráulica e seu peso é adequado.
Uma boa picape. Muito versátil, pois é boa na cidade, boa na estrada, boa para uma tocada esportiva, e boa para encarar as encrencas inerentes da lida no campo. Preço sugerido: R$ 64.530.
AK
Fotos: autor
FICHA TÉCNICA STRADA ADVENTURE 1,8 CD | |
MOTOR | |
Instalação | Dianteiro, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Ferro fundido / alumínio |
Configuração / n° de cilindros | Em linha / 4 |
Diâmetro x curso | 80,5 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.747 cm³ |
Aspiração | Atmosférica |
Taxa de compressão | 11,2:1 |
Potência máxima | 130 cv (G), 132 cv (A); a 5.250 rpm |
Torque máximo | 18,4 m·kgf (G), 18,9 m·kgf (A); a 4.500 rpm |
N° de válvulas por cilindro | Quatro |
N° de comando de válvulas /localização/acionamento | 1 / cabeçote /corrente |
Velocidade média do pistão a 5.250 rpm | 15 m/s |
Formação de mistura | Injeção eletrônica no duto |
Gerenciamento do motor | Magneti Marelli |
ALIMENTAÇÃO | |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Monodisco a seco, comando hidáulico |
Câmbio / rodas motrizes | Transeixo robotizado / dianteiras |
N° de marchas | 5 à frente e 1 à ré |
Relações de transmissão | 1ª 4,273:1; 2ª 2,238:1; 3ª 1,520:1; 4ª1,156:1; 5ª 0,872:1; ré 3,909:1 |
Relação do diferencial | 4,067:1 |
FREIOS | |
De serviço | Duplo circuito em diagonal, servoassistido |
Dianteiros | Disco de Ø 284 mm |
Traseiros | Tambor de Ø 228 mm |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor hidráulico e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo rígido de perfil Omega, mola de lâmina parabólica e amortecedor hidráulico |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência hidráulica |
Voltas entre batentes | 2,8 |
Diâmetro mínimo de curva | 11,3 m |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx16 |
Pneus | 205/60R16H |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.258 kg |
Carga útil | 650 kg |
Peso rebocável sem freio | 400 kg |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, picape 3-portas, 4 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 4.471 mm |
Largura (sem espelhos) | 1.740mm |
Altura | 1.640 mm |
Distância entre eixos | 2.753 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.469 / 1.430 |
Distância mínima do solo (vazio) | 194 mm |
CAPACIDADES | |
Caçamba | 680 litros |
Tanque de combustível | 58 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 10,6 s (G) / 10,3 s (A) |
Velocidade máxima | 179 km/h (G) / 178 km/h (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (NO TESTE) | |
Cidade | 7,5 km/l (A) |
Estrada | 9,3 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª (km/h) | 33,7 |
Rotação em 5ª a 120 km/h | 3.560 rpm |
Rotação à velocidade máxima em 5ª | 5.300 rpm |