O encerramento do teste de 30 dias do Etios foi, como já é rotineiro, a visita à Suspentécnica onde nosso colaborador Alberto Trivellato abre as portas de sua qualificada oficina para uma metódica análise do carro avaliado pelo AE. O padrão é sempre o mesmo: Alberto percorre alguns quilômetros ao volante precedidos de um giro ao redor do carro, momento no qual pouco ou quase nada fala e sim faz perguntas sobre a versão, preço, o consumo e o andamento da avaliação até o momento.
Entrando na “sala de diagnóstico”
Uma vez ao volante, ajustada a posição de dirigir, Alberto disparou: “que painelzinho, hein?” Tendo em vista os rios de tinta que já foram escritos sobre o tema – e também por ter o Etios 2017 recebido novos instrumentos – desnecessário reproduzir o julgamento negativo do colaborador. O melhor é dizer que bastaram poucos quilômetros para Alberto mudar o tom e elogiar o “shake” das suspensões, o equilíbrio entre o conforto, a sempre bem vinda maciez de rodagem e a estabilidade. Especialista em suspensão, Alberto Trivellato sabe bem como é complexo conciliar o funcionamento de molas e amortecedores, escolher a geometria adequada, fazer com que tudo isso “converse” bem com a estrutura do veículo e, por fim, atenda as condições de uso e usuários variados.
Na esburacadíssima São Paulo Alberto promoveu o Etios, capaz de absorver as irregularidades de maneira adequada, oferecendo bom conforto sem passar a desagradável impressão de que se acaso uma lombada ou valeta for encarada de maneira distraída o temido fim de curso e suas consequências ruins se apresentará.
Na via expressa, em velocidade semelhante à de rodovia, a simulação de uma rápida troca de faixa de rolamento o fez exaltar o equilíbrio do Etios, que mereceu também bom julgamento quanto à escolha da medida dos pneus, 185/60R15, apropriados ao piso degradado e a um carro que tem como destino ser uma ferramenta de trabalho e de transporte e que, portanto, prescinde de valorizar a moda que pede aros de roda cada vez maiores para uso de pneus de perfil cada vez mais baixo. Tal tipo de pneu acentua a esportividade, mas sofre em piso ruim, e pior que isso, fazem sofrer que está na cabine pela rigidez da carcaça e a ínfima absorção de irregularidades. Isso para não mencionar a fragilidade decorrente dos flancos baixos.
O bom ajuste de suspensões do Etios e a colaboração dos pneus de perfil 60, que ajudam na tarefa de filtrar piso ruim, resulta em conforto, ponto essencial para um modelo deste segmento.
Uma característica notada pelo colaborador foi a atuação das pastilhas de freio sobre os discos ser nitidamente audível, o que eu já havia mencionado em nossa segunda semana de convívio com o Etios. Para Alberto isso ocorre por um conjunto de fatores. Primeiro deles, o isolamento econômico da cabine que associado à escolha por pastilhas de material duro faz o atrito ser ouvido. Atenção: não se trata de chiado, como ocorre com pastilhas de freio de má qualidade, mas sim um baixo e plenamente suportável ruído, mas que chama a atenção. A suposição de nosso colaborador é que a Toyota optou por uma especificação de materiais para fazer com que a troca de discos e pastilhas ocorra “casadinha” em caso de uma utilização padrão. Quanto ao funcionamento, os freios do Etios, de acordo com o colaborador, suficientes, tanto na “mordida” inicial quanto na subsequente intensidade de frenagem, assim como o tato do pedal.
De volta à oficina, com o Etios no elevador, a análise das entranhas vem junto de uma afirmação enfática: “É mesmo um Toyota!” Alberto explica: segundo ele, Corolla, Lexus ou Etios, tanto faz, pois em qualquer um deles há a o DNA da engenharia da marca japonesa, que sempre enfatiza a racionalidade. Não há excessos. Em vez de soluções técnicas mirabolantes, ênfase na simplicidade funcional e na realização atenta. Aliás, “funcional é a palavra que o Alberto usa de modo recorrente para apontar itens cá e lá.
A suspensão dianteira McPherson conta com uma barra estabilizadora de grande diâmetro e todo o conjunto é fixado a uma estrutura que tem entre outros objetivos facilitar a montagem, solução que denota o projeto moderno. A boa organização dos componentes nesta parte do carro em que poucos de seus donos se preocuparão em colocar os olhos é evidente. A suspensão traseira por eixo de torção tem barra estabilizadora interna e, ao notar uma pequena peça plástica que protege os flexíveis dos freios traseiros, Alberto Trivellato afirma, “típico Toyota, um detalhe simples, aparentemente bobo, mas que mostra capricho e faz diferença.” Por outro lado, os conectores do sistema ABS dos tambores traseiros denotam que os freios receberam o sistema a posteriori, ou seja, os tambores são itens que provavelmente foram aproveitados e não especificamente projetados tendo em vista a instalação do sistema antitravamento (ABS) em 100% dos veículos, como manda a lei atualmente.
De volta à parte dianteira, a ausência de protetor do cárter permite observar catalisadores posicionados na saída de escapamento bem perto o bloco do motor, assim como o compressor do ar-condicionado de tamanho mínimo. Outro bom detalhe é o “raspador” colocado na extremidade inferior do para-choque dianteiro, uma peça plástica resistente que deveria ser padrão nos carros que rodam nas acidentadas cidades brasileiras.
Baixado do elevador, a análise do motor revela a existência de um robusto coxim ancorado a uma estrutura superdimensionada, um alternador de pequenas dimensões e, de um modo geral, a repetição do que se viu na parte inferior: simplicidade e funcionalidade. Nada de excessos ou desperdício, tudo bem organizado e objetivando valorizar praticidade seja ela de ordem construtiva ou aquela necessária à boa manutenção.
Alberto Trivellato finaliza seus comentários apontando as frestas entre as portas do Etios, coisa que em modelos mais caros e requintados são mínimas mas no menor dos Toyota vendido no Brasil tem dimensões generosas. É, segundo o colaborador, um padrão para carros de baixo custo que não obrigatoriamente deve ser interpretado como sinônimo de falta de qualidade, mas sim de um processo construtivo que visa baratear o veículo.
Ao final da visita à Suspentécnica o Etios sai com uma nota bem positiva. Nosso colaborador entende que em favor de custo de produção menores detalhes não fundamentais como a insonorização da cabine, a aparência de alguns plásticos e até mesmo o padrão de acabamento não sejam exatamente o máximo, mas reflete que pagar quase 60 mil reais por este pequeno sedã em versão Platinum não é o caso. Já que é para ser básico e essencial, a melhor compra será o mais barato dos Etios, opinião plenamente compartilhada por mim.
Resumo do Etios Platinum? Simples, essencial e funcional (lembro que não existe mais a versão; a de topo agora volta a ser a XLS). Economia de combustível é um ponto alto e a elasticidade do motor, impressionante. Gostoso de dirigir, é um carro perfeito para que pouco ou nada liga para elaboração estética ou requintes de acabamento e/ou materiais. Carro “de engenheiro” e não “de arquiteto”, se me entendem. Enfim, o Etios me fez torcer o nariz por vários motivos no começo do convívio, mas com o passar dos dias, o nariz endireitou e passou a farejar as qualidades práticas de um carro feito muito mais com o cérebro do que com o coração. Talvez nunca será unanimidade, um sucesso de vendas estrondoso, mas é um carro consistente, ideal para quem valoriza antes de mais nada a funcionalidade.
RA
Etios Sedã Platinum
Dias: 30
Quilometragem total: 1.979 km
Distância na cidade: 815,5 km (41,2%)
Distância na estrada: 1.163,5 km (58,8%)
Consumo médio: 11,5 km/l (gasolina)
Melhor média: 13,64 km/l (gasolina)
Pior média: 8,50 km/l (gasolina)
Litros consumidos: 172,41
Custo: R$ 620,50
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,31
Vídeo:
FICHA TÉCNICA ETIOS SEDÃ PLATINUM | |
MOTOR | |
Descrição | 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 16 válvulas, atuação direta, instalação transversal, flex gasolina-álcool |
Material do bloco e cabeçote | Alumínio |
Cilindrada | 1.496 cm³ |
Diâmetro e curso | 72,5 x 90,6 mm |
Taxa de compressão | 12,1:1 |
Potência | 92 cv (G) e 96,5 cv (A) a 5.600 rpm |
Torque | 13,9 m·kgf (G e A) a 3.100 rpm |
Formação de mistura | Injeção eletrônica seqüencial no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro de 5 marchas manuais, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,545:1; 2ª 1,913:1; 3ª 1,310:1; 4ª 0,973:1; 5ª 0,804:1; ré 3,214:1 |
Relação do diferencial | 3,944:1 |
SUSPENSÃO | |
DIANTEIRA | Independente, McPherson, braço triangular inferior, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora, com subchassi |
TRASEIRA | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Diâmetro mínimo de curva | 9,8 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
Controle | ABS e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 5,5J x 15 |
Pneus | 185/60R15 |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.265 mm |
Largura | 1.695 mm |
Altura | 1.510 mm |
Distância entre eixos | 2.550 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 980 kg |
Porta-malas | 562 litros |
Tanque de combustível | 45 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 11,8 s (G) e 11,3 s (A) |
Velocidade máxima (est., álc.) | 185 km/h (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL | |
Cidade | 11,9 km/l (G), 8,4 km/l (A) |
Estrada | 14,0 km/l (G), 9,3 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em 5ª | 34,8 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª | 3.450 rpm |
Rotação à vel. máxima em 4ª | 6.000 rpm |
GARANTIA | 3 anos ou 100.000 km |
TROCA DE ÓLEO/REVISÕES | 10.000 km ou 1 ano |