O que mais se comenta sobre o Toyota Etios 2017 são as mudanças no painel — o anterior era bastante criticado, por mim inclusive —, os motores 1,3-L e 1,5-L, que já eram bons e foram modernizados, e a transmissão, cujo câmbio manual passou de cinco para seis marchas, além de agora haver também opção de câmbio automático epicíclico de quatro marchas para as duas motorizações, até mesmo na mais acessível versão X 1,3.
Já para mim a mudança que mais agradou foi o que menos se comenta: o novo acerto da suspensão. O rodar ficou mais confortável sem perder em comportamento e, de certa maneira, este até melhorou. As mudanças nada tiveram de substancial, restringiram-se às buchas das suspensões dianteira e traseira e aos amortecedores dianteiros, que ganharam batente hidráulico no curso de distensão para evitar a desagradável pancada seca quando as rodas dianteiras “caem” ao transpor uma lombada mais rapidamente, e às molas, que tiveram sua constante alterada.
Todas mudanças benéficas, pois se a meu ver o Etios anterior não era merecedor do que chamo “carro realmente bom de chão”, agora passou ser um dos carros que mais me agradam dirigir — ou pilotar — entre os da sua categoria.
O Etios avaliado é o hatchback X 1,3-L de câmbio manual, que ainda não o havia sido “no uso”. Seu comportamento na reta está como o de uma flecha, firme em qualquer velocidade. Nas curvas de baixa ou de alta feitas com vigor ele logo se apoia com igualdade sobre os eixos. Não há a tendência, comum à maioria dos carros de tração dianteira, a sair de frente. Não, logo após a entrada da curva sente-se que a traseira também vem um pouco para fora, apoiando-se e ajudando na aderência, com a carroceria mantendo-se firme, sem oscilações. O resultado foi que ele, que era o que eu menos gostava em curvas — faço questão de frisar que é minha impressão pessoal — passou a ser o que, a meu ver, mostra o melhor comportamento da categoria . As curvas saem como feitas a compasso.
E note que o 1,3 X vem com estreitos pneus 175/65R14 (Pirelli Cinturato P1). O Etios com motor de 1,5 litro vem com pneus mais largos, os 185/60R15, que também seriam bem-vindos no de 1,3 litro, mas certamente deram preferência aos mais estreitos visando maior economia de combustível, por seu menor atrito de rolagem. Mesmo com esses pneus estreitos ele se agarra feito um leãozinho ao asfalto e faz curva feito carro de corrida. E previsível, sem surpresas, sem chicotadas de traseira, nada.
Subir a vazia serra Bertioga–Mogi das Cruzes numa segunda-feira foi prazer a cada curva, com ele rápido nas trocas de apoio, estável, sempre na mão. Tudo dentro do seu agradável ambiente arejado devido à linha de cintura baixa em relação ao teto, com grande área envidraçada, painel baixo, posição perfeita de dirigir.
O trambulador de câmbio é excelente desde o lançamento, com curso de engate curto e preciso, com uma rapidez que “chupa” a alavanca. A embreagem é leve (agora é de acionamento hidráulico), freios têm ótima modulação, a direção eletroassistida é relativamente rápida (relação 18,6:1) e tem bom peso em qualquer velocidade.
Aliado a tudo isso há o motor de 1.329 cm³ contribuindo com animação. Com 98 cv (álcool, 10 cv menos com gasolina) tem potência de sobra para acelerar os 955 kg do hatch, daí que na serra logo se alcança a próxima curva e lá vem mais freada leve — já que é só uma subida rápida, nada de corrida —, redução de marcha, entrar na curva agarrado ao chão… e tome acelerada.
Quem diria, não? Os carros, em geral, andam melhorando muito. O autoentusiasta curte, saboreia as sutilezas do bom comportamento, e quem não é autoentusiasta ao menos sente “um carro seguro nas mãos”.
O motor gosta de girar e ficou mais elástico, fruto de agora ter variador de fase na admissão e escapamento, além de novo coletor de admissão e taxa de compressão mais alta (ver detalhes na matéria do Bob quando do lançamento). O torque máximo mais alto agora, 13,1 m·kgf (álcool, com gasolina 12,5 m·kgf), mesmo à aparente elevada rotação de 4.000 rpm, com a variação de fase se faz presente em rotações mais baixas. Daí que o temperamento do motor é de autoentusiasta: forte o bastante até essa rotação e a partir daí o giro sobe como um motor de corrida. Pena o corte ser a baixas 5.800 rpm, muito longe do que mostra ter condições de ir com segurança. Sua potência máxima é a 5.600 rpm e o corte só 200 rpm acima da potência máxima me parece um cuidado exagerado.
O câmbio está muito bem escalonado, sem “buracos” e adequado para o conjunto motor-carro, como mostra o gráfico “dente de serra”. A 6ª é marcha adicional às cinco de antes, com ajustes mínimos na relações de 1ª, 4ª e 5ª, e portanto é um 5+E. Por exemplo, vai-se em 5ª até 120 km/h (4.300 rpm) e joga-se a 6ª para a rotação baixar para 3.100 rpm, e o motor que é suave e silencioso por si só segue quase inaudível nessa velocidade de viagem.
Talvez venham reclamações justamente dessa característica que o autoentusiasta aprecia, pois devido à última marcha longa, na estrada reduções são feitas com maior frequência do que se fosse um insosso câmbio de cinco marchas com 5ª de potência. Mas com certeza o leitor autoentusiasta há de gostar, mesmo porque trocar marchas no Etios é tão leve, fácil e rápido — mesmo trocas 5ª-6ª e vice-versa — que nem se percebe. E, claro, essa característica traz economia de combustível e conforto. Nota 10.
Com gasolina fez 10 km/l na cidade e 13,5 km/l na estrada. Na cidade é mesmo por aí, questão de trânsito, mas na estrada, sem as “exigências” de aceleração que uma avaliação requer, certamente ele fará algo acima dos 14 ou 15 km/l prometidos. Com álcool, na estrada, fez 11,2 km/l, melhor que o dado oficial. De qualquer modo, ele levou nota máxima nos testes do Inmetro, portanto econômico ele é.
Outro destaque do Etios é o grande espaço no banco traseiro, um dos melhores da categoria. Outro é a infinidade de porta-objetos, com aproveitamento de nichos, onde cada coisa tem seu lugar, um para o celular, outro para chaves etc. E outro, é que agora ele tem cinto de três pontos para o passageiro do meio do banco de trás, cuja ancoragem é no teto devido ao encosto rebatível. Ah! e agora tem Isofix para bancos de crianças.
Os novos instrumentos, apesar de terem um desenho colorido e um pouco estranho ao gosto ocidental, ao menos são perfeitamente legíveis, há regulagem da intensidade da iluminação e, finalmente, o útil computador de bordo.
Portanto, são bem-vindas as mudanças no Etios. Quem antes o dirigiu e não se enamorou, vale experimentar o novo, pois agora ele oferece muitos atrativos que lhe faltavam. Quem já se enamorava dele, se guiá-lo, principalmente numa boa estrada, muito provavelmente será fisgado. Ah, é nas estradas de terra ele também vai muito bem, pois a suspensão é robusta, silenciosa e macia.
AK
FICHA TÉCNICA ETIOS 1,3 HATCHBACK MANUAL 2017 | |
MOTOR | |
Tipo | 4 cilindros em linha, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, 16 válvulas,atuação indireta por alavancas roletadas com compensação hidráulica de folga, variador de fase admissão e escapamento, bloco e cabeçote de alumínio; transversal, flex |
Cilindrada | 1.329 cm³ |
Diâmetro e curso | 72,5 x 80,5 mm |
Taxa de compressão | 13:1 |
Potência | 88 cv (G) e 98 cv (A), a 5.600 rpm |
Torque | 12,5 m·kgf (G), 13,1 m·kgf (A), 4.000 rpm |
Rotação de corte | 5.800 rpm |
Comprimento da biela | 149,21 mm |
Relação r/l | 0,27 |
Formação de mistura | Injeção no duto |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Transeixo dianteiro de 6 marchas manuais, tração dianteira |
Relações das marchas | 1ª 3,538:1; 2ª 1,913:1; 3ª 1,310:1; 4ª 0,971:1; 5ª 0,818:1; 6ª 0,700 ré 3,333:1 |
Relação do diferencial | 3,944:1 |
SUSPENSÃO | |
DIANTEIRA | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal e amortecedor pressurizado, barra estabilizadora |
TRASEIRA | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado, barra estabilizadora incorporada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassisitida indexada à velocidade |
Relação de direção | 18,6:1 |
Nº de voltas entre batentes | 3,8 |
Diâmetro mínimo de giro | 9,6 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A tambor |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 5J x 14 |
Pneus | 175/65R14 |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 3.777 mm |
Largura | 1.695 mm |
Altura | 1.510 mm |
Distância entre eixos | 2.460 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 955 kg |
Porta-malas | 270 litros |
Tanque de combustível | 45 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 11 s (estimada) |
Velocidade máxima km/h | 172 km (calculada) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade | 12,6 km/l (G) e 8,6 km/l (A) |
Estrada | 14,2 km/l (G) e 9,8 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 6ª | 38,6 km/h |
Rotação a 120 km/h em 6ª | 3.100 rpm |
Rotação à vel. máxima em 5ª | 5.300 rpm |
Alcance nas marchas (5.800 rpm) | 1ª 44 km/h; 2ª 82 km/h; 3ª 120 km/h; 4ª 161 km/h |