É só olhar qualquer rua movimentada de Manhattan para ver passar um rio amarelo de táxis Toyota, Ford, Hyundai e às vezes Mercedes-Benz. Mas ainda é raro avistar algum táxi NV200, o carro que a Nissan Motor Corp. projetou especificamente por pedido da autoridade de táxis da cidade de Nova York.
Faz mais de três anos desde que Nova York concedeu à Nissan um contrato exclusivo para fornecer 100% de todos os táxis que seriam vendidos lá durante 10 anos. O contrato do “Táxi de Amanhã” do então prefeito Michael Bloomberg foi saudado pela Nissan como uma venda de US$ 1 bilhão. Tratou-se de raro monopólio aprovado pelo governo para o grande negócio dos táxis americanos que é Nova York, onde mais de 14.000 táxis rodam dia e noite pela cidade.
Porém até agora o fabuloso contrato deu poucos motivos para a Nissan festejar desde que passou a valer no ano passado. Agora, depois de marchas e contra-marchas, a Nissan está se preparando para relançar o táxi de Nova York, parte de seu enorme esforço de se tornar contendor no segmento de veículos comerciais americanos.
Disputas políticas e ações na justiça virtualmente impediram a estréia dos NV200 no final do ano passado. Um ano após a chegada dos NV200 amarelos não há mais que 500 deles nas ruas. Normas posteriores e pronunciamentos oficiais confundiram o mercado sobre o que fabricantes de táxis são obrigadas a fazer e se o NV200 continua a ser Táxi de Amanhã oficial ou mesmo se chegará a ser.
“Tem sido uma loucura,” diz Alex Chaoush, gerente de vendas de táxis de uma das estrelas do novo segmento de negócios da fabricante, a Koeppel Nissan em Jackson Heigths, perto de Queens. “O carro é ótimo. Mas ele tem sido alvo de política. Vendemos centenas deles este ano, mas estaríamos vendendo milhares hoje se as coisas ocorressem como deveriam.”
A Nissan parece estar agora se preparando para um relançamento nas próximas semanas, argumentando que a exclusividade para Nova York é dela por contrato legal, mas mesmo esse plano parece arriscado..
A Corte de Apelação do estado de Nova York concordou em outubro em acolher uma ação impetrada dois anos atrás pela Associação de Táxis da Grande Nova York, um grupo que se diz representar cerca de um terço de todos os proprietários de táxis da cidade.
A associação tem vários argumentos para deter o acordo com a Nissan. Suas ações acusam falam em:
– Os donos de táxis serão prejudicados financeiramente ao não poderem procurar preços competitivos nos vários fabricantes.
– A cidade não tem direito legal para executar o contrato.
– O NV200 é um veículo que não foi testado.
– O atraente teto panorâmico da van, para agradar turistas, é inseguro.
– Como fabricante japonês, a produção americana da Nissan é muito limitada para abastecer o negócio de táxis de Nova York.
O grupo contesta também que a cessão do contrato para a Nissan transgrediu as próprias regras do Táxi de Amanhã da cidade. A idéia de Bloomberg era a de um táxi que seria disponível com motorização híbrida. O NV200 não é, pelo menos por enquanto.
“Questionamos o plano todo desde o começo e eles não nos ouviram,” diz Ethan Gerber, um advogado do Brooklyn que representa a associação de táxis. “Veja, a Nissan é uma boa fabricante e o NV200 não é um mau carro. Se as pessoas gostarem dele, ótimo, ela deveria ser capaz de vendê-lo aqui.
“Mas por que não podemos ter concorrentes?” ele pergunta. “Por que a cidade achou que tinha de haver exclusividade? Isso elimina a concorrência e detém a inovação. Por que não poderíamos apenas ter normas para o táxi, e se a Toyota e Ford quisessem oferecer um veículo idêntico que poderia melhor de alguma maneira, por que não podem?”
A corte de apelação deverá decidir a ação na primavera. Até o próximo outono, dois anos do contrato de 10 anos da Nissan terá decorrido com incertezas. Um porta-voz da Nissan disse não estar claro se ao se resolverem finalmente os desafios legais isso permitiria à empresa reacertar o relógio para poder aproveitar os benefícios do período de 10 anos pretendido.
Objetivo maior
No grande esquema de venda de automóveis nos EUA, alguns poucos milhares de carros amarelos parecem não ser importantes. Isto é particularmente verdadeiro para a Nissan, em que a crescente demanda nos EUA está começando a causar problemas de capacidade da fábrica. Mas a Nissan quer ir mais longe.
Táxis são parte de uma iniciativa do presidente executivo da Nissan Motor Corp., Carlos Ghosn, para aumentar as vendas de veículos comerciais da fabricante nos Estados Unidos. A Nissan é um importante contendor nos veículos comerciais no mundo inteiro, mas não na América do Norte.
Ghosn e sua equipe de executivos nos EUA destacaram que tais veículos são uma óbvia oportunidade de negócio aqui. A van compacta NV200, do porte do Nissan Sentra, fora a versão táxi, tem vendido bem. Mais de 10.000 já foram comercializadas este ano, e mal começaram a ser vendidas com emblema General Motors como Chevrolet City Express.
Ghosn foi a Nova York em abril de 2012 para apresentar o táxi NV200 e participar de coletivas de imprensa com Bloomberg e outras autoridades da cidade. O executivo deixou claro que o táxi seria oferecido a outras cidades. Seria uma espécie de recompensa para os concessionários Nissan que investiram para se tornarem “concessionários VCL”, vendendo veículos comerciais leves da Nissan, com equipe de vendas dedicada e assistência técnica específica para tais veículos. Cerca de 300 dos 1.100 concessionários Nissan nos EUA se tornaram concessionários VCL.
No mês passado, Ghosn considerou o negócio de táxis paralisado de maneira otimista.
“Finalmente, estou vendo mais táxis Nissan em Nova York,’ disse no recentemente inaugurado escritório da Aliança Renault-Nissan em Manhattan. “Cheguei a pensar se isso realmente começaria algum dia.”
Ghosn: “não estou zangado”
Ghosn disse que não está zangado com a demora e confusão.
“Obviamente, sempre há decepção, mas creio que haverá bom senso,” disse. “Houve uma tentativa de derrubar o projeto. É sabido que vem ocorrendo essa batalha judicial. Mas a última decisão é de que estamos certos. Fizemos o que nos foi solicitado fazer.”
O assunto dos táxis surgiu em meio a uma concorrência iniciada em 2007 quando os planejadores da cidade pensaram em novos requisitos para os táxis. A administração Bloomberg pediu um veículo do século 21 para substituir a miscelânea de modelos antigos nas ruas da cidade. Tipicamente, veículos como Toyota Camry e Prius, Ford Escape e Hyundai Santa Fe são vendidos para operadores locais de táxis pelos concessionários de Nova York. São então modificados no mercado de peças de reposição com colocação de taxímetro e divisória de acrílico.
Bloomberg queria um visual homogêneo nas ruas para agradar os milhões de turistas e visitantes a negócios todos os anos. O Táxi de Amanhã teriam de ser mais espaçosos e ergonômicos e já virem prontos de fábrica. E haveria uma versão híbrida.
A Comissão de Táxi e Limusine da Cidade de Nova York, o órgão municipal que regulamenta a atividade, solicitou publicamente participações na concorrência em 2009. O mercado de automóveis estava mudando, Chrysler e General Motors estavam em dificuldades financeiras. A Ford decidiu descontinuar o Crown Victoria, seu principal modelo para esse mercado.
Em 2011, três finalistas estavam sendo considerados. Todos propunham uma van espaçosa e de baixo consumo. A Ford propôs seu Transit Connect, importado da Turquia na época. Coincidentemente, uma independente e pouco conhecida empresa turca chamada Karsan ofereceu seu modelo V1, que se propôs a produzir numa fábrica que construiria no Brooklyn. A Nissan ofereceu a NV200, a ser fabricada em Cuernavaca, no México. A Nissan assegurou que ela seria um passo adiante dos requisitos da cidade de uma opção híbrida ao criar uma versão apenas elétrica do táxi durante a vigência do contrato. (Automotive News/Bloomberg/Lindsay Chapell)
BS
Fotos: Bloomberg