Como meus leitores já devem ter percebido, sou uma pessoa bastante engajada e de posturas bastante claras na minha vida. Isso vale também para a política, embora nunca tenha me candidatado a nada e provavelmente nunca o venha a fazer, fora conselheira no meu prédio antigo por diversos anos. Mas algo que me incomoda bastante é quando alguém diz que é fácil reclamar, difícil é fazer. Ou questionam por que não damos sugestões em vez de questionar.
Bom, quem se candidata a um cargo, seja vereador, prefeito, presidente da República ou mesmo síndico de edifício, o faz por vontade própria. Ninguém é obrigado a isso e em quase todos os casos é remunerado para tanto— os políticos, regiamente, diga-se de passagem. E sempre há apoio de diversos tipos: assessores, conselheiros etc. Ou seja, nós munícipes, cidadãos ou condôminos até podemos dar sugestões, mas em hipótese alguma somos obrigados a fazer isso. E podemos, claro, criticar. Evidentemente com respeito, dentro das normas e pelos canais adequados, mas é um direito que temos. Pessoalmente prefiro as críticas que me fazem ver meus defeitos e assim corrigi-los, aos elogios, que me envaidecem e logo os esqueço. Por sinal, vaidade é pecado em todas as religiões e humildade deve ser exaltada, especialmente quando é instrumento de mudança.
É claro que como pessoa engajada, mas principalmente bem informada, vivo dando sugestões em vários âmbitos. Só não gosto que me digam que não posso reclamar ou que devo dar sugestões — até porque na minha experiência a maioria das pessoas que diz isso sequer leva em consideração as sugestões dadas. É apenas “marquetingue”.
Isto dito, vão aqui algumas informações sobre uma iniciativa que poderia ajudar bastante o caótico e às vezes desnecessariamente travado trânsito no Brasil que foi tentado timidamente em algumas cidades mas precocemente abandonado. É claro que não é panaceia nem pode ser implementado em todas as vias, mas é relativamente barata e de excelentes resultados: a onda verde.
O princípio da onda verde é relativamente simples: uma série de sinais de trânsito (três ou mais) são programados de forma a permitir o tráfego contínuo numa determinada velocidade numa determinada direção principal. Simples e eficiente, traz diversas vantagens. Permite a fluidez do trânsito, reduz a poluição, o barulho, aumenta a segurança, diminui o desperdício de combustíveis pois reduz a quantidade de acelerações e freadas, diminui os acidentes de trânsito e permite maior tempo de travessia para os pedestres. Cidades como Copenhague, Amsterdã e San Francisco implementaram a onda verde com ótimos resultados inclusive para facilitar o fluxo de ciclistas. Em Viena, um painel avisa qual é a velocidade que deve ser mantida para que o fluxo seja mantido constante e não se pare nos sinais. Copenhague foi mais além e tem uma onda verde para veículos de emergência na cidade de Frederiksberg. Prático, não?
Os melhores resultados, é claro, são obtidos em cidades construídas planejadamente, com quarteirões regulares, mas não somente nesses casos. Em Buenos Aires funcionou durante um bom tempo mas por diversos motivos em algumas vias foi abandonado — há iniciativas para que seja retomada. Aquilo que a falta de planejamento atrapalha a tecnologia consegue compensar e sensores no chão (ou câmeras) podem alterar o sincronismo das sinaleiras. A foto de abertura dá um exemplo de onda verde, que pode trazer ótimos resultados.
Segundo os especialistas, quanto menores as distâncias entre os cruzamentos semaforizados, mais necessária será a sincronização, para evitar colisões, bloqueios de cruzamentos, como forma de melhorar a segurança e até mesmo evitar a impaciência ou o desrespeito da sinalização por parte dos motoristas. Generalizando, quando um semáforo se encontra em distância inferior a 400 metros em relação a outro a sincronização pode ser considerada obrigatória. Para distâncias entre 400 e 600 metros ela é extremamente recomendável e dependendo das características locais também pode haver necessidade de sincronização quando dois semáforos estiverem ainda mais afastados, como em vias de grande fluxo ou em rodovias.
É claro que há diversas variáveis envolvidas no cálculo de qual o intervalo em que os sinais devem abrir ou fechar. Em vias de mão única é mais fácil pois deve-se levar em consideração apenas o fluxo numa direção, mas em todos os casos usam-se três sistemas de sincronização básica: progressivo, simultâneo ou alternado.
Quando a via é de mão única, os semáforos indicam o verde de maneira sequencial progressiva – o primeiro abre e os seguintes alguns segundos depois, na sequência, equivalente ao tempo de percurso entre os cruzamentos. Em vias de mão dupla, o sincronismo deveria ser simultâneo, em alguns casos dando prioridade a um determinado sentido.
Em vias de mão dupla com dois cruzamentos adjacentes o mais indicado é o sistema alternado, em que cada semáforo do eixo principal tem uma cor — um verde, o outro vermelho para permitir que a onda verde se dê nos dois sentidos.
É óbvio que é impossível ter uma cidade real operando totalmente na onda verde. Acho que nem em Sin City seria possível, mas daria, sim, em bolsões ou em alguns eixos. Para mim, a programação dos semáforos lembra um pouco a dos elevadores nos prédios mais modernos. Eles podem até ser inteligentes, mas dependem de terem sido programados por alguém inteligente — se não do que adianta? Tem prédio em que os elevadores parecem a Esquadrilha da Fumaça. Sobem todos ao mesmo tempo, descem todos ao mesmo tempo. E as pessoas se aglomerando no saguão, esperando, esperando… Mesma coisa no trânsito. Mas para nossa felicidade temos computadores, modelos analíticos, matemática e até mesmo a velha régua de cálculo poderia ser usada. Basta saber e, principalmente, querer.
Mas também tem de haver monitoramento constante em campo. Não adianta os gestores (para usar uma palavra muito na moda) ficarem nos seus escritórios com ar-condicionado. Têm de ir às ruas e ver na prática o funcionamento da programação semafórica. E isso em dias diferentes e horários diversos. Conheço gente que pagou o mico de comprar imóvel em rua que tem feira por ter ido ver o apartamento apenas no domingo. E agora tem de acordar cedo na quarta-feira para tirar o carro da garagem, senão, só depois das 16 horas. E o trânsito muda muito nas férias escolares e nos períodos letivos. Também é importante analisar e relativizar resultados. Lentidão pode ser por causa de uma obra na via e não necessariamente mau sincronismo de sinal — e mudar a programação pode, sim, prejudicar várias vias no entorno quando apenas esperar a obra terminar pode ser mais produtivo. Analogamente, a abertura de uma escola, por exemplo, pode significar mudar o tempo de abertura de um sinal para permitir que continue existindo uma onda verde.
Recentemente vi uma explicação de como sincronizar sinais numa avenida que me pareceu bem simples de entender. Para uma velocidade constante de 60 km/h (é a velocidade máxima permitida nas avenidas, vejam bem, avenidas comuns, da cidade de Buenos Aires, que tem muitas pistas tipo marginal onde a velocidade é ainda maior), dividindo-se o trânsito em blocos de seis sinais. No caso de mão única, os sinais iriam mudando um depois do outro. No caso de mão dupla, simultaneamente, em blocos de seis. Assim, enquanto um bloco de seis fica vermelho. Assim, começando-se com o primeiro sinal verde, 1/6 do bloco 1 chega-se ao 6/6 do bloco sem problemas, a poucos segundos de ficar vermelho e ao passar para o bloco 2 mudam para o verde os seguintes seis sinais, e assim sucessivamente. A mesma coisa acontece com quem vem na mão contrária.
Mudando de assunto: Lembrei de um excelente filme mexicano chamado “Cinco dias sem Nora”. Como meu marido sempre achou cinco dias sem mim pouco (hehe), darei um tempinho a vocês para as celebrações momescas. Volto a escrever depois do Carnaval. Esquindô, esquindô e até dia 17 de fevereiro.
NG