Existe algo a respeito do Ano Novo que nos faz renovar as esperanças, olhar para frente com mente jovem e olhos atentos, ou mesmo simplesmente sonhar com uma realidade diferente e mais interessante. Para um entusiasta do automóvel, é claro que isto acaba gerando a ideia de comprar um carro novo.
Não é um impulso consumista para nós. Comprar um carro novo significa renovar a vida, começar de novo, renascer quase. Às vezes, ao trocar um carro velho por um novinho, significa exercitar o desapego, e deixar o velho companheiro ir para que algo novo possa acontecer conosco. Eu acredito muito nisso: temos que às vezes fazer algo que nem devíamos fazer, pelo simples fato de que se nos mantermos imóveis, tudo permanece igual.
Temos que nos arriscar, e deixar que coisas boas e ruins aconteçam. Afinal, é isso que chamamos de vida. Não é ficar no sofá em frente a uma segura tela de computador, celular ou TV. Viver pede coragem de arriscar.
E trocar de carro é isso para a gente. Não é querer mostrar ao vizinho que estamos bem, longe disso. Passamos muito tempo de nossa vida em nossos carros, e eles são os companheiros mais fiéis e confiáveis que podemos ter. Nos levam a qualquer lugar que escolhamos, nos esperam quietinhos em ruas escuras por quanto tempo for necessário, para depois nos levar de volta para casa. Carregam coisas, gente, bichos e tralhas diversas, sem nunca reclamar. Nos divertem, nos alegram, nos maravilham com sua capacidade dinâmica.
Carros são extremamente úteis e indispensáveis para uma vida feliz, independente e livre das amarras geográficas. E comprar um carro novo significa escolher um novo companheiro para isso tudo. Nos abre um leque de possibilidades deliciosas de se explorar. Sair de um carro esporte para uma van de 10 lugares? Tudo é possível, e a vida muda de forma clara com esta escolha. A vida muda! Não é incrível?
E é por isso que todo janeiro venho aqui colocar esta minha lista pessoal a você. Não é uma lista de melhores em termos absolutos, é apenas o que ando com vontade de comprar, dentro do que posso gastar, e do que preciso fazer com um carro. É uma lista pessoal, portanto. Por isso mesmo ela muda ano a ano, apesar de algumas condições permanecerem constantes.
Este ano, depois de dois anos de vacas magérrimas, espero realmente ser capaz de comprar um carro novo, trazendo a lista mais próxima para a realidade. O preço máximo possível não mudou: cem mil reais. O preço dos carros aumentou muito no último ano, mas não os salários, então o teto permanece. Com isto, um dos carros que mais desejava ano passado, a perua Golf Variant, teve que sair da lista deste ano (o fato de que não pode mais ser comprada com câmbio manual talvez ajudando neste ponto).
E as possibilidades são realmente inúmeras para o uso que farei deste teórico carro novo. Minha filha mais velha completa 18 anos em setembro, então ter três carros ao invés de dois como hoje parece uma boa ideia, pois nos livraria do enfadonho trabalho de “mãetorista”, de levar adolescente de cá para lá o tempo todo. Um carro com sete lugares ou mais também seria útil, visto que minha mãe agora mora perto, e nossos carros ficaram meio apertados com isso, fora que sempre temos visitas em casa, e andamos planejando algumas viagens com turma grande.
Em 2016 vendi meu Citroën Berlingo, e ando com saudade da versatilidade de um furgão misto passageiro/carga, também. Sempre paira na minha cabeça a vontade de trocar a minha perua velhinha (uma BMW 328i Touring 1996, se você chegou aqui pela primeira vez) em um certo Renault esportivo e novinho. Possibilidades aos montes, escolhas que influenciarão sobremaneira como será 2017 para os Oliveiras.
Carros são assim, parte integrante e indivisível de nossas vidas, e determinantes nela. Não existe outro produto de consumo em massa tão importante. Nem o celular, este revolucionário computador portátil pessoal, é escolhido com tantas repercussões na vida de uma família.
Mas voltando a lista: os preços dos carros realmente estão altos. Além da perua Golf, que não pode ser comprada por menos de 100 mil reais (!!!!), também não posso incluir um furgão de mais de sete passageiros na lista. Adoraria um Mercedes-Benz Vito (e mais ainda o Sprinter, que adoro desde que dirigi um pela primeira vez em 1995), mas ele está bem acima do preço máximo da lista. Quase, mas quase mesmo, coloquei o JAC T8 entre os 10, pois a R$ 96.990,00 estaria totalmente elegível. Mas não o fiz porque apesar do espaço e conforto exemplares, tem lugar somente para 7 pessoas. Bancos individuais são legais, mas uma van deste tamanho para mim deveria ter nove lugares, em três sofás, como a saudosa Kombi.
Gostaria muito também de ter colocado o 208 GT na lista. É um carro corajoso da Peugeot, que merece aplausos. Com o potente 1,6-litro THP e câmbio manual, é um carro esporte da melhor espécie, disfarçado de hatch pequeno. Mas a R$ 81.490 não consigo justificar a escolha. A este preço, tenho que comprar algo para a família, maior, infelizmente. Não que ele não valha seu preço (afinal, é cerca de 30 mil reais mais barato que o MINI de 3 cilindros), é apenas o fato de que eu, pessoalmente, não tenho um uso para justificá-lo.
Mas chega de preliminares e explicações; com você, em ordem crescente de preço (vindos do configurador nos sites dos fabricantes), os 10 melhores carros que posso comprar, ano-modelo 2017:
1) VW take up! (2 portas completo, R$ 39.990)
Como você sabe, nós aqui do AE adoramos o menor dos VW. Uma combinação incrível de simplicidade e qualidade num pacote pequeno, o carro é econômico e anda muito bem, em qualquer uma das versões que é oferecido, e tem a qualidade de construção que fez os carros alemães famosos. Muita gente acha-o pequeno demais; eu vejo minimalismo e simplificação com extrema qualidade.
O up! está nesta minha lista todo ano desde seu lançamento, mas costumava escolher a versão TSI, a mais potente. Este ano não; queria o duas portas, mais barato, com o pacote de conforto “completo”, que inclui todo o necessário: direção eletroassistida, ajuste de altura do banco e do volante de direção, ar-condicionado e travas e vidros elétricos. Ia usá-lo para ir trabalhar todo dia, guardando minha perua para quando fosse dirigir por prazer e para viagens com a família. Economia de combustível, conforto, e um excelente desempenho para um carro de um litro conferido pelo delicioso motor de três cilindros da VW. Fora que é um carrinho que duraria para sempre nesta função. O lado ruim é que é um carro só para mim, e, portanto, uma das mais egoístas escolhas desta lista.
2) Renault Sandero Expression 1,6 16v SCe (R$ 48.170)
A melhor coisa dos carros da corrente geração da família Sandero/Logan é uma coisa que o entusiasta preza muito: ajuste de suspensão. Sempre achei o compromisso conforto-estabilidade destes carros excepcional, fora do comum mesmo, em todas as versões. Os carros são firmes, e respondem aos comandos de direção de forma imediata e ágil, mas nunca com desconforto. Na verdade, o barulho de suspensão é baixo, e a absorção de impactos muito boa, fazendo-os carros bem confortáveis. Conforto e estabilidade costumavam ser mutuamente exclusivos, mas não mais.
A parte que não gostava eram os motores de 1 e 1,6 litro. Apesar de bons, não eram nada que merecesse atenção. Eram aceitáveis, mas não memoráveis. E o acionamento do câmbio manual (o único que considero em carros deste tipo), apesar de também bom, não estava no nível de alguns concorrentes.
Mas agora, com a nova família de motores de de três (1 litro) e quatro (1,6 litro) cilindros, modernos e mais potentes e econômicos, junto com novo acionamento por cabos da alavanca, fizeram dos Sandero/Logan carros difíceis de resistir.
Grande o suficiente para ser o único carro da família, o Sandero ainda por cima é vendido a preços altamente competitivos. Uma escolha racional e também emocional.
Pena não existir uma versão perua…
3) Peugeot Partner (R$ 48.885)
Tem um monte de gente que anda por aí de picape pequena derivada de carro, as Saveiro/Montana/Strada, como seu carro do dia a dia. Se você costuma carregar coisa alta de vez em quando, como geladeiras e armários, tudo bem. Mas se não, eu tenho uma escolha meio não convencional e excêntrica, mas que acho bem mais útil e legal: o Peugeot Partner.
Desde que vendi meu Berlingo, me espantei de como tenho saudade não de sua praticidade óbvia, mas de dirigir o carro. Um furgão de entrega de baguetes não tinha o direito de ser tão divertido de dirigir, mas este é. Infelizmente, não são mais fabricadas versões de passageiros, mas isto não me impediria de mesmo assim comprar um furgão de carga para meu uso diário.
Com o mais moderno 1,6-litro 16V de 113 cv da Peugeot (meu Berlingo tinha um antigo 1,8-litro 8V de 90 cv), é um carro delicioso de dirigir, e posso levar cargas variadas protegida de chuva lá dentro. Carrega 800 kg, o que até pouco tempo atrás era carga de picape média com chassi. Eu gosto muito de van, e certa vez até contei o porquê aqui no AE.
O meu furgão, obviamente, ganharia logotipos do AE dos dois lados , gigantes, e serviria, de quebra, como um ótimo apoio para nossos testes e filmagens. Mas de novo, seria uma escolha só para mim, egoísta…
4) VW Gol Highline 1,6 manual (R$ 56.030)
O Gol é um carro meio fora de moda, depois de literalmente décadas — 27 anos — de liderança do mercado. A maioria das pessoas que o comprava hoje compra o Onix ou o HB20, o que nos faz ver claramente o fardo da liderança; sempre tem gente fazendo coisa mirando em você, e inevitavelmente acabam acertando. É também um carro pequeno, bem no limite do aceitável para minha família hoje. Além disso, a mais de 50 mil reais nesta versão que escolhi, é um carro difícil de justificar, usando a lógica apenas, para a garagem Oliveira. Mas nada disso importa.
Outro dia o JJ passou em casa com um Voyage Highline de teste, e andar com ele me fez lembrar o porque gosto tanto do Gol. E esta versão topo de linha é de extremo bom gosto, das rodas ao acabamento interno, me fazendo esquecer totalmente do preço.
Eu simplesmente adoro dirigir o Gol. É um carro em que eu me sinto em casa, que me diverte andando rápido, que tem motores que soam bravos, nervosos, quando se esgoelam eles, mas ainda assim são tratáveis e suaves andando na boa. Tem uma direção precisa, bancos bons, posição de dirigir ótima, estabilidade de tirar o chapéu. O câmbio é uma delícia de usar, os instrumentos legíveis e instintivos, e o novo painel com central de entretenimento moderna trouxe o carrinho finalmente a 2017.
É um carro sólido e muito bem projetado, que dá gosto de usar, e que seria simplesmente irresistível para mim, que não gosto de sedãs, se existisse ainda na saudosa versão Parati.
5) Renault Sandero R.S. 2,0 (R$ 62.500)
Andando com o meu amigo Milton Pecegueiro em seu Focus Mk1 de pista (veja aqui), naquele papo besta que embala momentos assim, acabei confessando para ele um velho desejo inconfessável, que me incomoda desde que o Sandero R.S. foi lançado: vender minha perua BMW velhinha, pegar o dinheiro e dar de entrada num desses Sanderos possuídos pelo capeta. O Milton, para minha surpresa, foi totalmente a favor da ideia, ao contrário da maioria dos meus amigos, que retraem de ojeriza à mera menção de vender a perua, e ainda mais se for para trocá-la por um Sandero. E isto, é claro, porque não sabem o quão bom é o Sandero R.S. Finalmente alguém me entende.
Segundo o Milton, o R.S., saído da concessionária, aguenta quatro horas de ritmo forte em pista, sem modificação nenhuma, e sem cozinhar os freios. Incrível. Um carro de corrida, mas que é tratável, relativamente confortável, e tem espaço interno para ser o único carro de minha família se fosse necessário. Um carro de corrida que pode ser usado todo dia, e um com central multimídia, ar-condicionado, e conforto no uso. Um carro de corrida com garantia de fábrica. Um sonho.
Nada de ficar pesquisando pastilhas de freio melhores, fluido de freio especial, amortecedores e barras estabilizadoras melhores. A fábrica já fez tudo isso para você, o carro está prontinho, do jeito que você gosta. E com reposição! Acabou pastilha de freio? Compra outra na concessionária, no momento da revisão. Para quem passou a vida tentando melhorar seus carros de rua, com peças exóticas e difíceis de achar, e com resultados incrementais apenas, é um sonho.
Eu coloquei este carro nesta lista todo ano desde que foi lançado, mas agora, mantendo o seu preço baixo enquanto todo mundo sobe, anda realmente irresistível. Se vendesse a perua hoje, pagava o resto do Sandero em 36 vezes sem juros. Apenas a inexplicável ligação sentimental que tenho com esta velha BMW me impede de fazer isso imediatamente, antes que esta situação perfeita vire a proverbial abóbora.
6) Chevrolet Spin LTZ (7 lugares, manual 6 marchas, R$ 68.390)
Outro dia escrevi longamente a surpresa que tive ao dirigir um Spin de sete lugares com o câmbio manual. Basta dizer para resumir que a simples troca do câmbio automático mais comum por um cinco marchas manual de relações próximas (o carro que dirigi era 2016, cinco marchas) transformou o carro de um letárgico movedor de pessoas em um improvável furgão esportivo, muito gostoso de dirigir à moda.
A versão 2017 recebeu um novo motor, ainda derivado do antigo e com 8 válvulas, mas bem mais moderno, econômico e suave, e um câmbio manual de seis marchas, além de uma série de outras melhorias em aerodinâmica e redução de massa, para melhorar sobremaneira a economia de combustível. Se estas mudanças mudaram a personalidade “esportiva” do Spin manual ou não, ainda não sei. Vamos ter que esperar uma avaliação nossa.
Mas mesmo que o carro tenha sido “amansado”, não o retiraria da lista deste ano. O Spin é uma combinação hoje quase única de espaço e conforto por um preço razoável.
Sim, o banco da 3ª fileira é para crianças, e diminui o espaço de porta-malas. Mas para quem precisa de sete lugares eventualmente, e mais espaço sempre, juntos ao conforto de marcha, a segurança de um ajuste de suspensão firme e confiável, e um motor extremamente suave, é simplesmente único. Um carro que tem grande chance de ser o novo carro de minha esposa este ano. E antes que digam algo, neste caso nem ligo se parece uma capivara gigante!
7) VW Golf Comfortline 1,0 TSI (R$ 74.990)
Já que não pude colocar a perua Golf na lista deste ano, e não quis colocar o up! TSI nela, nada mais justo que esta versão do Golf cobrisse ambas as lacunas de uma só vez.
O Golf com o tricilíndrico de 1 litro turbo é um carro que me agrada de muitas formas diferentes. É um carro que pode ser o único da família. É potente o suficiente para divertir (125 cv com álcool), tem câmbio manual de seis marchas, e é um Golf, com tudo de solidez e confiabilidade, unido a um chassis de primeira linha, que isso traz. E por fim, é econômico, e nem é tão caro olhando-se os preços atuais.
Outro forte candidato a entrar na garagem este ano.
8) Renault Duster Oroch 2,0 Dynamique manual (R$ 77.790)
Este carro estava na lista do ano passado, e volta de novo em 2017. A combinação de suspensão independente nas quatro rodas bem ajustada, com longo curso e pneus grandes em diâmetro, monobloco, e câmbio manual, me faz pensar que sou Ivan “Ironman” Stewart enquanto dirijo pela cidade, obliterando quebra-molas e outros dejetos viários como se não existissem.
Não acho o Oroch um carro bonito, mas é extremamente versátil como veículo familiar e/ou de carga, sem as desvantagens do chassis separado que sempre me mantiveram longe das picapes cabine dupla tradicionais. E ao contrário da mais bonita Toro, pode ser comprada com câmbio manual.
9) Honda Civic Sport (manual, R$ 87.900,00)
Ah, o novo Civic. Não sou um fã de todo Civic já criado, mas este realmente me impressionou, principalmente nesta versão básica, com motor aspirado de 2 litros e câmbio manual de seis marchas.
É um carro moderno, com um desenho extremamente original e bonito. É grande, mas não parece algo letárgico; na verdade parece pronto para andar a 300 milhas por hora em Bonneville salt flats. Parece rápido, mesmo parado.
O Civic básico me lembra muito o meu saudoso Cruze hatch básico. Um desenho inspirado, novo, bravo, em um carro básico com tudo que o entusiasta precisa: câmbio manual, um motor girador, e suspensão e freios aptos ao andar rápido. Mas o Civic anda bem mais que o meu Cruze, fazendo o 0-a-100 perto de oito segundos, o que é ótimo para um carro assim.
E o novo Cruze?— você perguntaria. Apesar de teoricamente melhor em tudo se comparado ao Cruze anterior, tem um desenho mais derivativo e menos inspirado, que lembra um Civic. Da geração passada! E não existe uma versão manual, nem com motor aspirado.
Ok, um monte de subjetividade aqui, mas fazer o quê… Comprar carro é assim mesmo, cheio de julgamentos e vontades puramente pessoais. E eu simplesmente adoro o novo Civic, pelo desenho acima de tudo, mas também porque é a reedição 2017 de meu Cruze hatch 2012: um carro de família que não parece carro de família, e que não sacrifica esportividade para ser o que é.
10) Fiat Toro Freedom 2,4 16V AT9 (R$ 98.730)
A Oroch provavelmente é o melhor carro para mim, se fosse comprar mesmo uma picape de cabine dupla. Mais barato, câmbio manual… Mas nem só de lógica se fazem compras de automóvel. Graças a Deus, ou estaríamos todos dirigindo Uno Mille com ar-condicionado para todo o sempre.
O caso é que acho o Toro exatamente 4.982.734.276 vezes mais bonito que o Oroch. Acho realmente bem resolvido, principalmente olhando de perfil, e o tratamento dado às colunas C (traseiras). Apenas o preço, bem mais em conta no caso da Oroch, faria o pêndulo pender para o lado do Renault.
O câmbio automático de nove marchas é moderno e bom, e o novo motor de 2,4 litros me parece mais condizente para o tamanho do carro que o 1,8-litro. A capacidade de fazer quebra-molas desaparecerem, e a versatilidade de ser uma picape cabine dupla, também fazem parte da Toro.
Simples assim, por achar mais bonito, provavelmente compraria esta Toro se fosse comprar uma picape. As feias que me desculpem, mas como famosamente disse o poeta, a beleza ainda é, e sempre será, fundamental.
MAO