A Nissan desenvolveu um carro elétrico que seria o melhor dos mundos para o Brasil: elétrico, sem baterias e abastecido com álcool.
O futuro do automóvel é um tabuleiro de xadrez com dezenas de alternativas entre as diversas possibilidades de fontes energéticas, legislações que mudam em cada país e múltiplas tendências de motorização. Fato inegável é que o motor a combustão tem seus dias contados e será substituído pelo elétrico. Uma solução transitória entre ambos é o automóvel híbrido. Mas, apesar de já ter vendido cerca de dez milhões de unidades, tem custo elevado (pois tem dois motores) e só se viabiliza com subsídios do governo.
Já não se discute que o automóvel com motorização elétrica é caminho sem volta por três motivos:
1 – A ineficiência do motor a combustão interna;
2 – O combustível fóssil não dura eternamente;
3 – As exigências da redução de emissões.
Por outro lado, por mais que as baterias estejam sendo aperfeiçoadas, continuam sendo um entrave à produção em massa do carro elétrico, também por três motivos:
1 – Autonomia limitada;
2 – Tempo de recarga longo;
3 – elevado custo de substituição.
Além disso, se por um lado o motor elétrico não polui, as fontes de produção da energia para recarregar suas baterias nem sempre são “limpas” e muitas vezes são geradas por fontes fósseis.
Mas carro elétrico não tem necessariamente que ser movido por baterias e há quem aposte numa outra solução para movimentar seus motores: a geração de energia elétrica no próprio automóvel, através da célula (ou pilha) a combustível, a “fuel cell”. Seu tanque é abastecido com hidrogênio e este levado à pilha onde, num processo eletroquímico, produz energia elétrica que traciona o carro. O resíduo da reação, que sai pela descarga, é água pura, potável.
Não se trata de imaginação ou sonho de cientista maluco: este carro já existe e é oferecido em alguns mercados por três marcas asiáticas: Toyota (Mirai), Honda (Clarity) e Hyundai (New Tucson). Seu uso é limitado pela escassez de postos que fornecem hidrogênio, mas estes vem crescendo rapidamente em vários países europeus, asiáticos e nos EUA. O Japão é o país onde mais se incentiva esta tecnologia e — só em 2016 — implantou equipamento de fornecimento de hidrogênio em mais 100 postos. Esta crescente capilaridade estimula outras fábricas a produzir em série seus automóveis com esta tecnologia.
Boa notícia vem de outra japonesa: a Nissan foi além e desenvolveu um carro com célula a combustível que não se abastece com hidrogênio (de produção e armazenamento complexos), mas com álcool.
Este carro da Nissan (foto de abertura) ainda é um conceito e esteve no Brasil, para demonstração, no ano passado. Uma reação química (num dispositivo chamado “reformador”) extrai então o hidrogênio do álcool, para alimentar a pilha a combustível.
Claro que esta operação tem custo ainda mais elevado que o carro abastecido com o hidrogênio, pois exige mais um equipamento, o reformador. Mas é uma solução viável, economicamente. Este carro da Nissan é o melhor dos mundos para o Brasil, pois está atrelado ao futuro por ser elétrico, de elevada eficiência e “limpo”. Sem as desvantagens do elétrico movido por baterias nem a complexidade logística para se implantar uma rede de distribuição de hidrogênio. Além disso, o quilômetro rodado custaria menos que a metade de um veículo dotado de um moderno motor a gasolina.
Não se trata de uma solução imediata, pois há várias barreiras a serem vencidas pelo carro do tipo “fuel cell” e outras tantas para abastecê-lo com álcool. Mas, vencidos estes obstáculos, o Brasil seria um dos únicos países do mundo pronto para adotá-lo, pois já conta com uma eficiente e gigantesca rede de postos com bombas de álcool.
BF