Motorista fiel à gasolina ficou em dúvida depois do sobe e desce do seu preço (mais sobe que desce…) nas últimas semanas e se distanciando do custo do álcool.
A expressão “perde-ganha” é perfeitamente aplicável às vantagens e desvantagens de se abastecer o carro flex com o derivado do petróleo ou da cana. Mesmo celebrando 15 anos de lançamento no Brasil, o motorista ainda vacila ao abastecer, principalmente quando há variação de preços nos postos. Esta é uma das questões campeãs no ranking dos e-mails que recebemos diariamente.
Gasolina – Sua indiscutível vantagem é seu consumo inferior ao do álcool. Não representa necessariamente um custo menor por quilômetro rodado, pois ele é — geralmente — compensado pelo preço proporcionalmente inferior do derivado da cana. Mas a consequência direta é proporcionar maior autonomia, ou seja, reduzir as paradas para abastecer. Vantagem que se percebe principalmente na estrada, onde o motorista é forçado a parar em postos desconhecidos.
Álccol – Graças à sua elevada octanagem equivalente de 113 octanas RON (equivalente porque o álcool não tem a iso-octana), permite que o motor tenha maior taxa de compressão, aumentando sua eficiência térmica. Em outras palavras, mais potência e torque nas rodas. Outra vantagem é seu reduzido teor de carbono, cerca de 1/3 da gasolina, que o torna mais “limpo”. Usado num motor flex, dificilmente ocorre a formação de depósitos carboníferos no interior da câmara de combustão e cabeça do pistão), como na gasolina. O que explica também a necessidade de aditivos no derivado do petróleo serem desnecessários no da cana.
Outra vantagem do álcool é ser mais “ecológico”: apesar de sua combustão também emitir CO2 (dióxido de carbono, o gás que contribui para o efeito estufa que por sua vez causa mudanças climáticas), este é absorvido do ar pela cana de açúcar no campo durante seu crescimento. Então é uma equação que quase se anula no final das contas. Ao contrário do carbono do petróleo, buscado no fundo da terra ou dos mares e lançado no ar que respiramos como resultado da combustão de seus derivados.
Em compensação, o consumo do álcool é cerca de 25% a 30% superior ao da gasolina, obrigando o motorista a parar mais vezes para abastecer. O flex ainda é uma adaptação do projeto para o motor a gasolina, pois não compensa investir centenas de milhões de dólares num motor (a álcool) apenas para o Brasil. Quando for viável desenvolver um projeto específico, é quase certo que os números de consumo dos dois combustíveis serão mais próximos.
$$$$$ – O motorista pode não se importar com potência, autonomia nem meio ambiente, mas somente pelo custo do quilômetro rodado. Em outras palavras: “Qual dos dois representa menor despesa no final do mês?”.
Neste caso, só fazendo as contas. Em termos financeiros, o álcool é mais vantajoso se custar até 70% a 75% do preço da gasolina. Para se ter ideia do percentual exato, só avaliando o consumo de cada carro com os dois combustíveis. Durante muitos anos se convencionou estabelecer o percentual de 70%. Entretanto, com o desenvolvimento dos motores e a elevação do teor de álcool na gasolina para 27,5%, ele pode chegar a 75%. A conta é dividir o preço do litro de álcool pelo do litro da gasolina: se o resultado for 0,75 ou menos, o álcool é mais vantajoso em custo x distância.
“Mezzo a mezzo” – Existe também uma teoria de que a melhor fórmula para se abastecer um carro flex é dividir o tanque entre gasolina e álcool: 50% de cada. Nesta solução “em cima do muro”, o motorista usufrui das duas vantagens. Ganha um pouco de desempenho com o álcool sem perder muita autonomia ao manter 50% de gasolina no tanque.
Partida – Vários carros flex ainda utilizam o sistema de partida a frio, que é a injeção de gasolina, contida num pequeno reservatório no compartimento do motor, utilizada nos dias mais frios se o tanque estiver abastecido com álcool. Pode apresentar problemas com o envelhecimento da gasolina (após um ano) ou a central eletrônica de gerenciamento do motor não reconhecer a presença de álcool no tanque. Ou a bombinha elétrica que injeta gasolina estiver pifada. Carros flex com projetos mais modernos resolveram o problema da partida em dias frios aquecendo o álcool. Ou contam com a injeção direta de combustível, que dispensa qualquer sistema de ajuda. Outra dica: motoristas que só abastecem com álcool costumam, no inverno, adicionar cerca de 10% de gasolina no tanque. A partida a frio fica mais fácil.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
(Atualizada em 13/10/18 às 20h30, correção do cálculo para escolher gasolina ou álcool)