São nomes ainda pouco conhecidos no Brasil, mas em breve isso deverá mudar: engenheiro mecânico, ex-piloto e atual executivo-chefe do Autódromo Internacional de Portimão, Paulo Pinheiro está em negociações avançadas para garantir o retorno do GP de Portugal (foto de abertura) no próximo mês de outubro. A data-limite para bater o martelo é o dia 15 de julho, mas poderá acontecer antes disso, segundo declarações do próprio Pinheiro ao programa “Conversa de F1” transmitido no último domingo pelo canal Eleven Sports de Portugal. A última vez que o país fez parte do calendário da categoria foi em 1996, quando o canadense Jacques Villeneuve venceu a prova disputada no Autódromo do Estoril.
Se os números do GP do Brasil são guardados a sete chaves e os contratos mantidos sob sigilo (ainda que envolvam órgãos e verbas públicas), Paulo Pinheiro explicou detalhes sobre a negociação e as condições para realizar a prova portuguesa, processo iniciado há dois anos e que teve como espécie de padrinho o inglês Charlie Whiting. Após vistoriar o autódromo, o inglês — que faleceu em Melbourne no dia 14 de março de 2019, três dias antes do GP da Austrália — escreveu em seu relatório que Portimão merecia ter uma prova de F-1. Há poucos dias a Federação Portuguesa de Automobilismo e Kart (FPAK) oficializou junto à Federação Internacional do Automóvel (FIA) a disponibilidade de receber uma etapa do campeonato. Se isto vier a acontecer essa corrida ocupará três semanas do calendário da pista (a corrida nacional ocupa mais que o dobro desse tempo) e mais algum tempo para recapear o traçado. Detalhe importante é que Pinheiro não está disposto a pagar o hosting fee, taxa cobrada pela Liberty Media ao promotor que deseja realizar uma prova, taxa que o empresário português diz variar de país para país:
“O preço dessa taxa começa em torno de US$ 30 milhões e pode ultrapassar quatro vezes esse valor. No nosso caso, já deixamos claro que não temos como bancar esse custo mínimo, que inviabilizaria o evento.”
De acordo com o empresário, receber a F-1 no circuito do Algarve implicará em um investimento mínimo em torno de US$ 7,5 milhões para reasfaltar o traçado de 4.684 metros (extensão da variante Grande Prêmio), indenizar quem alugou o autódromo e não poderá realizar o evento programado e deixar de operar a pista nesse período. Entre os eventos afetados está o Algarve Classic Festival, encontro de carros clássicos previsto para 23 a 25 de outubro e, muito provavelmente, a etapa final da European Le Mans Series (1º de novembro). A proposta econômica dos proprietários do autódromo que é considerado Grade A que pela FIA e, portanto, pode receber provas de F-1, é bem sensata:
“Nós não vamos pagar para receber a F-1. O que propomos é um modelo econômico equitativo para as partes. Podemos alugar a pista para a Liberty Media ou dividir os lucros de bilheteria e, possivelmente, de catering. Eu quero trazer a F-1 para Portugal, mas não quero ter prejuízo com isso.”
Há estudos e demanda de público que justificam essa última hipótese: logo que que surgiram os comentários de que Portimão poderia promover o GP de Portugal, o escritório da pista recebeu cerca de mil e-mails consultando sobre preços dos ingressos e até um telefonema significativo. Do outro lado da linha alguém perguntava o endereço bancário do circuito e quantos ingressos estariam garantidos com um depósito de € 5 mil. Pinheiro trabalha com a possibilidade de ocupar um mínimo de 30% das arquibancadas, ou seja, 21.882 lugares da capacidade máxima que é 72.942 pessoas. Sujeito às limitações sanitárias em vigor, esse número poderá chegar até 65% ou 47.412 espectadores. É da renda gerada nas bilheterias que sairão os gastos citados, incluindo uma camada asfáltica de 4 cm para deixar a pista em condições de receber a F-1.
O balanço do Autódromo de Portimão em 2019 mostra números sadios: os 330 dias nos quais foi utilizado garantiram o faturamento bruto de € 14 milhões, equivalente a R$ 82 milhões na conversão direta. Realizar o GP este ano é parte de um plano que tem como metas futuras deixar o circuito como pista-reserva no calendário de 2021 e convencer as equipes a realizar testes de pré-temporada no traçado do Algarve, região famosa por ter o inverno menos rigoroso da Europa.
O dia 15 de julho, a terça feira após o GP da Styria (segunda prova das duas confirmadas para o circuito de Spielberg) é a data-limite para pôr em marcha o processo que permitirá a preparação ideal e garantir que Portugal receba a F-1 este ano. Ao contrário do publicado em sites europeus e que apontavam um fim de semana em setembro como possível data, Pinheiro deixou claro que o ideal para ele é realizar o GP em outubro. Demais pistas europeias passíveis de receber a F-1 este ano são Mugello (Itália), Hockenheim (Alemanha) e Sochi (Rússia), a primeira delas possivelmente no domingo seguinte à etapa de Monza, já confirmada para o dia 6 de setembro. As demais preencheriam os seis finais de semana entre 20 de setembro e 25 de outubro. Uma rodada dupla na China, algo possível também em Sochi, e provas no Bahrein e Abu Dhabi preencheriam uma agenda de até 16 provas nesta temporada.
Tal qual Ross Brawn declarou recentemente, Pinheiro também não vê grandes possibilidades de que os GPs previstos para o continente americano se realizem neste ano. Consultado ontem sobre a situação da corrida de Interlagos, o assessor de imprensa da prova, Castilho de Andrade, informou que a venda de ingressos para o evento começará assim que o calendário for definido e que, em função disso serão reiniciadas as negociações sobre a renovação do contrato para garantir a manutenção dessa prova no calendário a partir de 2021. Comenta-se que esta agenda deverá ser anunciada no GP da Áustria.
WG