A chuva e frio não surpreenderam ninguém no último fim de semana em Spa-Francorchamps (foto de abertura), mas a decisão de encenar uma corrida de duas voltas para justificar a outorga de pontos teve efeito mais contundente. O que também surpreende, em parte, é a decisão da Federação Internacional do Automóvel (FIA) e da Fórmula 1 em admitir que as regras aplicadas nesse episódio devem ser revistas para evitar a repetição desse fiasco, atitude que lembra o ditado que envolve casa arrombada e tranca nas portas. Os organizadores locais foram os primeiros em levantar a bandeira de defender os interesses dos espectadores, tema que será conversado entre essas três partes nos próximos dias. No Brasil, os preparativos para o GP de São Paulo começam na segunda-feira 6 de setembro: a partir dessa data o autódromo de Interlagos estará interditado para obras de remodelação até 14 de outubro, quando a FIA assume a operação do circuito.
Há muito tempo que o regulamento exige o mínimo de duas voltas completas para garantir 50% da pontuação normal, porém só após o fiasco de domingo as autoridades e promotores admitiam discutir como agir em uma situação como a do fim de semana. Como a coluna publicou na semana passada, o clima na região das Ardenas nesta época do ano é famoso pela variação constante e predominância de frio e chuvas de intensidade variável. Se é verdade que nem sempre são tão fortes quanto a que caiu no domingo, também é verdade que não se tem notícia de um plano de contingência para situações como a que se viu no fim de semana. Após a prova os organizadores do GP da Bélgica tomaram a liderança no processo de compensar os espectadores.
Em entrevista ao portal dhnet.be Vanessa Maes, líder do comitê organizador do evento, se pronunciou, às lágrimas, sobre o que se viveu: “E difícil falar neste momento. A Spa GP (empresa que organiza a prova) gostaria de expressar sua mais profunda decepção com o resultado do GP. (…) A saúde do nosso público é primordial, assim como a dos pilotos. Nos próximos dias vou discutir a administração da Formula 1 sobre como podemos oferecer uma compensação aos nossos espectadores.“
O australiano Michael Mais, diretor de prova da F-1, admitiu em declaração à revista Autosport, que as soluções adotadas não foram as melhores: “O regulamento estipula que após algumas voltas completadas você pode considerar que houve uma corrida, mas eu acho que isso deve ser revisto. Não vejo quem possa argumentar que havia condições de segurança para realizar a prova, mas temos que ter uma solução melhor, enquanto esporte, para situações como essa. Quando situações desse tipo ocorrerem a solução não deve ser uma corrida de três voltas atrás do Safety Car.”
Outro fato púbico e notório envolvendo a F-1 são as eternas obras e reformas de Interlagos nos meses que antecedem o GP no país. Além de resultados parcos no que diz respeito à qualidade e soluções adotadas, a interdição do local em um período superior a 100 dias afeta toda a cadeia de negócios que tem no autódromo o palco que permite gerar empregos e impostos. Certamente um plano de trabalho mais adequado pode garantir a manutenção e aprimoramento das instalações de Interlagos sem causar tanto estrago.
Em provas regionais e nacionais ali realizadas os administradores do circuito exigem que os danos ocorridos durante a realização desses eventos são cobrados em vistoria feita no dia seguinte ao término da locação. Quem frequenta Interlagos regularmente durante o ano nota que vários problemas que poderiam ser solucionados em um ou dois dias de trabalho permanecem danificados meses a fio.
WG