A ordem dos tópicos é alfabética:
Automotivo (a) – Falso cognato do inglês Automotive, em português automobilístico (a). É cada vez mais usado, inexplicavelmente,
Batida de pino – Uma das possibilidades de combustão irregular é a detonação, ou seja, o encontro de duas ondas de queima da mistura, ou delas com as paredes do câmara de combustão. A primeira, correta, originada da centelha na vela. A segunda, irregular, provocada por uma combustão espontânea de parte da mistura ar-combustível na câmara de combustão. O encontro dessas queimas tem um ruído sonoro semelhante a uma batida entre dois metais. Daí, “batida de pino”, onde pino nenhum bate em lugar nenhum. O nome vem da onomatopeia, em inglês, “ping”.
Break light – Luz de quebrar??? Não, é a terceira luz de freio, geralmente em posição elevada (foto de abertura). Há quem, até mesmo fabricantes, usem o termo errado em vez do correto brake light, que significa apenas luz de freio. Só que “Brake light” era o nome comercial de um acessório da Arteb-Hella lá pela segunda metade dos anos 1980, justamente a terceira luz de freio em posição elevada adotada nos EUA alguns anos antes. É item de segurança: chama a atenção do motorista que o carro à frente e até outros adiante iniciaram frenagem, diminuindo a possibilidade de engavetamento.
Caminhões – É muito comum a imprensa brasileira se referir a números de produção ou vendas no mercado americano como “automóveis e caminhões”. Erro de tradução: em inglês, “truck” é caminhão, enquanto “pick-up truck” é o pequeno caminhão, que entrega e busca mercadorias (pick-up em inglês) e que na língua portuguesa virou picape. Na língua inglesa o nosso caminhão é “heavy truck” (de pesado) e “pick-up truck” (nossa picape) foi abreviado para “truck”. Lá até os minivans são chamados de “truck”. Então, quando se fala em “cars and trucks” nos EUA está-se falando de automóveis, picapes e minivans.
Capotamento – A rigor, os dicionários registram capotagem. Mas o novo termo “capotamento” é tão utilizado que vai se incorporando à língua…
Cilindrada – Essa até dói no ouvido dos puristas. Mas é usada por engenheiros e até em publicidade: “Tal moto de 50 cilindradas”… Qualquer motor do mundo tem apenas uma cilindrada, que representa o volume deslocado pelo pistão no cilindro, multiplicado pelo número de cilindros. Um motor ter 500 “cilindradas” é o mesmo que uma sala ter 5 “alturas” e não o correto 5 m de altura, pois cilindrada é medida e não unidade de volume. A cilindrada de um motor é de 250 centímetros cúbicos (250 cm³) ou — em litros — 0,25 litro.
Hidramático – É um sistema de câmbio automático (Hydramatic) patenteado pela General Motors. Mas, como foi importado um grande volume de automóveis da GM (Chevrolet, Buick, Pontiac, Oldsmobile, Cadillac) com este sistema na década de 1950, a palavra “hidramático,”, aportuguesamento de Hydramatic, quase virou sinônimo de automático. Assim como a lâmina de barbear Gilette (sobrenome do seu inventor, o americano King Camp Gilette) virou gilete, ou Jeep, que passou a nome genérico, jipe…
Mola – Amortecedor, todos conhecem ou pelo menos têm uma ideia de seu formato. Mas justamente por conhecerem suas linhas básicas é que se comete o erro de confundir com ele a “mola a gás”. Amortecedor é um componente da suspensão, encarregado de limitar as oscilações da mola. Mola a gás tem o mesmo formato mas sua finalidade é de sustentar (no alto) o capô, a tampa do porta-malas ou coisa que o valha. Ou seja, mesmíssimo formato, funções rigorosamente diversas.
Montadora – Fabricam ou só montam? No setor automobilístico, a empresa que talvez mais se aproxime da denominação “montadora” é a que produz caminhões. Recebem quase tudo pronto dos fornecedores: motor, câmbio, direção, transmissão, chassis, eixos, cabine, painel. Mas, no caso do automóvel, elas são muito mais fábricas do que montadoras. Recebem componentes de terceirizadas e sistemistas, mas produzem grande parte do que utilizam para montar um veículo. Tanto que estão agrupadas na Anfavea — Associação Nacional dos Fabricanres de Veículos Automotores — e não Anmavea (com “m” de montadoras…). Mas até as associadas da Anfavea ou se depreciam a si mesmas e costumeiramente trocam “fábrica” por “montadora”.
Multilink – significa múltiplos elementos de ligação a alguma coisa, como os (vários) braços de controle da suspensão que a ligam ao chassi, subchassi ou monobloco. Em português é multibraço, mas tem muita gente que usa multilink como se não houvesse equivalente em português…
Piloto automático – até se consolidar o automóvel com condução autônoma, o que existe é o “cruise control”, controlador de velocidade de cruzeiro ou de viagem em inglês. Mas tem até ficha técnica de automóvel mencionando este dispositivo como “piloto automático”. Este só existe de fato, e por enquanto, na aviação. onde um sistema eletrônico se encarrega de todos os comandos do avião para mantê-lo no rumo, altitude e velocidade predeterminados. E não somente do controle de velocidade, como o “cruise control” do automóvel
Pré-detonação – Não existe. Confusão com pré-ignição, que é a combustão da mistura ar-combustível antes da centelha da vela quando o pistão está no curso de compressão, causada por depósito carbonífero incandescente ou outro ponto quente na câmara de combustão, como uma vela de gama térmica errada, que se aquece demais. É inaudível, mas a pressão interna gerada é capaz de avariar seriamente o motor.
Sedan – palavra francesa que tem tradução em português: sedã. Define o automóvel com três volumes, o dianteiro em geral contendo o motor, o central com o habitáculo de passageiros e o traseiro que abriga o porta-malas. Pode ter duas ou quatro portas. Estranhamente, o termo ‘sedã’ não é encontrado nos dicionários, embora conste do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
(Atualizada em 9/1/22 às 13h40, inclusão no texto, minivans também são”trucks” nos EUA)
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