Tema já conhecido, um possível teto para o salário de pilotos volta a ser discutido com mais ímpeto pelas equipes, pilotos e empresários envolvidos com a F-1. Isso é consequência do limite de gastos com o qual a categoria convive há dois anos e que atualmente é de US$ 140 milhões, valor que desconsidera os rendimentos pagos aos que pilotam. A nova ordem econômica mundial, a inflação que assola o primeiro mundo e o custo de construir e reparar os atuais monopostos da categoria são os motivos para reativar a discussão sobre o tema desta coluna. Ironicamente, fala-se na ampliação do calendário para até 30 provas anuais.
Em 1993 Ayrton Senna tornou-se o primeiro piloto a faturar US$ 1 milhão por etapa em uma temporada que teve 16 GPs. Tais números causaram uma reviravolta nas relações trabalhistas da F-1 no que diz respeito a equipes e pilotos e nunca parou de crescer. Trinta anos mais tarde, Lewis Hamilton tem um faturamento anual, segundo fontes como o site Celebrity Net Worth e forbes.com de US$ 65 milhões: 75% desse total são pagos pela Mercedes e o restante por patrocinadores que exploram sua imagem na F-1.
O atual campeão Max Verstappen fatura US$ 53 milhões. Fernando Alonso, bicampeão mundial e que também tem rendimentos anuais na casa de oito dígitos, é literalmente contra limitar o salário dos pilotos, mas admite que o tema é delicado: “Os pilotos sempre ficaram fora do teto de gastos. Estamos sendo usados mais e mais para promover a F-1. Temos cada vez mais compromissos e estamos em mais contato com os fãs. Estão demandando cada vez mais de nós e a categoria se beneficia com isso. Sem dúvida, é um assunto complicado, muito complicado”, diz o espanhol.
Tal qual a distribuição de renda na sociedade brasileira, na base da pirâmide formada pelos 20 pilotos que disputam a categoria há muitos que tem seus vencimentos garantidos por patrocínios que levaram para suas equipes. Um destes casos é o do alemão Mick Schumacher, primogênito do heptacampeão Michael. Apesar de suas vitórias e títulos no caminho que percorreu até chegar à F-1, a voz corrente é que o filho não herdou a mesma habilidade do pai. Nada que o desabone, mas os recentes acidentes que ele sofreu já colocam em risco sua permanência na equipe para 2023.
Entre outros motivos está a manutenção do equipamento, cada vez mais cara. Consertar e reparar os danos causados colocam em risco o orçamento de qualquer equipe e, não custa lembrar, a Haas perdeu o seu principal patrocinador, a fábrica de fertilizantes Uralkali por causa das sanções impostas às empresas russas em consequência da invasão da Ucrânia. Com isso o contrato com o russo Nikita Mazepin foi cancelado às vésperas do início da temporada e os logos da empresa russa desapareceram dos carros, caminhões e uniformes da equipe americana.
O próprio patrão de Mick Schumacher, Guenther Steiner, admitiu a possibilidade de dispensar Mick após a batida em Mônaco, a segunda do ano e que causou prejuízo de aproximadamente US$ 1 milhão ao time: “Não é satisfatório sofrer um acidente como esse novamente. Precisamos ver como ele (Mick) vai se sair de agora em diante.”
Com um piloto pagante — Mick Schumacher — e um contratado — Kevin Magnussen — Steiner é um dos chefes de equipe que não concorda em aumentar o teto de gestos autorizado nesta temporada. No mesmo grupo está o seu par na Alfa Romeo-Sauber, Frédéric Vasseur. Para ele não há motivos para aumentar o limite atual: “Não estamos, definitivamente, diante de um caso de força maior porque a inflação não é um caso de força maior. Cabe a cada equipe decidir se quer desenvolver o carro a cada semana correndo o risco de ficar de fora das últimas quatro ou cinco provas ou evoluir mais lentamente e disputar toda a temporada.”
Força maior e Inflação foram os motivos alegados por Christian Horner para justificar uma revisão no teto de gastos. Para tanto ele alegou o aumento de contas de energia elétrica e outros serviços básicos, mas não fez qualquer menção ao aumento de salários de Max Verstappen após o holandês ter conquistado o título mundial. Isso traz de volta a discussão sobre quanto vale um piloto, algo que o empresário do atual campeão mundial, Raymond Vermeulen, diz ser totalmente contra: “Trata-se de uma idiotice. Os pilotos agregam valor à uma equipe. Seria muito estranho limitar apenas o modelo de rendimentos dos pilotos.”
O curioso dessa história é que as finanças da F-1 vão muito bem obrigado, como afirmou ao site F1Total Greg Maffey, o executivo-chefe da Liberty Media, empresa que é proprietária dos direitos comerciais da F-1. “A F-1 nunca esteve mais saudável. O interesse dos fãs é incrível, temos uma grande competição nas pistas e temos ajudados as equipes. Quando nós chegamos à categoria, a Manor, a décima-primeira equipe do grid, tinha sido vendida por apenas uma libra. Hoje, uma equipe vale no mínimo entre US$ 500 milhões e US$ 700 milhões.”
Quem sabe a saída para aumentar o teto de gastos da categoria seja um calendário ainda mais longo, algo que Stefano Domenicali, o chefe da F-1, já admitiu que poderia se estender das 22 provas deste ano para 30 etapas. A ideia não encontrou muitos adeptos entre as 10 equipes que disputam o campeonato.
WG