A decisão da Fiat em se estabelecer no Brasil se deu em 1973, quando já havia fabricantes aqui estabelecidos com subsidiárias, como Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Simca, Scania, ou que tinham modelos aqui fabricados sob licença, como Alfa Romeo (Fábrica Nacional de Motores com o FNM 2000 JK) e DKW (fabricado pela Vemag S.A com o nome de DKW-Vemag). Também por licença concedida à Willys-Overland do Brasil, pela então estatal Renault, veio a família Dauphine/Gordini/1093 e, na esteira, os esportivos Interlagos da francesa Alpine, que tinha fortes laços esportivo-comerciais com a Renault. E claro, Ford desde 1919 e General Motors, aqui chegada em 1925.
A Fiat teve como parceiro o estado de Minas Gerais, que cedeu por valor simbólico uma vasta área de 2,25 milhões de metros quadrados no município de Betim, na Grande Belo Horizonte, além de providenciar a infraestrutura necessária como vias externas, acesso à rodovia BR-381, água, telefonia e energia elétrica. A construção da fábrica começou em 1974 e levou dois anos para ser concluída. O estado de Minas Gerais arcou com pouco mais de 40% do empreendimento. Hoje sabe-se que mais que valeu a pena o investimento.
A fábrica foi inaugurada em setembro de 1976 produzindo o modelo que Fiat considerou ideal para o Brasil, o Fiat 147, baseado no modelo 127, lançado na Itália em 1971, um pequeno sedã dois-volumes monobloco de 3.595 mm de comprimento com entre-eixos de 2.225 mm, largura de 1;525 mm e altura de 1.360 mm. Era um desenho avançado, com motor dianteiro transversal, tração dianteira e suspensão independente McPherson nas quatro rodas. Mas seu motor de 903 cm³, três mancais e 45 cv, de comando de válvulas no bloco, não era o estado da arte esperado na época. Mesmo assim o 127 foi um grande sucesso tanto de vendas quanto de crítica, ao receber a láurea de Carro do Ano de 1972.
Ao decidir trazê-lo para o Brasil, a Fiat modificou a carroceria para torná-la hatchback (como no 127 em 1972), retocou o desenho da lateral tornando a base dos vidros contínua (ascendente nos traseiros do 127), e a mudança mais importante, introduziu novo moto de 1.049 cm³ e cinco mancais, comando de válvulas no cabeçote com atuação direta das válvulas por tuchos-copo, projetado pelo afamado engenheiro Aurelio Lampredi. responsável pelo projeto de motores Ferrari V-12 de 3,3. 4,1 e 4.5 litros.
A chegada do 147 ao mercado foi auspiciosa, inaugurando a era do motor transversal no Brasil e o conceito de pequeno por fora e grande por dentro. Media 3.627 mm de comprimento com entre-eixos de 2.225 mm (como no 127), 1.525 mm de largura (idem) e 1.350 mm da altura, A moderna e robusta suspensão independente McPherson nas quatro rodas (molas helicoidais na frente e feixe de molas transversal único atrás) era perfeita para o piso brasileiro e lhe conferia dotes de estabilidade notáveis (o Fusca também tinha suspensão independente nas quatro rodas, mas de tipo bem antigo). A solução do estepe alojado no compartimento do motor, um exemplo de aproveitamento inteligente de espaço, rendeu-lhe aplausos.
No começo vinha de fábrica com freios dianteiros a disco sem servo-freio (seria adotado mais tarde, em 1981), e nos traseiros a tambor havia a inovação, no segmento, da válvula reguladora da pressão hidráulica sensível à carga a bordo, além do ajuste automático das sapatas. Os eram radiais145SR13 (145/80R13S na notação atual) de novo modelo da Pirelli, o CN15, e a direção por pinhão e cremalheira tinha relação de 17,6:1, sem assistência. Seu diâmetro mínimo de curva era de 9,6 metros
Seu interior era amplo a arejado, com grande área envidraçada, e tinha porta-malas de aproximadamente 280 litros (a fábrica declarava 360 litros sem informar o método de medição). Tinha cinco lugares.
A estratégia da Fiat provou ser acertada. Aliás, vale ressaltar, a ideia deles para o nosso mercado, de um produto lançado aqui, resultou num dos modelos mais avançados de sua época.
Além das qualidades técnicas a marca apostou também em uma publicidade criativa e agressiva para o lançamento. Uma das campanhas foi abastecer o carro com apenas 1 litro de gasolina para percorrer toda a extensão de 14 quilômetros da ponte Rio-Niterói. Uma ideia simples e, ao mesmo tempo, genial, já que colocava o modelo à prova.
A outra peça publicitária que ficou marcada no período foi a descida das escadarias da igreja da Penha, no Rio de Janeiro. A ideia era mostrar o conforto, a versatilidade e também a robustez da suspensão. Esse tipo de coisa fez com que o modelo caísse nas graças do público consumidor.
Inicialmente ele foi oferecido com o motor de 1.049 cm³ de cilindrada e 50 cv, mais do que suficiente para cumprir as tarefas do dia dia com valentia. Acelerava de 0 a 100 km/h em 18 segundos e atingia 135 km/h.
Uma de suas características era a boa ergonomia, com o volante de grande inclinação, algo bastante diferente dos modelos da concorrência e que acabou agradando o público brasileiro passada a resistência inicial.
O exemplar da matéria é um GL (Gran Lusso),que chegou mercado em 1978. Como diferenciadores ele traz o estofamento de tecido, algo mais elegante e confortável do que o vinil da versão L. Além disso o destaque também vai para o desenho das rodas que é ligeiramente diferente. O painel é mais completo e traz mais algumas informações para o motorista.
Hora de andar. ao girar a chave o som clássico do motor invade o habitáculo e segue nessa toada com baixo nível de ruído, mesmo para os padrões da época. O câmbio sempre foi algo a ser observado no 147, com engates que pediam um pouco mais de atenção ou, pelo menos, até o motorista se habituar com o seu estilo.
O pequeno desenvolve muito bem na rua. Pesando 795 kg, o 147 se destacou no cenário brasileiro justamente por conta da sua agilidade e versatilidade de uso. Com o tempo vieram os irmãos, como a picape City e também a versão que daria origem a Fiorino. Novamente a palavra versatilidade se aplica aos pequenos modelos da Fiat que revolucionaram o mercado nacional.
GDB
(Atualizada em 9/6/22 às 15h00, correção de informação, não tinha servo-freio no começo)