A Ford pretende ser protagonista na Fenatran —Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga — que abriu as portas de sua 23ª edição em 7 de novembro passado em São Paulo, SP. Para tal, jogou cartas fortes na mesa: as novas versões do Transit, cuja estrela máxima é a versão elétrica denominada e-Transit, que aterrissa no Brasil apenas seis meses depois de ser lançada no mercado americano e europeu.
Inicialmente, o e-Transit estará “disponível” apenas na versão furgão, e as aspas se devem à opção da Ford em não vender o modelo normalmente, ao menos no início, mas sim oferecê-lo por meio de empréstimo a grandes frotistas selecionados. Mais que benevolência ou ousado movimento de marketing, tal estratégia visa uma parceria que permita à Ford o acesso a um fundamental “desenho” do uso do e-Transit na vida como ela é no Brasil.
Saber dos roteiros, frequência de uso, padrão de recarga tem, neste momento, mais importância para a Ford do que o lucro da venda pura e simples. Sendo o e-Transit um veículo plenamente conectado, bastará à empresa analisar o dia a dia em tempo real sem, é claro, menosprezar os depoimentos de quem os dirige e dos empresários que os operarão comercialmente. Bela jogada!
Além do e-Transit, a Ford terá em seu catálogo para 2023 outros novos Transit, como os dotados de câmbio automático, componente que pela primeira vez equipará um veículo comercial desta categoria no Brasil. O câmbio epicíclico de 10 marchas com conversor de torque é “made in USA”, arquitetado por ser o mesmo que equipa as picapes da marca por lá, o que sopra para longe desconfiança quanto a confiabilidade de tal câmbio. Os Ford Transit com câmbio automático estarão disponíveis em versões furgão longo, com capacidade de 12,4 m3, nas versões minibus (15 e 18 passageiros) e vidrada. Terceira e última novidade desta nova família de Ford comerciais é o Transit Chassi, que chegará no segundo semestre de 2023 em duas versões, 3.500 kg e 4.700 kg de PBT.
Dirigindo o e-Transit
Dias antes da apresentação ao público na Fenatran, o AE teve oportunidade de rodar brevemente com o Ford e-Transit no centro de distribuição da empresa, situado em Cajamar, cercanias da capital paulista.
Antes de relatar as impressões ao volante, vale descrever a novidade, cujo grande diferenciador externo é a grade dianteira com os frisos horizontais em tom azulado onde, ao centro, está escondida a tomada para recarga da bateria. Na traseira, um discreto emblema logotipo “e-Transit” ocupa a porta esquerda. Internamente a diferença é a ausência de uma alavanca de câmbio, substituída por um seletor rotativo em uma elevação do painel e, ao centro deste, uma grande tela de 12 polegadas para gestão de diversos parâmetros, entre os quais a câmera 360-graus.
O e-Transit tem a mesma carroceria do furgão com motor Diesel, o assoalho de todo o compartimento de carga abriga o “pack” de baterias de íons de lítio de 68 kW·h, cujo alcance anunciado é de 317 km (método WLTP). Como usual nos veículos elétricos modernos, o sistema de regeneração inteligente aproveita as desacelerações e frenagens para maximizar rendimento. O carregamento das baterias tanto pode ser por corrente alternada ou contínua, que dependendo da potência pode recarregar a bateria em até 80% da capacidade em apenas 35 minutos.
O motor elétrico, situado no eixo traseiro — assim como a tração —, tem potência de 270 cv e torque de 43,8 m·kgf. Itens como assistente de partida em rampa fazem par com o sistema de controle de estabilidade, assistente de pré-colisão frontal e de cruzamento, freio de estacionamento eletromecânico e assistente de frenagem em ré.
A bordo, o seletor de marchas circular – P, R, N, D e L – não denuncia estarmos em um veículo elétrico, pois o mesmo poderia ser o comando de um câmbio automático de um veículo movido a motor térmico, porém, o que revela ser energia elétrica e não térmica que movimenta o e-Transit é o quadro de instrumentos, no qual a porção esquerda é ocupada por um instrumento circular destinado a mostrar o percentual de energia que está sendo usado.
À excelente ergonomia —como deve ser um veículo destinado ao trabalho — se junta o silêncio absoluto ao sair da imobilidade, passando o seletor de P a D. A suavidade é a característica que mais chama a atenção nos primeiros metros, mas assim que uma pequena reta se apresenta e o pé do acelerador foi ao fundo, a vigorosa progressão, típica dos elétricos, se fez presente: o Ford e-Transit progrediu de maneira a fazer inveja a muito carro esportivo, deixando claro o torque de quase 50 m·kgf aliado aos 270 cv de potência do motor elétrico.
A Ford não divulgou preço das novas versões Transit no Brasil, mas não escondeu suas pretensões de morder uma grande fatia deste segmento de veículos comerciais. Fez questão de declarar ser a marca com maior crescimento no segmento — 12% em Minibus e 4% em Furgão — e de garantir mais rentabilidade para seus clientes através de tecnologia, como a introdução do câmbio automático, que segundo anunciado, gera menor desgaste de componentes, maior durabilidade do trem de força, menor frequência de manutenção e diminui riscos de acidentes por distração ou fadiga, além de equalizar modos de condução entre diferentes motoristas de uma frota.
Outro ponto enfatizado é a conectividade, presente em todos os Transit, que favorece o gerenciamento dos dados, assistência técnica virtual e diagnóstico de reparos resultando em menor custo de operação. Enfim, a aposta da Ford é a tecnologia e ousadia. Como ouvimos de um dirigente da empresa na apresentação, a Ford, ao contrário de seus concorrentes, não tem medo de aplicar inovações tecnológicas no segmento comercial e vê tal atitude como o melhor caminho para alcançar a maior produtividade. Resta ver se os clientes brasileiros deste segmento estarão de acordo com este posicionamento ousado. A conferir.
RA