A quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 provocou um efeito dominó que se refletiu progressiva e rapidamente em toda economia mundial. O milionário Wolff Barnato, cansado de colocar dinheiro na Bentley, fez um acordo com um fundo de capital e transferiu o controle acionário da empresa para a Rolls-Royce, em troca de ações desta. W.O. Bentley, que não tinha mais participação na marca que havia fundado, foi trabalhar para Lagonda.
Era o fim do domínio da marca inglesa em Le Mans. Mas se a Bentley ainda foi salva para se tornar uma espécie de segunda linha da Rolls-Royce, outras marcas não tiveram a mesma sorte e desapareceram. Como a Lorraine-Dietrich, a única marca que desafiou a Bentley vencendo em Le Mans na edição de 1925, com os pilotos Gérard de Courcelles e André Rossignol, e em 1926, novamente com André Rossignol e Robert Bloch. Em 1933, entretanto, a empresa francesa teve decretada a falência.
Com a retirada das duas principais protagonistas em Le Mans na década de 1920, novas marcas se destacaram na competição, como a italiana Alfa Romeo e a francesa Bugatti. Curiosamente, as origens das duas se confundiam. Nascido em Milão, o engenheiro autodidata Ettore Bugatti atravessou os Alpes, com apenas 21 anos, para projetar um carro para a francesa De Dietrich, que em 1906 passou a se chamar Lorraine-Dietrich, mas na ocasião Bugatti já estava projetando o primeiro modelo da Mathis.
Também em 1906, a francesa Darracq fabricante de motores de avião e veículos, inaugurou sua filial italiana em Milão para montar automóveis. Porém, em 1910 com dificuldades financeiras, a Darracq italiana foi assumida por um grupo de investidores milaneses que a denominaram Alfa – Anonima Lombarda Fabbrica Automobili. Um ano antes, após sair da Deutz, Bugatti abriu sua própria empresa em Molsheim, Alsácia, que ainda era uma região sob domínio da Alemanha.
Após a Primeira Guerra, com o acordo de Versalhes, a Alsácia que havia passado ao controle alemão após a Guerra Franco-Prussiana em 1870, voltou a ser francesa. Assim, o italiano de Milão, que ainda jovem foi trabalhar na França, depois montou sua fábrica na Alemanha, se tornou o mais francês dos franceses. Na mesma ocasião, o engenheiro e empresário italiano Nicola Romeo, que ficara rico fornecendo munições durante a guerra, assumiu o controle da Alfa e a rebatizou com seu sobrenome.
E foi a Alfa que assumiu o protagonismo em Le Mans, após a Bentley. A marca italiana venceu as quatro edições seguintes sempre com equipes particulares, apesar da equipe de fábrica ter participado nas edições de 1931 e 1932. A vitória, em 1931, foi da dupla de aristocratas ingleses, Francis Curzon eSir Henry Birkin, que correram com seu próprio Alfa Romeo 8C 2300 LM, como motor 8 em linha de 2,3 litros. Já em 1932, a vitória foi do francês Raymond Sommer (dono do Alfa LM) e o italiano Luigi Chinetti.
A edição de 1932 já foi realizada no novo circuito que teve distância reduzida de 17,1 para 13,4 quilômetros. O crescimento urbano da cidade de Le Mans obrigou esta redução o que provocou a remoção do grampo de Pontlieue. Já em 1933 a Alfa Romeo não participou mais oficialmente. Em difícil situação financeira a empresa foi assumida pelo governo italiano no final de 1932 e o novo diretor- executivo nomeado, Ugo Gobbato, decidiu encerrar as atividades da equipe da fábrica.
Mesmo assim, a vitória em 1933 foi novamente da marca milanesa com o Alfa Romeo 8C 2300 MM-LM, pilotado pelo lendário italiano Tazio Nuvolari e o francês Raymond Sommer. Em segundo e terceiro lugares também chegaram modelos Alfa, todos inscritos por equipes particulares. A Alfa repetiu a vitória em 1934, com o mesmo modelo 8C 2300 MM-LM, pilotado pelo italiano Luigi Chinetti e o francês Philippe Étancelin, que encerrou a era da marca italiana em Le Mans.
Em 1935 outro modelo inglês voltou a vencer Le Mans, o Lagonda M45R Rapide, com motor Meadows de 6 cilindros em linha e 4,5 Litros, pilotado pelos ingleses Johnny Hindmarsh e Luis Fontés. Já em 1936 a corrida não foi realizada devido as greves na França, que afetaram toda a indústria automobilística. Na retomada, em 1937, finalmente a Bugatti se impôs com o modelo especial Type 57G Tank, equipado como motor 8 em linha de 3,3 litros, pilotado pelos franceses Jean-Pierre Wimille e Robert Benoist.
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Este Bugatti foi o primeiro modelo totalmente carenado a vencer em Le Mans seguindo o conceito de design aerodinâmico streamliner, que mudou a concepção dos automóveis durante a década de 1930. A Bugatti não participou da prova em 1938, quando a vitória foi de outra marca francesa, a Delahaye com o 135 CS dotado de motor 6 em linha de 3,6 litros, pilotado por Eugène Chaboude Jean Trémoulet. Mas o Bugatti Tank voltou a vencer em 1939, última edição antes da Segunda Guerra Mundial, novamente com Wimille desta vez em dupla com Pierre Veyron.
RM