Já tem tempo observo determinados termos sem sentido adotados com toda força pela população e, por extensão, pelos meios de comunicação.
A palavra resgate, por exemplo. Segundo o dicionário Aulete Digital, que utilizo bastante, resgate é, na ordem,
ato ou efeito de resgatar; libertação do cativeiro mediante pagamento ou outro meio; quantia com que se resgata alguém ou alguma coisa; salvamento, recolhimento de vítimas de acidentes, crimes, atentados etc.; quitação de uma dívida ou pagamento de um título de crédito; recompra de alguma coisa que se vendeu ou penhorou.
É fácil notar que resgate implica troca. Não significa salvar, recolher vítimas de acidentes, etc. Foi um termo mal empregado que acabou pegando. É por isso que as ambulâncias do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro têm (ou tinham) a palavra Salvamento escrita na carroceria em vez de Resgate. Ou como na foto de abertura, veículo de salvamento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal;
Nos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) veem-se pontos de acesso à tripulação com uma seta vermelha seguida da palavra Salvamento, e não Resgate.
A FAB tem o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, mais conhecido como PARA-SAR, é um esquadrão paraquedista de Operações Especiais de Busca e Resgate da Força Aérea Brasileira, baseado na Base Aérea de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Obviamente ,essa descrição foi “infectada” por Resgate ao jeito brasileiro, uma vez SAR é a sigla em inglês de Search and Rescue (Busca e Salvamento).
Para entender, resgate — libertar um sequestrado em troca de pagamento, por exemplo — em inglês é ransom. E a infecção chegou ao Tradutor do Google, em que resgate (português) é rescue (inglês) em vez de ransom.
Suspeito que empregar resgate em vez de salvamento tenha origem nas firmas de dublagem para aproximar o movimento labial de rescue.
Há uma canção americana em que uma das frases da letra é You came to my rescue — óbvio que o par não veio para resgatar ninguém, mas salvar.
Outra já conhecida do Tradutor do Google é automaker ser montadora e fabricante de automóveis ser car manufacturer. Ou seja, na cabeça de milhões de brasileiros não existe mais fábrica de automóveis. — só de automóveis, porque para qualquer outro produto industrial tem fábrica. Até de fogões.
Três novas
A campeã absoluta das três é sustentabilidade. E raro o texto sobre, processos, novos produtos, combustíveis e carro elétrico que não contenha essa palavra. é como se nada fosse sustentável. É a queridinha do momento.
Nos dois degraus do pódio estão head em substituição a chefe, gerente ou diretor, e CEO, Chief Executive Officer, o presidente ou o manda-chuva do dia a dia, o presidente-executivo, como escrevemos no AE.
BS
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