No dia 4 de março ultimo, a Força Aérea Brasileira (FAB) se despediu do lendário Lockheed C-130 Hercules, que realizou sua missão de despedida, após quase 60 anos (faltaram alguns meses!) de operação interrupta no Brasil, uma história que se iniciou em agosto de 1964 com a chegada dos primeiros C-130E ao país, adquiridos novos da Lockheed. Corporation.
O Hércules, assim como a Gillete, sempre foi o nome associado a um produto e mesmo no jornalismo leigo, o Hercules era tratado como sinônimo de avião de transporte.
A gênese do Hercules
Até inicio da década de 1950, os cargueiros militares eram os Douglas C-47 (DC-3), C-54 (DC-4), aeronaves de passageiros convertidas para cargueiros militares.
Posteriormente vieram os Fairchilds C-82 Packet e o C-119, aeronaves de caudas duplas e abertura traseira para lançamento de paraquedistas e cargas, mas todas com motores a pistão.
E é nesse ambiente que o governo dos Estados Unidos emite, em 1951, uma diretiva para a compra de aeronaves militares de transporte, que deveriam contemplar carregar 92 passageiros ou 64 paraquedistas totalmente equipados., e ter um porão de carga de 12 m de comprimento por 2,7 m de altura e pelo menos 3 m de largura.
Os principais fabricantes de aeronaves receberam a diretiva e enviaram suas propostas, mas a Lockheed sagrou-se vencedora e em 1954, precisamente em 23 de agosto, o YC-130 fez seu voo inaugural, já na forma básica como até hoje conhecemos. Os motores escolhidos foram o Alisson T-56, de acionamento direto à caixa de redução,, um motor que se tornou uma verdadeira lenda por equipar o Hercules e outras aeronaves, incluindo a sua versão civil, o Alisson 501D-13 do Electra.
A partir de 1956 começou a entrega dos primeiros C-130A, dando início à produção que este ano completa 68 anos, mantendo praticamente o mesmo conceito original, sendo a aeronave comercial/militar há mais tempo em produção em todo o mundo!
No Brasil
A vida do C-130 no país se inicia em 1964 com a chegada dos primeiros três C-130 da versão E, adquiridos novos da Lockheed. Outras cinco aeronaves foram recebidas entre 1965 e 1968, totalizando oito unidades configuradas para transporte.
Em 1969 três SC-130E foram recebidos e integrados ao esquadrão de busca e salvamento, bem como fotografia da FAB, esquadrão este que operou antes com os lendários quadrimotores Boeing B-17G em versão de fotografia, reconhecimento e salvamento, desativados um ano antes.
Nas décadas de 1970 e 1980 outras oito aeronaves foram adquiridas pela FAB para reabastecimento em voo e reposição de perdas em acidentes e em 2001 é entregue o primeiro dos 10 Hercules adquiridos de segunda mão da Força Aérea Italiana.
Ao longo de sua vida operacional, os Hercules sofreram modernizações, com as células C-130E sendo modernizadas para o padrão H, outras elevadas ao padrão “M” (modernizadas) com revisão e atualização de sistemas), dando uma sobrevida ao modelo.
Um total de 29 aeronaves do modelo foram operadas pela Força Aérea Brasileira.
No inicio dos anos 2000, a FAB já passa a buscar um substituto para o Hercules. Embora o substituto natural do Hercules fosse o próprio Hercules, na sua versão moderna, o C-130J, a FAB desejava uma aeronave de maior capacidade e velocidade que o próprio Hercules e deu origem aos estudos do KC-x, que veio a se transformar no elogiado Embraer C-390 Millenium, aeronave que no mundo ocidental concorre em pé de igualdade (em alguns casos, até de superioridade) ao Hercules, nas disputas pelos contratos de aquisição.
Enquanto o KC-390 era desenvolvido e sua produção se desse em escala mais lenta que a desejada, a frota de Hercules, alguns quase cinquentenários, envelhecia dia após dia, chegando as células ao limite de sua vida útil. Muitas células então passaram por “canibalizações” no Parque de Material Aeronáutico do Galeão, no Rio de Janeiro, e agora, em 4 de março ultimo, o último Hercules fez sua despedida de operação na FAB, numa historia que faltaram apenas alguns meses para ser de 60 anos. E foi a aeronave que mais tempo operou na FAB!
O destino das aeronaves ainda é incerto, mas provavelmente pelo menos uma permanecerá em solo brasileiro em exposição no Museu Aeroespacial (Musal), no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro.
R.I.P. C-130 Hercules!
D.A.