Por maior experiência que possuam, adquirida ao longo de anos de estudos em faculdades, no relacionamento com colegas de profissão e, também, por conhecimentos acumulados na resolução de problemas que surgem a cada momento, os engenheiros das fabricantes de automóveis enfrentam desafios, com os quais eles próprios se divertem com as dificuldades e as soluções que encontram para vencê-las.
São muitos os casos ocorridos, principalmente numa nova atividade industrial, como foi a indústria automobilística no Brasil, que há 68 anos nasceu provocando uma radical mudança de costumes no País. Meu objetivo é relatar casos que ocorreram, mas que poucos vivenciaram e ficaram desconhecidos.
Em maio de 1980, a Volkswagen lançou no mercado brasileiro o Gol, que se tornou um campeão de produção e de vendas, inclusive no mercado internacional, com as 8 milhões e 500 mil unidades, que o mantiveram na liderança do mercado brasileiro por 27 anos e a exportação superior a um milhão e 500 mil veículos.
O Gol foi lançado com motor de 1,3 litro, alimentado por carburador único (foto abaixo) e, para ter um porta-malas com espaço razoável para as bagagens, o estepe foi instalado no cofre do motor, a exemplo do Fiat 147 lançado quatro anos antes.

Como o motor 1,3 não proporcionava desempenho razoável, menos de dois anos depois a Volkswagen o substituiu por um motor 1,6 de dois carburadores. Como estes ocupavam espaço maior do que um só, estepe precisou sai da sua posição original no lado direito do cofre e ir para o porta-malas, que já não era grande e ficou prejudicado.
Mas o titular da concessionária VW Condor, de São Paulo, Mário Ferreira, intuiu que se o estepe fosse virado 180º, o lado interno do aro teria espaço suficiente para envolver o carburador direito. Um mecânico da concessionária materializou a ideia do seu patrão e o estepe pôde voltar para seu lugar de projeto.
O assunto chegou aos ouvidos da fábrica e o presidente da VW, Wolfgang Sauer, foi à Condor para ver a solução — imediatamente adotada pela fábrica na produção.

Ford
A outra história ocorreu no Campo de Provas da Ford, em Tatuí, SP. A Ford brasileira, como participante pioneira do programa Befiex (de incentivo à exportação de produtos brasileiros) foi designada para fornecer automóveis Escort para a Islândia, país localizado no hemisfério norte, latitude 65º, onde o inverno é muito rigoroso.
Por essa característica climática, a Ford precisou realizar testes especiais para dar aos automóveis padrões necessários para atender as características técnicas estabelecidas pela legislação islandesa.
Para conhecer se os carros brasileiros atenderiam os padrões da Islândia, a engenharia da Ford montou uma câmara fria, com equipamentos de testes em temperatura inferior a – 40 ºC durante um longo período.
Ao completar o tempo estabelecido, os engenheiros foram retirar o carro da câmara fria, mas tiveram a surpresa com a impossibilidade de abrir as portas do carro em consequência do congelamento das fechaduras. Isso sem falar de óleo, graxa e outros produtos, como o líquido do sistema de arrefecimento e outros líquidos.
Por essa constatação, a Ford precisou de mais tempo, concedido pela Ford internacional, para saber das providências necessárias para atender os padrões técnicos dos produtos utilizados nos veículos fornecidos a países para os quais realizavam exportação.
A Ford recorreu a fornecedores de lubrificantes que rapidamente desenvolveram óleos e graxas com resistência a 40 graus negativos.
Além da Islândia, os automóveis Escort foram exportados para a Suécia, Dinamarca e Noruega. E essa histórica exportação brasileira foi comemorada com uma viagem de Estocolmo, na Suécia, a Genebra, na Suíça, por jornalistas brasileiros e o percurso de regresso por jornalistas europeus
LCS
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