O maior adversário de um piloto de Fórmula 1 é seu próprio companheiro de equipe. Se ser mais rápido do que ele é uma dose de autoconfiança, o contrário é um passo para ficar ainda mais lento e mais próximo de perder o emprego. Obviamente a situação de fato não é tão simples assim, o que implica em analisar aspectos como regularidade, eventuais problemas com o carro e até mesmo fases menos produtivas em meio a uma carreira de títulos, vitórias e bons resultados. O boletim escolar de Daniel Ricciardo (foto de abertura) nos últimos anos tem registrado mais notas vermelhas do que azuis, situação que o coloca como sério candidato a perder seu lugar na categoria.
O futuro do sorridente australiano foi tema de um comentário duro por parte do canadense Jacques Villeneuve, conhecido por suas opiniões radicais e que também viveu um longo período de ocaso após conquistar o título mundial de 1997. Segundo o filho de Gilles, eterno ídolo dos tifosi da Ferrari, desde que saiu da Red Bull Ricciardo, ao final da temporada de 2018, não foi mais competitivo e deve dar lugar a outros pilotos.
É difícil contestar essa afirmação, ainda que o próprio Jacques tenha vivido situação semelhante. Ao volante dos carros da equipe austríaca Ricciardo venceu três GPs em 2014, um em 2016 e em 2017 e dois em 2018. Desde então o ponto alto de uma carreira que passou pela Renault (2019/2020), McLaren (2021/2022) e Alpha Tauri/RB (2023/2024), foi triunfar no GP da Itália em 2021, resultado que não foi suficiente para evitar que a equipe rompesse seu contrato de três anos no final do segundo. Ele só retornou ao reino da Red Bull porque o holandês Nick De Vries decepcionou a equipe AlphaTauri e perdeu o emprego após 10 corridas em uma temporada que teve 22 GPs.
De Vries tinha a seu favor os títulos de campeão da F-E em 2021, F-2 em 2016, e outros dois em categorias de base. A contrapor esse bom currículo pesou o fato de ele ter sido mais lento que seu companheiro de equipe, Yuki Tsunoda, piloto que há anos é a grande aposta da Honda. O japonês mostra, anos após ano desempenhos cada vez mais consistentes, porém ainda não pode ser considerado um piloto de ponta, combinação que não ajuda Daniel Ricciardo: em 9 provas disputadas este ano o australiano largou à frente dele apenas duas vezes e até agora marcou 9 pontos, dez a menos que seu parceiro e ponto de comparação.
Dito isso, como explicar que Ricciardo continua apoiado pela equipe, em especial por Christian Horner? Uma explicação possível estaria relacionada com o tempo que o australiano foi companheiro de Max Verstappen. Durante essa convivência o holandês foi, corrida após corrida, se impondo ao companheiro de equipe mais experiente. É difícil lembrar algum episódio em que os acidentes entre os dois não foram causados pelo arrojo e excesso de confiança do atual tri-campeão mundial e episódios como a batida entre ambos no GP da Hungria de 2017 e no GP do Azerbaijão em 2018 são exemplos desse processo que garantiu o status de primeiro piloto a Max.
Pode-se dizer que nessa época Horner apoiava Ricciardo e Verstappen era o enfant terrible e garoto-prodígio bancado por Helmut Marko. Em um determinado momento não houve como manter Ricciardo na equipe, o que pode ser entendido como uma derrota para Horner, o que justificaria uma dívida de honra com o australiano, que, despedido da McLaren, encontrou emprego na Red Bull, onde acumula 18 largadas pela RB, o dobro de apresentações de Nick De Vries, que foi despedido depois de andar nove corridas atrás de Yuki Tsunoda.
O resultado completo do GP do Canadá, disputado no fim de semana, em Montreal, você encontra aqui.
WG
(Atualizada em 11/5/24 às 19h40, correção do ano em que Jacques Villeneuve foi campeão mundial))
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