Não sei se é devido à profusão das câmeras de vigilância ou dos órgãos rodoviários combinado com a teledifusão, mas o fato é que me parece demais. Nesta quinta-feira foi noticiado um grave acidente na Rodovia dos Bandeirantes na região de Caieiras, resultado de um racha (pega em outras regiões) à noite de dois carros em meio ao tráfego com certa intensidade. Teve o do Porsche em 30 de março que atingiu a traseira de um táxi em movimento numa avenida de São Paulo, a Salim Farah Maluf, na Zona Leste. A perícia concluiu que o 911 estava a mais de 130 km/h. Nos dois acidentes, uma morte em cada.
Nas estradas, são engavetamentos e mais engavetamentos, com carros esmagados entre caminhões, ônibus que batem de frente com caminhões e objetos de grande volume e peso que caem dos caminhões. No sábado 21/12, na BR-116 na Bahia, ônibus colidiu com um enorme bloco de granito caído de uma carreta (foto de abertura) e 41 pessoas morreram, como se fosse acidente aeronáutico. Ônibus perdem freios nas descidas de serras e tombam ou despencam em ribanceiras.
É desnecessário me alongar nessas descrições. O fato é que algo anda mal na mobilidade rodoviária. Duas causas são incontestáveis, problema do homem e da máquina em proporções desiguais, mais do primeiro.
Eu era adolescente quando soube que a Viação Cometa, de São Paulo, tinha um procedimento rigoroso com relação aos seus motoristas, em especial com sua saúde. Exames clínicos, inclusive oftalmológicos, eram periódicos. Bird Clemente (1937-2023) conta em seu livro “Entre ases e reis de Interlagos” (2007) que na I Mil Milhas Brasileiras, em, 24/25 de novembro de 1956, o Centauro Motor Clube, organizador da prova, exigiu que todos os pilotos fossem avaliados pela equipe médica da Viação Cometa por se tratar de uma corrida de longa duração — 14 a 16 horas com os carros de então — com metade dela à noite.
Por aí é possível ver a importância de motoristas de ônibus e caminhões, ou de qualquer veículo automotriz, estarem em condições física ideais para enfrentar longas horas ao volante, além de descansados o suficiente para não terem o sempre perigoso sono ao dirigir, em especial à noite.
Já problemas mecânicos em ônibus e caminhões que dificultem sua condução são inadmissíveis. Caso da “moda” de altura de rodagem traseira elevada por arqueamento dos feixes de mola, para a qual a fiscalização — se houver, bem entendido — é das mais fáceis por ser visual. Basta uma foto para comprovar a irregularidade do veículo..
Mesmo caso dos carros de suspensão rebaixada, uma simples foto liquida a questão.
A solução
É mais do que óbvio que solução para tudo o que eu disse até aqui existe, mas é extremamente custosa e sobretudo trabalhosa. Uma tarefa hercúlea.
Primeiro, sem a chamada vontade política, nada feito. O poder executivo dos três níveis de administração precisa se conscientizar de que o Brasil não pode conviver eternamente com esse mar de sangue nas rodovias. Algo precisa ser feito, custe o que custar. Não basta encher as estradas de câmeras. Elas são de grande utilidade mas não policiam, supervisionam. Tem que haver muito mais policiamento presencial do que hoje.
Segundo, é essencial mudar o Código Penal. Cometer um crime de trânsito e aguardar o julgamento em liberdade não deve ter lugar. Sentenças de reclusão devem ser cumpridas até o fim, nada de regressão da pena, muito menos indulto. Os cidadãos, uma vez conscientes de que passarão anos reclusos, sem escapatória, pensarão muito antes de cometer um crime trânsito (e outros, como homicídios).
Como se vê, jeito tem. Mas é preciso querer resolver. E querer neste caso é poder.
BS
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