A internet propicia divulgação de informações em volume inimaginável não faz muito tempo. Passamos rapidamente da era da mídia de massa — jornais, rádio, televisão — para a era da massa de mídia, como disse um primo do Fernando Calmon. São palpites de toda ordem sobre qualquer assunto, e automóvel é um deles.
Por exemplo, diz-se que não se pode rodar com menos de ¼ de combustível no tanque (foto de abertura) porque “a bomba de combustível elétrica queima”, pois o que a arrefece (esfria) é o fato de ela ficar dentro do tanque, ter líquido à sua volta. Nada disso: o que arrefece a bomba é o combustível que passa internamente, aspirado por ela mesma. Por acaso tal recomendação e justificativa constam de algum manual de proprietário? E o outro “motivo” é havendo pouco combustível as sujeitinhas no fundo do tanque serem aspiradas, outro conselho tolo, pois o tubo pescador aspira o líquido do fundo tanque independentemente da quantidade de combustível nele.
Outro contumaz conselho na rede mundial de computadores, a tal www, é pressão dos pneus, aí os palpiteiros se dividem. Alguns sugerem aumentar a pressão recomendada pelo manual para reduzir o consumo. Outros, com pressão inferior para deixar o carro mais “macio”. Os primeiros estão certos, pois com maior pressão reduz-se atrito de rolamento do pneu e o carro consome menos, mas ao preço único de diminuir o conforto. Já a pressão inferior à recomendada também é danosa. Pode até deixar o carro mais “macio”, porém também compromete a estabilidade do automóvel.
A sopa no mel para os expertos do teclado de plantão se chama “três cilindros”. Onde já se viu reduzir o numero de cilindros? — é o que argumentam com insistência tentando provar ou demonstrar que o motor vai perder durabilidade, quando esta nada tem a ver com o número de cilindros Ignoram toda a engenharia aplicada pela fábrica, pois o que define sua resistência é o projeto, são os materiais utilizados, os processos de manufatura, os testes de durabilidade, etc. Os motores tricilindro existem no mundo inteiro faz tempo, em quase todas as marcas e nunca sinalizaram durar menos que os de quatro (ou mais) cilindros.
O etanol é outro prato cheio para os expertos. “Reduz a vida útil do motor, corrói seus componentes, suja os bicos injetores, tem menor poder calorífico, exige maior taxa de compressão” e mais um sem-fim de bobagens. Esquecem ou fazem de conta que esquecem que convivemos quase meio século — 46 anos, para ser exato — com motores a álcool em todos os automóveis sem nenhum dos problemas citados.
Muitos expertos dizem que usar a “banguela”, isto é, numa descida colocar o câmbio em ponto-morto, economiza combustível por o motor ficar em marcha-lenta, condição em que o consumo é desprezível. É o contrário: em todo carro com motor a injeção de qualquer tipo, quando o motor não está movimentando o veículo, como numa descida, o fornecimento de combustível a ele é cortado.
Discussão habitual entre palpiteiros é se o tipo de gasolina influi na potência. Não e sim. Não se as características do motor não exigem gasolina de octanagem maior do que a prevista pelo fabricante, de nada adiantando abastecer com uma de maior octanagem, não fará diferença alguma na potência, é jogar dinheiro no lixo. Sim quando o motor pede gasolina de determinada octanagem mas aceita outra de octanagem menor, conforme informado no manual do proprietário ou em etiqueta aplicada no veículo. Vê-se muito isso em carros importados de alto desempenho. Significa, por exemplo, que os números de potência e consumo só valem com gasolina 98 RON, mas que com a de 95 RON esses números não são atingidos. Quanto à gasolina, se comum ou aditivada, tudo se resume a fazer questão de manter o motor mais limpo internamente ou não, sem relação com potência.
Outra “pérola” frequente na internet (que parece ser porta-voz oficial das fake news) é carro flex “viciar” em álcool ou gasolina. Isso não existe. Um carro que tenha rodado dezenas de milhares de quilômetros só com álcool funcionará perfeitamente ao ser reabastecido com gasolina e vice-versa.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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