Compartilho com o leitor ou leitora minha indignação com o atual modo de fabricantes, de um modo geral, estarem conduzindo as avaliações de carros nos autódromos pelos jornalistas. Há anos participo desses eventos em pista e raramente houve acidente, muito menos que ocasionasse lesão corporal em alguém. Entretanto, o que tenho notado é um crescente e exagerado receio de acidentes por parte dos anfitriões-fabricantes, como se os jornalistas do setor fossem uns incompetentes e os carros não fossem cada vez mais seguros, tanto em comportamento dinâmico quanto num eventual acidente.
Chego a imaginar que hoje paire na cabeça de quem organiza esses eventos o noticiário televiso dos mais graves acidentes de todo tipo nas ruas estradas que acontecem quase diariamente. Ou então achem que avaliar, obter as primeiras impressões de um novo produto seja o mesmo que estar numa corrida, quando o objetivo de propiciar oportunidade de dirigir num autódromo é tão-somente permitir avaliar o veículo sem os riscos inerentes de uma via pública e multas por exceder a velocidade máxima permitida.
Essa indignação, amortecida com o tempo, voltou com força ao assistir ao vídeo do Gerson dirigindo o Audi RS 3 recentemente no Circuito Panamericano usando capacete (foto de abertura), somado ao fato de rodar em comboio. Pelo menos não havia acompanhante no carro, outra aberração inadmissível em minha opinião, ao mesmo tempo um desrespeito ao jornalista especializado em veículos por ter que andar com uma “babá” ao lado. Houve um lançamento da Audi na Fazenda Capuava em que recusei andar com acompanhante e fui atendido. E não se avalia automóvel estando de capacete, perde-se muito da sensação, especialmente a auditiva e ruído no solo, especialmente em curvas.

Outra “medida de segurança” que considero inaceitável nos eventos em autódromos é encher a pista de cones arrumados de maneira a simular chicanes para forçar redução de velocidade, como se o jornalista fosse incapaz de julgar o momento de frear e viesse a se estampar numa defensa metálica na primeira curva.
Tenho certeza de que se a organização dos eventos, na preleção que sempre há, avisar e enfatizar que o fato de se estar num autódromo não significa dirigir como se fosse uma corrida, nenhum jornalista se sentiria ofendido.
Além dessas imposições descabidas, o número de voltas é limitado a duas ou três. incluindo a de sair e a de voltar ao box. É muito pouco.
Exemplos não faltam para provar que o trinômio capacete, acompanhante e obstáculos artificiais é absolutamente desnecessário. No lançamento do Corsa na Espanha em 1994, os carros foram experimentados no Autódromo de Montmeló, na Catalunha. Salvo engano, eram 50 Corsas à disposição da imprensa brasileira para andar por duas horas na pista totalmente livre. Zero acidentes ou incidentes.. O mesmo com lançamentos no Autódromo de Buenos Aires ou no de Caruaru, em Pernambuco (Uno Turbo).
Já contei aqui em outra ocasião mas vale repetir. Durante o ano em que trabalhei como assessor de imprensa para o então importador oficial Porsche, a Stuttgart Sport Car., organizamos uma experimentação do 911 em Interlagos para 15 jornalistas. No dia e na hora do evento chovia. Nenhum problema houve. E ninguém de capacete, que é um equipamento de proteção individual em competições. onde anda-se no limite.
Tudo o que necessário é o jornalista assinar termo isentando o fabricante por acidentes que venham a acontecer e suas consequências, como também se responsabilizar por danos ao autódromo. Só isso bastaria para inibir qualquer intenção de “ser” piloto.
O lançamento do Gol GTI. o de segunda geração 2-litros de 141 cv, em 1995, um “canhão” na época, foi num extenso trecho da rodovia Fernão Dias próximo a Atibaia. Na preleção fomos avisados de que a polícia rodoviária estava ciente do evento e que não nos preocupássemos com multas por excesso de velocidade. Nada de anormal aconteceu.
Por tudo que foi dito, não pretendo mais atender lançamentos em autódromos.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.