Na busca por combustíveis “limpos”, a biomassa é mais que promessa e seu gás já é comercializado nos postos.
Cento e cinquenta anos depois de inventado, o automóvel volta, na prática, ao mesmo estado inicial de incógnita diante das várias alternativas do combustível para movimentá-lo.
Os primeiros automóveis do mundo, no início do século 19, tinham grandes caldeiras produzindo vapor para ser injetado nos motores (chamados, por isso, de combustão externa). No final do século, surgiram os inventores do carro com motor a combustão interna na Austria (Siegfried Markus), França (Debouteville-Delamare) e finalmente Karl Benz na Alemanha (que o patenteou em 1886). No princípio do século 20, a frota de automóveis nos EUA era dividida entre estes três tipos de propulsão (elétrica, vapor e gasolina). O vapor foi logo abandonado por suas trapalhadas operacionais e o elétrico por (acreditem se quiser…) sua baixa autonomia. A gasolina tomou conta do mercado principalmente pela expansão da indústria do petróleo.
Apesar dos milhões de barris de petróleo consumidos hoje diariamente no mundo, existem dúvidas sobre seu futuro no automóvel. Em primeiro lugar, por sua óbvia finitude: mais dia, menos dia, acaba. Segundo, pela inevitável contaminação da atmosfera a partir de sua combustão que emite carbono. E também pela ineficiência dos motores endotérmicos. Há quem diga que as atuais gerações serão praguejadas pelas futuras devido ao desperdício do petróleo queimado nos veículos. Há quem defenda a idéia de que deveria ser preservado para utilizações mais nobres. Na petroquímica, por exemplo.
Sempre se pesquisou alternativas aos derivados do petróleo, apesar de sua extração e distribuição ter tornada sua utilização extremamente prática. Mas, na época da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, milhares de automóveis rodaram no Brasil com o gasogênio, pelas restrições à gasolina. Produzido a partir da queima do carvão, o carro mantinha o mesmo motor, mas era necessário instalar uma enorme e pesada geringonça na traseira.
Manifestações ecológicas subiram o tom nos últimos anos contra o combustível fóssil numa campanha quase histérica contra gasolina, diesel e querosene. Os ecochatos sequer consideram os notáveis avanços dos motores mais modernos que tiveram sua emissão de gases drasticamente reduzida. Os mais radicais não aprovam sequer o carro elétrico, pois alegam que a geração de energia elétrica para carregar suas baterias se traduz em poluição ambiental.
Gás natural veicular (GNV) é uma das alternativas aos derivados do petróleo, embora seja considerado também um combustível fóssil, explorado em jazidas terrestres e marítimas mas com vida também limitada.
Na busca por combustíveis “limpos”, a biomassa já é mais que promessa: trata-se de uma fonte energética da qual se obtém biocombustíveis (álcool etílico e biodiesel) e o biogás. Este pode ser produzido a partir de qualquer resíduo agrícola (origem vegetal) ou urbano (dejetos de animais, lixo, esgoto) em aterros sanitários, estações de tratamento de esgoto, do vinhoto (resíduo da cana), etc.
Ao contrário do gás natural que é considerado um combustível fóssil e não renovável, o biogás (ou biometano) é obtido a partir de fontes de energia renováveis e esta tecnologia começa a ser utilizada em maior volume no Brasil. Por funcionar nos motores a combustão tão bem quanto o GNV (são praticamente intercambiáveis), já foram instaladas no país as primeiras bombas de biometano nos postos.
Nos motores tradicionais, o combustível não é injetado em estado líquido nos cilindros, mas passa antes por um processo de gaseificação. É assim a combustão da gasolina, álcool, ou diesel: só depois de transformado em gás. Verdadeira sopa no mel: estes mesmos motores funcionam também com um combustível fornecido em estado gasoso, caso do GNV ou do biometano.
Quem diria: cocô de boi, vaca e outros bichos (sabia que nosso pum é inflamável?), além de utilizados como esterco em plantações e jardins, foram promovidos à nobre função de substituir o combustível fóssil nos veículos…
BF