BRDC quer renegociar contrato assinado com Ecclestone. Corrida de 2017 custa mais de R$ 71 milhões China poderá ter dois GPs por ano
Não tem o charme de Mônaco, mas é tão tradicional quanto. Não é um destino turístico, mas suas arquibancadas estão sempre cheias. Sua origem é uma base aérea usada na Segunda Guerra Mundial, mas suas instalações são bastante atuais. Fica na zona rural do País, mas basta cruzar a rua para encontrar oficinas com alto nível de sofisticação e tecnologia focadas no automobilismo Ande uns poucos quilômetros e você passará na porta de praticamente todas as escuderias da categoria. Tudo isso não basta para garantir a permanência de Silverstone no calendário mundial. Pelo contrário: a taxa anual de £ 17 milhões — algo próximo de R$ 71,3 milhões —, ameaça fortemente a permanência do famoso traçado de Northamptonshire no calendário da F-1 de 2020.
O contrato atual garante a corrida até 2019 e para continuar válido o British Racing Drivers Club (BRDC, Clube Britânico de Pilotos de Competição) clube que administra o famoso autódromo, deve confirmar esta semana se aceita manter termos atuais desse acordo. Como o valor tem aumentado anualmente em índices maiores que a inflação inglesa, os britânicos decidiram que não vale a pena promover o GP se isso implicar em arriscar a saúde financeira do clube.
A situação não é nova: Bernie Ecclestone, que comandou a F-1 por 40 anos, foi um dos maiores carrascos com os administradores da pista e anualmente exigia reformas e alterações grandiosas, além de aumentos substanciais do pagamento anual. Nada muito diferente do que acontece com Interlagos…
Com Ecclestone fora do comando da categoria, a diretoria do BRDC enxergou a possibilidade de renegociar os termos do acordo e apostou na benevolência e reverência de Chase Carey e da Liberty Media, pessoas física e jurídica, respectivamente, que compraram os direitos da F-1. A aposta está se revelando mais arriscada do que previsto: Carey já adiantou que não pensa em mudar acordos já existentes e firmados de boa fé e alega que os britânicos ganham dinheiro com o GP. Mas como o mesmo Carey já declarou que os circuitos europeus são a espinha dorsal da categoria abriu-se uma possibilidade de negociar custos.
Tudo indica que Silverstone será mantido no calendário após 2019, mas só após uma longa e traumática negociação com a nova FOM, a detentora dos direitos comerciais da F1. Com exceção da Sauber e da Ferrari, todas as demais equipes — oito — da categoria tem pelo menos uma base na Inglaterra a poucos quilômetros de distância da pista e uma parcela significativa do PIB inglês vem da indústria e serviços voltados para o automobilismo de competição; vale lembrar que nem por isso o evento conta com qualquer subsídio do governo. Opções para garantir um final feliz incluem a venda do complexo para a FOM e, mais provável, uma solução onde Carey reveja seus termos de negociação.
China cresce
Se a permanência da Inglaterra no calendário está sob risco, o mercado da Ásia, em especial a China, é o novo cenário de crescimento da categoria. Há poucos dias o diretor comercial da FOM, Sean Bratches, anunciou a assinatura de um acordo com a Lagardère Sports, que a partir do ano que vem ficará responsável pela expansão da F-1 no mercado chinês.
“A Lagardère Sport tem uma rica experiência no mercado chinês, o que garante lucros e retorno aos nossos acionistas a longo prazo.”
Esse contrato não será a primeira experiência da agência francesa no automobilismo: a empresa com base em Paris e escritórios em várias cidades do mundo já comercializa os interesses promocionais dos programas de F-1 e DTM da Mercedes. O acordo com a FOM engloba a promoção de eventos, direitos de divulgação, parcerias digitais e de marcas, merchansiding e desenvolvimento de talentos e equipes de competição. Andrew Georgiou, diretor executivo da agência, já tem clara a linha de trabalho que vai adota:
“Esta nova parceria visa desenvolver conteúdo local de qualidade para a China. Queremos criar um envolvimento profundo com esse mercado visando tornar a F-1 um esporte que faça parte da cultura esportiva do país.”
Dadas as dimensões continentais da China não será estranho se em breve o país receba mais de um GP por temporada. No dia seguinte ao anúncio do com a agência francesa Zak Brown, diretor executivo da McLaren, publicou um artigo interessante em uma rede social focada em negócios. Nesse texto Brown, que é bastante alinhado com os valores de Chase Carey, defende o plano de expansão chinês e sugere uma temporada asiática que poderia incluir duas corridas na China , as provas de Cingapura e Japão e mais um ou dois países da região. Para preencher esse calendário ele sugere corridas de rua em Pequim ou Wuxi.
“Wuxi é um grande centro de negócios e tem investido muito em novas propostas, em especial no bilhar, a nova coqueluche dos chineses. Fazer um GP nessa cidade situada a 140 quilômetros de Xangai, próxima do lago Taihu, seria uma grande oportunidade para apresentar marcas ao mercado local e garantir um excelente retorno para investidores e parceiros.”
WG