Muito falamos e discutimos aqui no AE sobre a falta de uma boa educação no trânsito no Brasil.
Hoje certamente é menos frequente, mas anos atrás era comum conhecermos alguém que havia obtido a CNH apenas fazendo baliza ou, em casos extremos, sem sequer ter dado a partida num veículo. Eu mesma fiz um exame que considero precário e que só provou que eu sabia dar uma volta no quarteirão e estacionar entre dois cones. Absolutamente nada além disso, além de alguns conhecimentos teóricos. E, claro, fiz o exame normal. Fui aprovada na primeira tentativa, como não podia deixar de ser. Se alguém errasse apenas isso é porque não sabia guiar sequer carrinho de Autorama!
Com controles mais rígidos — embora longe de serem perfeitos — como biometria e câmeras, é cada vez mais complicado driblar toda a tecnologia. Pessoalmente, quando estava na escola e via colegas meus fazendo verdadeiras ginásticas para esconder cola nas roupas, chegar mais cedo na escola para grudar os papeizinhos nas carteiras, achava que era mais fácil estudar logo a matéria dos exames do que fazer tudo isso. Para mim era mais rápido e mais lógico do que quase infartar quando algum professor mais esperto mandava todo mundo mudar de lugar logo antes da prova. Mesma coisa com toda a parafernália para não fazer o exame do Detran. É muito mais fácil aprender a dirigir. E, aliás, vai ter que saber mesmo, não? Mas sei lá, tem gente que gosta de se complicar, não?
Se hoje os exames são, sim, mais exigentes, tanto os teóricos quanto os práticos, ainda estamos muito longe dos mais altos padrões internacionais. Uma boa medida que foi adotada é a da CNH provisória por um ano, para quem a recebe pela primeira vez. Faz todo sentido que o novato esteja, digamos assim, sob escrutínio (acharam que eu não ia usar uma palavra difícil? Claro que sim!). Só acho que falta um detalhe, que se usa na Argentina e é bem simples: um selinho colado no carro (P, de Conductor Principiante), que indica que quem está dirigindo é novato.
Evidentemente que o sistema tem alguns inconvenientes. Nem sempre quem dirige o carro é o novato, pois o veículo pode ser compartilhado por outros membros da família. Mas, qual é o problema de alguém mais experiente usar um carro com um selo que diz que a pessoa ainda não tem assim tanta prática? Eu não vejo nenhum. Só vai fazer com que quem está por perto fique ainda mais alerta. Nada além disso. E, por óbvio, se o novato estiver ao volante de um carro que não é o seu ou aquele que usa com mais frequência não terá a “proteção” do selinho. Isto posto, no geral é uma boa medida. E como tudo nesta vida, se ficarmos esperando o ótimo nunca faremos sequer o bom. Ficar de braços cruzados ou não fazer nada é ainda pior. Mas outras sugestões podem ser enviadas para mim a/c do AE por meio de comentário relativo a esta coluna.
Digo isso pois tenho um caso na família. Tenho uma prima que ficava superfeliz andando de ônibus e metrô em Buenos Aires e sequer queria tirar carteira — justamente uma das filhas do meu famoso tio César, aquele que é craque ao volante, o fã de Torinos. Justo ele que aprendeu a dirigir guiando caminhões, ensinou um primo e ainda me deu algumas aulas! E ensinou os outros dois filhos. Mas nada da caçula querer. Acho que perto dos 30 anos é que ela resolveu tirar carteira. E pegou gosto e, como o pai e os irmãos, dirige bem. O irmão, especialmente, parece o pai. Dá uma confiança que dá gosto ao volante. Bom, voltando à minha prima, nos primeiros seis meses o carro da minha tia ganhou um cartaz de “principiante”.
Minha tia, que não gosta de dirigir e está longe de fazê-lo como o resto da família (desculpe, tia, você sabe que eu te adoro, mas entre o milhão de qualidades que você tem não está o de ser um ás do volante), adorou. Andei com as duas no carro e é impressionante como as pessoas realmente tomam mais cuidado. Mantêm mais distância, têm mais paciência, não buzinam na primeira morrida do carro — e olha que paciência não é exatamente uma virtude dos motoristas portenhos. De fato, ajuda a quem está dirigindo em situações reais há pouco vá ganhando confiança e treino sem ter ataques de pânico logo na primeira semana.
O selinho deve ser usado durante o mesmo tempo que dura a primeira habilitação, que depois se torna definitiva se não houver uma infração gravíssima ou graves, ou mais de uma média. Também permite identificar que o motorista não pode circular por determinadas vias expressas.
O mesmo sistema existe na Inglaterra, com uma letra L (de Learner, aprendiz), na França (A, Apprenti) e na Itália (P, Principiante). Certamente há também em outros países. Na Espanha, curiosamente, é L também — como se lá fosse parte do Reino Unido…
Como é na Inglaterra (Foto: raccars.co.uk)
Acho uma ideia prática, pois embora não dê nenhuma vantagem ao condutor, já que não o exime de multas de nenhuma espécie nem lhe dá direitos especiais, avisa aos outros motoristas que essa pessoa pode estar dirigindo mais nervosa e pode deixar o carro “morrer” ao sair do sinal ou errar ao trocar de marcha. Por isso, é bom manter uma distância ainda maior e, claro, exercitar a paciência. Funciona um pouco como um lembrete de que todos já passamos por isso e vi vários sorrisos e gestos de “tudo bem, não se preocupe” na cara das pessoas. Talvez porque sem as faixas adesivas ninguém tem como saber que aquele veículo à frente está numa situação relativamente análoga à de um carro de autoescola. Mas o selinho nos lembra disso e faz ressurgir alguma solidariedade e paciência em todos nós.
Mudando de assunto: Por incrível que pareça estou me livrando aos poucos do robot foot depois de uma eternidade de mais de três meses. Mas umas semanas atrás estive na Pinacoteca de São Paulo e teria sido impossível andar aquele que é meu museu favorito na cidade e o pessoal de lá me ofereceu uma ajuda. O sarcástico do meu marido tirou uma foto e definiu assim: o primeiro Fórmula 1 a gente nunca esquece. Pode?