Não é a primeira decisão controversa da história da F-1, tampouco será a última. A decisão dos comissários esportivos do GP do Canadá em punir o alemão Sebastian Vettel com cinco segundos no seu tempo total de prova colaborou para manter a invencibilidade da Mercedes na atual temporada e impediu o que seria a primeira vitória da Ferrari neste ano. O resultado da corrida disputada esta tarde (9/6) em Montreal já entrou para a história da categoria como um episódio discutível e de difícil interpretação. Enquanto isso, o inglês Lewis Hamilton segue cada vez mais líder do campeonato, agora com 162 pontos contra 133 de Valtteri Bottas e 100 de Sebastian Vettel. O campeonato prossegue em duas semanas com a disputa do GP da França, dia 23, no circuito de Paul Ricard.
O “crime” em questão foi o segundo erro de Vettel com poucas voltas de diferença. Uma freada tardia no grampo permitiu a aproximação de Hamilton, que iniciava um jogo de bater e assoprar no rival, o que fazia a diferença entre ambos variar entre meio segundo e um segundo e meio, por vezes um pouco mais. Duas voltas depois, na 46a, os dois se aproximavam da curva 4 para iniciar uma sequência em “S” de média velocidade quando o alemão tocou a zebra interna na entrada, seu carro resvalou para a grama do lado esquerdo e ao voltar ao asfalto quase bateu contra o Mercedes do inglês, que disputava o mesmo espaço físico (foto de abertura).
Vettel não aliviou, como seria de se esperar de um piloto com sua experiência e na liderança de um GP; o mesmo vale para Hamilton, que analisava o melhor ponto para disputar a freada decisiva em busca do primeiro lugar. Não precisou: os comissários esportivos nomeados pela Federação Internacional do Automonóvel (FIA) para esta prova — Gerd Ennser, Mathieu Remmerie, Mike Kaernee Emanuele Pirro (ex-piloto de F-1 e várias vezes vencedor em Le Mans) — confabularam e decidiram que “The car #5 left the track, re-joined unsafely and forced another car off track.”(o carro número 5 saiu da pista, retornou de maneira insegura e forçou um outro carro para fora da pista”). A pena para tanto foram cinco segundos a mais no tempo que ele precisou para cumprir as 70 voltas da prova: 1h29’5”742. Como Lewis Hamilton completou o mesmo percurso em 1h29’7”084, Vettel acabou classificado em segundo lugar, 3”658 atrás do rival. Charles Leclerc, também da Ferrari, completou o pódio.
Algumas voltas antes desse incidente, Vettel tinha cometido um erro na freada do grampo, a curva que marca um dos extremos do circuito Gilles Villeneuve, falha que vários outros pilotos, inclusive Hamilton, também cometeram. Isso denota que a disputa entre os dois estava forte e que o inglês atacava o rival na esperança de induzi-lo a um novo erro. O que causa estranheza na decisão de hoje é que no GP de Mônaco de 2016 Lewis Hamilton teve atitude semelhante à de Sebastian Vettel ao defender a liderança da prova frente a Daniel Ricciardo. Nenhuma punição foi imposta ao inglês naquela ocasião.
Punições sempre foram e sempre serão alvo de interpretações variadas no automobilismo e em vários outros esportes. A acusação mais normal contra o trabalho dos comissários desportivos é que a maioria absoluta deles jamais atuou como piloto e, por tanto, não teria pleno conhecimento da dinâmica de momentos como o que aconteceu hoje em Montreal. Faz sentido até certo ponto: qualquer piloto com ganas de ser campeão mundial nunca admite que agiu com má-fé para justificar sua atitude dentro da pista. No final das contas, tanto pilotos quanto comissários desportivos são humanos. E o ser humano não é perfeito.
WG