Todo colecionador de miniatura sempre procura algo realmente difícil de se encontrar. Afinal, se fosse fácil não teria graça.
Muitas vezes, um determinado modelo de carro que se deseja ter na coleção, por qualquer que seja o motivo, não é fabricado pelas grandes marcas do mercado de miniaturas. Uma solução para este tipo de dificuldade vem sendo a customização.
A prática da customização não é nova. Há décadas que colecionadores vêm aplicando esta técnica, que consiste em modificar um modelo existente para transformá-lo em algo único, que não está disponível no mercado.
No começo, esta técnica era mais aplicada no mundo do plastimodelismo, que são aquelas miniaturas para montar, como os famosos kits da Revell, por exemplo. Hoje em dia, está se difundindo também no meio dos colecionadores dos chamados diecast, ou os modelos de metal que já compramos prontos, como os conhecidos Minichamps, por exemplo.
Hoje em dia há recursos bem mais acessíveis para quem quer customizar um carrinho. Muitos fabricantes de miniaturas disponibilizam itens para tal mercado, como jogos de rodas especiais (foto de abertura), kits de acabamento, adesivos, e por aí vai. Antigamente, tudo tinha que ser feito “na unha”, esculpido à mão ou modificado de outro modelo que pudesse ser um doador de peças.
Na matéria que falamos aqui no AE sobre o Salão Diecast realizado em São Paulo recentemente, a prática da customização, ou apenas custom, era o destaque do evento, onde até um campeonato foi promovido pelos organizadores. No caso, eram apenas customs de diecast.
Muita gente está fazendo estes customs utilizando miniaturas de HotWheels como base, uma vez que são peças baratas, com larga variedade de modelos e opções, deixando o pessoal praticamente livre para fazer a miniatura do jeito que quiser. Um HotWheels é equivalente a uma miniatura na escala 1/64 (quer dizer que é 64 vezes menor que o carro real), mas há um grande mercado para as escalas 1/43 e 1/18, as mais populares do mundo.
Pessoalmente, acho uma prática muito interessante, pois aumenta consideravelmente o leque para os colecionadores, principalmente para os que já possuem um foco na coleção e faltam modelos que não são encontrados no mercado.
Na minha coleção, por exemplo, que é focada em carros de competição, há um enorme buraco para modelos nacionais ou que tiveram algum destaque relacionado ao Brasil, como carros de fora que vieram correr aqui. Em função disto, comecei a fazer algumas peças com esta temática. Por conta de disponibilidade de modelos na escala 1/43 para servir de base para o custom, fiz uma linha dos carros de corrida da equipe Willys e dos GT Malzoni, com mecânica DKW, da equipe Vemag ambos sucessos dos anos 60 no Brasil. Há muitas outras possibilidade ainda para explorar, tudo uma questão de tempo.
No meu caso, que procuro fazer miniaturas de carros de corrida, a parte mais legal é correr atrás das informações, fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre determinado carro, determinada corrida, para saber exatamente o esquema de pintura do carro, que geralmente muda de corrida para corrida, em especial no passado onde cada carro a prova tinha patrocinadores diferentes. É um grande desafio mas o resultado final compensa qualquer sofrimento.
O Malzoni do Emerson das Mil Milhas foi um ótimo caso. Com poucas fotos disponíveis de época, tive que recorrer a fontes mais confiáveis, como quem esteve lá no dia da corrida e até mesmo quem trabalhou no carro.
Nestas miniaturas, em especial nos GT Malzonis, modifica-se os para-choques, as lanternas, adicionamos faróis de longo alcance e o bocal do tanque de combustível, tudo feito à mão.
Não só carros antigos são mais raros de serem feitos por fabricantes mundiais, mas há versões específicas que também não são feitas nem de carros bem atuais. Por exemplo, na 6 Horas de São Paulo de 2014, que cobrimos aqui no AE, o Audi R18 do brasileiro Lucas di Grassi correu com uma pintura especial que tinha a bandeira do Brasil pintada no splitter dianteiro e uma dedicatória na barbatana central para Tom Kristensen, que fazia sua última corrida pela Audi. Esta miniatura não foi feita por nenhuma marca, então para ter na coleção um carro com este peso nacional, e que pude ver correr ao vivo, fiz uma customização própria.
Quando falamos em customizar uma miniatura diecast (de metal), alterando a pintura, por exemplo, é preciso trabalhar com solventes para remover a pintura original. Antes disto, temos que desmontar a miniatura, remover todas as peças de plástico, pois o solvente vai atacá-las se entrarem em contato.
Não é complicado se a miniatura for mais simples, como um HotWheels mesmo, que basta remover os rebites do assoalho que a parte de baixo solta inteira, e ai é só remover o interior (que é uma peça única) e os vidros, para depois colocar tudo de volta.
Uma vez removida a tinta original, começa o processo de pintura como de um automóvel real. Aplica-se um primer para selar e equalizar a superfície, depois aplica-se a tinta e o verniz. Usa-se muito tinta automobilística (PU ou poliéster), uma vez que é aplicada sobre metal e tem uma boa cobertura e acabamento.
Depois de aplicado o verniz, lixa-se toda a peça para depois fazer o polimento, assim a pintura vai ficar com um brilho excelente e sem o efeito de “casca de laranja”, que deixa com um aspecto bem feio.
Decais especiais podem ser aplicados para a ter mais detalhes. Hoje em dia no Brasil é fácil encontrar decais para customização a um preço bem acessível. É o jeito mais fácil de se customizar uma miniatura para quem não quer mexer com pintura, por exemplo.
Os exemplos que citei anteriormente como dos modelos que eu fiz são voltados para carros de corrida, mas há uma outra infinidade de temáticas que podem ser feitas, como transformar uma miniatura em um hot rod ou um rat rod, algo bastante comum hoje em dia.
Nestes casos, o customizador substitui as rodas originais por outras maiores, fazem alguns cortes no corpo da peça para dar o efeito da miniatura estar rebaixada, e claro, fazem outra pintura. Os mais detalhistas ainda adicionam detalhes como motores expostos, mangueiras de radiador, fiação, detalhes de interior, e assim por diante.
Há quem seja bem mais radical e parte para uma customização total, onde a carroceria é cortada, aumentada, encurtada, aberta ou fechada, para transformar o carrinho de tal forma que seja uma peça totalmente nova se comparada com a que serviu de base.
Usa-se massa plástica, poliestireno, resinas e até mesmo metal derretido (estanho e zamac) e para criar peças e detalhes novos.
Pode tudo parecer complicado e requerer um dom artístico para fazer uma miniatura custom, mas é só impressão. Quem quiser começar a brincar com estas opções, pode partir para as customizações mais simples, como apenas adesivos uma miniatura já existente.
Depois pode evoluir um pouco nas técnicas, desmontando as peças, entendendo como o carrinho é montado e o que pode ser substituído, e aos poucos vai ganhando experiência e confiança. Vale a pena tentar, isso eu garanto.
Quem quiser conhecer mais sobre os HotWheels customizados, este site a seguir é ótimo (em inglês): mycustomhotwheels.com
Tenho disponível para venda alguns dos modelos que customizo no meu site MVR Miniaturas, juntos com diversos outros modelos.
MB