Em menos de quinze dias (entre o final de julho e início de agosto), três automóveis explodiram enquanto eram abastecidos com GNV em postos no Rio de Janeiro.
Coincidência ou o GNV é perigoso?
Ele é seguro desde que sejam respeitadas as regras básicas de segurança para a instalação do kit de gás e sua manutenção.
Dos três carros, já se confirmou que pelo menos dois (Peugeot 208 e Fiorino) envolvidos nos acidentes rodavam irregularmente, pois não tinham se submetido à inspeção obrigatória do sistema de gás e, pior, com cilindros de gás irregulares.
Foram raros os automóveis produzidos no Brasil que deixaram a linha de montagem prontos para o uso do gás natural veicular (GNV). Num passado distante, Chevrolet Astra, VW Santana e Ford Ranger. Mais recentemente, Toyota Etios e Fiat Siena.
A grande maioria dos veículos que rodam com GNV recebem um kit especial, instalado por empresas licenciadas pelo Detran e acreditadas pelo Inmetro. Eles continuam mantendo o tanque original de combustível (gasolina ou álcool) e adicionam um cilindro (em geral no porta-malas) para o gás natural. Depois de instalado o sistema que o habilita para o GNV (que custa hoje cerca de R$ 5.000), ele recebe um Certificado de Segurança Veicular (CSV) que deve ser renovado anualmente mediante uma nova inspeção. Estes kits geralmente são adaptados por motoristas que rodam elevadas quilometragens, caso contrário é muito demorado o retorno do investimento para o GNV. Depois de instalado, deve ser vistoriado conforme determina a Lei Federal 16.649/2018 e a portaria do Inmetro nº 122/2002. Posteriormente, submeter-se a vistorias anuais. E o cilindro por um processo de requalificação cada cinco anos.
No município do Rio de Janeiro, onde ocorreram duas das explosões, (a terceira foi em São Pedro da Aldeia. RJ), a lei exige a verificação do “selo GNV” para que o posto o abasteça. Como os dois carros estavam irregulares, tudo indica que o frentista os abasteceu sem verificar o CSV.
Mas as estatísticas apontam para um grave problema entre os carros adaptados para o gás. Até junho deste ano, a frota nacional destes veículos era de cerca de 2,6 milhões. Apesar disso, apenas 740 mil (28%) rodam com o CSV atualizado. A maioria (72%) está irregular e muitos jamais foram submetidos à inspeção veicular.
As análises preliminares em dois dos carros que explodiram (o dono do primeiro foi socorrido, mas faleceu no dia seguinte, em 27/7) revelaram que seus cilindros estavam irregulares. Um deles não era sequer o que tinha sido submetido à inspeção no ano passado e foi retirado de um carro roubado com sinais de ter sido atingido por incêndio.
Além destas irregularidades, existem outras mais graves, como o motorista que adapta o botijão de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), o chamado “gás de cozinha” em vez do cilindro de GNV, pois seu m3 é mais barato. O motor funciona, entretanto os riscos de uma explosão são enormes, pois o motorista ignora a diferença de pressão entre os dois. O cilindro do GNV foi projetado para suportar pelo menos 220 bar, sua pressão de trabalho. Enquanto isso, o botijão de GLP suporta apenas 30 bar. Ou seja, se submetido a uma pressão quase oito vezes maior, são grandes as possibilidades de se romper violentamente, o que de fato já ocorreu diversas vezes no Brasil.
Entre as diversas recomendações a serem observadas durante o abastecimento, o frentista deve fazer o aterramento próximo à válvula do GNV, para evitar o perigo de uma centelha.
Em resumo, carro com gás natural é tão seguro quanto qualquer outro, desde que a legislação seja respeitada. É aí que a porca torce o rabo, pois o Brasil é um país onde tem lei “que pega” mas também a “que não pega”…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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