Conforme informação no site da publicação francesa l’auto-journal, a União Europeia está revendo detalhes da lei sancionada no mês passado e que prevê proibir definitivamente a venda de veículos novos dotados de motores térmicos a partir de 2035. Ainda, segundo a publicação, esta possível reversão de rota foi provocada pela Alemanha “para atrapalhar os planos”. As fontes dizem que o ministro dos Transportes alemão, Volker Wissing, exigiu liberações na lei. Agora, as partes envolvidas buscam um acordo antes da cúpula europeia, que deve ocorrer nesta semana.
A contestação teve início com a Itália, que havia se oposto ao projeto, mas não teve força suficiente para enfrentar sozinha a decisão do parlamento europeu. Agora, com a Alemanha se posicionando a favor da legalização da venda de carros novos, a partir de 2035, movidos com os chamados E-combustíveis (erroneamente denominados eletrônicos), a balança pesou. Com o apoio dos búlgaros, poloneses e italianos, o governo alemão usou sua força econômica para solicitar revisão da proposta. Mas isso não deverá ser fácil, já que a França não gostou da mudança de postura da Alemanha.
Em declaração a publicação L’Automobile, o ministro francês dos Transportes, Clément Beaune, reclamou: “Devemos manter nosso objetivo com relação a eletrificação. É muito importante, inclusive para nossos industriais, tanto na França, como na Alemanha. Se não mantivermos essa ambição seremos varridos industrial e ecologicamente (…) e devemos dar claros sinais de que conseguiremos tornar o carro elétrico acessível a todos”. Mesmo assim, o futuro 100% elétrico da Europa parece incerto, pelo menos não deve acontecer tão cedo quanto esperado.
Razões como infraestrutura e poder de compra, além de proteção da indústria automobilística europeia, são os argumentos para a tentativa de revisão do plano, que prevê a criação de uma nova categoria de veículos para funcionar exclusivamente com combustíveis neutros em carbono. A agência Reuters teve acesso ao plano, no qual os veículos deverão respeitar uma espécie de ‘sistema de incentivos e regulação de abastecimento’, que impediria o carro rodar se for abastecido com qualquer outro tipo de combustível, no caso fóssil.
Se a Alemanha decidiu se posicionar contra o fim da energia térmica é porque acredita que os combustíveis sintéticos podem ter espaço na “nova” matriz europeia de transportes. “É preciso liberdade de escolha em questão de tecnologia. A decisão sobre os motores é uma questão para os clientes e para os fabricantes, não para os políticos”, declarou a L’Automobile, Christian Lindner, ministro das Finanças alemão. Os combustíveis sintéticos são fonte de esperança, principalmente para marcas de modelos de alto padrão, como a Porsche, que está investindo nesta tecnologia em uma usina instalada no Chile.
Por enquanto, o custo de um litro é proibitivo, mas muitos especialistas estimam que possa cair para menos de € 2 em alguns anos. Dois euros, excluindo impostos, é claro, ainda representaria um preço particularmente alto. Por isso, os fabricantes franceses com a Renault na liderança e que estão investindo pesadamente nos 100% elétricos, não estão gostando dessa possível mudança de rumo. Para eles, a transição para a mobilidade elétrica é cara e a indústria é uma máquina com enorme inércia e que dificilmente pode se manter saudável enfrentando o sabor da incerteza.
RM