Este texto me foi passado por um amigo nos Estados Unidos. Ele não informou a fonte, mas considerei-o muito interessante e merecedor de ser compartilhado com o leitor. Mas como não se deve publicar nada sem citar o autor, procurei e rapidamente encontrei-o. É um site chamado “The Motley Fool” (http://boards.fool.com) e a história original está aqui. O autor é David Donhoff. Como ocorre com toda história, pode haver imprecisões, mas ela é belíssima e sobretudo factível.
BS
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HISTÓRIA DO RÁDIO DE AUTOMÓVEL
Parece que carros sempre tiveram rádio, mas não é bem assim. Eis a história.
Uma noite, em 1929, dois jovens chamados William Lear e Elmer Wavering levaram suas namoradas até um local onde havia uma majestosa vista do rio Mississipi, na cidade de Quincy, no estado de Illinois, para ver o pôr do sol.
Certamente que era uma noite para namorar e curtir, mas uma das moças observou que seria muito melhor se pudessem escutar música no carro. Lear e Wavering gostaram da idéia e ambos mexiam com rádios (Lear havia servido na Marinha americana como operador de rádio na Primeira Guerra Mundial) e não demorou para que desmontassem um rádio doméstico para tentar fazê-lo funcionar num automóvel.
Mas não era nada fácil, pois carros tinham interruptores de ignição, dínamo, velas de ignição e outros equipamentos elétricos que geravam interferência estática e ruído, tornando quase impossível escutar o rádio com o motor funcionando.
Lear e Wavering identificaram e eliminaram as fontes de interferência elétrica um a uma. Quando finalmente conseguiram fazer seu rádio funcionar, levaram-no a uma convenção sobre rádio em Chicago.
Lá conheceram Paul Galvin, dono da Galvin Manufacturing Corporation. Ele produzia um produto chamado “eliminador de bateria”, um dispositivo que possibilitava que rádios que funcionavam a bateria funcionassem com corrente alternada residencial.
Mas à medida que mais casas tinham instalação elétrica, mais fabricantes de rádios produziam rádios que funcionavam com corrente alternada.
Assim, Galvin precisava de um novo produto para fabricar. Quando ele conheceu Lear e Wavering na convenção sobre rádio, encontrou o que procurava. Ele acreditou que rádios de automóveis fabricados em massa poderiam ser baratos e tinham potencial para se virem a ser um grande negócio.
Lear e Wavering se instalaram num canto na fábrica de Galvin e quando aperfeiçoaram seu primeiro rádio, instalaram-no no Studebaker dele.
Galvin foi então a um banqueiro local para pedir um empréstimo. Para facilitar as coisas, mandou seus funcionários instalarem um rádio no Packard do banqueiro.
Boa idéia, só que o rádio não funcionou e meia hora depois de instalado o Packard do banqueiro pegou fogo — e, claro, Galvin não conseguiu o empréstimo. Mas ele não se deu por vencido.
Foi com seu Studebaker até Atlantic City, a cerca de 1.300 quilômetros, para mostrar o rádio na convenção da Associação dos Fabricantes de Rádio de 1930.
Sem ter como comprar um estande, ele estacionou o carro fora do prédio da convenção e aumentou o volume do rádio de maneira que os participantes da convenção pudessem ouvi-lo. A idéia deu certo, pois ele conseguiu pedidos suficientes para colocar o rádio em produção.
O nome: o primeiro modelo de produção foi chamado de 5T71
Galvin percebeu que precisava ter alguma coisa mais atraente como nome. Naquele tempo muitas empresas do ramo de fonógrafos e rádios usavam o sufixo “ola” em seus nomes comerciais — Radiola, Columbiola e Victrola eram os três maiores então.
Galvin decidiu partir para o mesmo esquema, e como seu rádio era para ser usado num veículo a motor, resolveu chamá-lo de Motorola.
Mas mesmo com a mudança de nome, o rádio continuava a ter problemas. Quando o Motorola começou a ser vendido em 1930 custava cerca de US$ 110 fora a instalação, enquanto um carro novo saía por cerca de US$ 650, além do fato de o país estar entrando na Grande Depressão. Para comparação, esse preço corresponderia a cerca de US$ 3.000 hoje.
Em 1930, dois homens levavam vários dias para instalar um rádio no carro. O painel tinha que ser todo desmontado de modo que o receptor e o alto-falante único pudessem ser montados, e o teto tinha de ser cortado para colocar a antena.
Esses primeiros rádios funcionavam com bateria dedicada, não a do carro, sendo necessário abrir buracos no assoalho para acomodá-la.
O manual de instalação continha oito diagramas completos e 28 páginas de instruções. Se vender auto-rádios que custavam 20% do preço de um carro zero-km não era nada fácil em tempos normais, o que diria durante a Grande Depressão.
Galvin perdeu muito dinheiro em 1930 e passou por dificuldades alguns anos após isso. Mas as coisas mudaram em 1933 quando a Ford passou a oferecer os Motorolas como item de fábrica.
Em 1934 tiveram novo impulso quando Galvin fechou um acordo com a fabricante de pneus B.F. Goodrich para vender e instalar os rádios na sua rede de lojas de pneus
Nessa época o preço do auto-rádio, instalado, havia caído para US$ 55. O auto-rádio Motorola havia pegado e vendia bem (o nome da empresa seria mudado oficialmente de Galvin Manufacturing Corporation para Motorola em 1947).
Enquanto isso, Galvin continuava a desenvolver novos usos para os auto-rádios. Em 1936, no mesmo ano que a sintonia por botões foi introduzida, foi lançado o Motorola Police Cruiser, um rádio de carro normal que tinha uma freqüência preestabelecida, de fábrica, para escuta da conversa da polícia.
Em 1940 ele desenvolveu o primeiro rádio transceptor de mão, o Handie-Talkie para o exército americano.
Muitas das tecnologias de comunicação que conhecemos e achamos normais hoje nasceram nos laboratórios da Motorola nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.
Em 1947 a empresa lançou o primeiro televisor por menos de US$ 200. Em 1956 foi a vez do primeiro pager, em 1969 veio o equipamento de rádio e televisão usado para transmitir os primeiros passos de Neil Armstrong na Lua.
Em 1973 a Motorola inventou o primeiro telefone celular de mão do mundo.
Hoje a Motorola é um dos maiores fabricante de telefones celulares do mundo.
E dizer que tudo começou com o auto-rádio!
E os dois sujeitos que instalaram o primeiro rádio no carro de Paul Galvin, o que foi feito deles?
Elmer Wavering e William Lear seguiram rumos diferentes na vida.
Wavering ficou na Motorola. Nos anos 1950 ele ajudou de novo na evolução do automóvel ao desenvolver o primeiro alternador para substituir o ineficiente e não confiável dínamo. A invenção levou a itens de luxo e conforto como acionamento elétrico dos vidros, do ajuste dos bancos e até do ar-condicionado.
Lear continuou inventando. Ele obteve mais de 150 patentes. Lembra dos toca-fitas a cartucho de oito trilhas? Foi invenção de Lear.
Mas ele ficou realmente famoso foi pelas contribuições no campo da aviação. Inventou o localizador automático de direção (ADF, a sigla em inglês de Automatic Direction Finder) para aviões, ajudou na invenção do piloto automático (o verdadeiro, aeronáutico, que mantém rumo e altitude, não o erroneamente assim chamado para automóveis) e projetou o primeiro sistema de pouso totalmente automático.
E em 1963 criou a sua mais notável invenção entre todos, o Lear Jet, o primeiro jato executivo do mundo de preço acessível (nada mau para um sujeito que abandonou a escola após o ensino básico).
É sempre interessante saber como as coisas com que estamos habituados e achamos tão normais, foram criadas.
E, mais ainda, saber que tudo começou com uma moça fazendo uma sugestão!
Ae/BS