Fiz essa foto enquanto eu e um pequeno grupo de jornalistas éramos levados do hotel ao local de um evento em Genebra, Suíça, semana passada. Era uma rua lateral, estreita, de acesso a várias outras. Brinquei com os colegas que se fosse aqui teríamos passado por umas dez lombadas…Nessa rua, e onde quer que andássemos na região, nenhuma. Não existe.
Essas viagens ao exterior servem para várias coisas. Uma delas, mostrar o quanto estamos atrasados em termos de circulação, a comprovação de que estamos numa verdadeira selva de asfalto.
Não é a primeira vez que falo nisso e nem será a última. O Brasil é uma nação completamente idiotizada em matéria de trânsito. Está certo que grande parte dos motoristas não tem a educação, tanto de berço quanto de trânsito, necessária para a harmonia que se espera na circulação viária, são problemas sociais de difícil e demorada solução, mas que uma condução do trânsito brasileiro calcada em princípio sadios de engenharia de tráfego resolveria 80% dos problemas, não tenho a menor dúvida.
Tenho base para afirmar isso, não é mera invencionice. Como tenho 72 anos, quando obtive a carteira de habilitação estávamos em dezembro de 1960. Havia trânsito tanto quanto hoje, guardadas as proporções, mas tudo seguia um padrão, que posso chamar de mundial, em termos de sinalização vertical e horizontal.
E, claro, sequer se imaginava que ruas, avenidas e estradas pudessem vir a ter obstáculos artificiais da mesma maneira que seria impensável existirem nas vias férreas ou, extrapolando, nos rios e mares. Ou no ar. Entretanto, elas estão aí se multiplicando pelo país todo como um câncer. Dirigir no Brasil atualmente é o próprio inferno na terra. A lombada, esse dejeto viário, estar até regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) chega a ser algo surrealista. Como pode, um obstáculo ser regulamentado?
O pior é que a lombada, além de seus malefícios (e nenhum benefício), virou símbolo de status. Ter uma à porta de casa parece dar importância a quem ali mora. E não só isso, constroem-se lombadas à revelia da autoridade de trânsito, na marra, sem obedecer a qualquer norma, e fica por isso mesmo, numa total e irresponsável omissão do poder público.
Como os porcos que vivem tranqüilamente no chiqueiro, os brasileiros vivem em outro, que são as ruas e estradas infestadas de lombadas, todo mundo feliz. Ainda estar para nascer alguém que dê um basta a essa vergonha nacional, que mande retirá-las todas.
É evidente que com a minha idade não vou ver esse dia chegar, o dia de voltarmos a ser uma nação de ruas e estradas normais, pois a nossa, atual, é um verdadeiro lixão viário, uma nação amaldiçoada.
Antes essa maldição fosse só na questão das lombadas…
BS
Foto: autor