Esse pequenino Fiat é o menor de todos os Fiats. Menor que o Uno e também menor que o Panda, na versão Cult, que tem pára-choques menores. Não é o mais leve, pesa 1.164 kg contra 920 kg da versão mais leve do Uno. Mas tem 167 cv, que lhe garante uma relação peso-potência excelente. Enquanto os 500 “normais” são muito comportadinhos, o 500 Abarth tem uma cara mais marrenta, como todo bom esportivo deve ser.
Não me lembro exatamente de onde tirei essa idéia (talvez já tenha visto em algum lugar), mas esse piccolo potente me remete ao menor super-herói de todos os tempos, e um dos mais simpáticos também, a Formiga Atômica, do Hanna-Barbera (!). Os mais novos, com menos de 40 anos, devem estar boiando, pois a Formiga Atômica já saiu de cena faz muito tempo, possivelmente pela ingenuidade típica dos desenhos animados mais antigos. Eu era apenas um garotinho quando a assistia na TV. Mas ela era uma formiguinha poderosa, forte e dava pau em todos os vilões.
O conceito era muito legal. Um frágil e diminuto inseto, que ninguém dá nada por ele, mas que pode carregar facilmente 100 vezes o seu peso se torna um herói. Assim como o 500 Abarth. Até o capacete que ela usava também nos remete às pistas. E também tem o A no peito…
De tempos em tempo eu dou uma olhadinha nas estatísticas do site e acabei de fazer isso agorinha. A matéria feita no lançamento do Abarth foi uma das mais lidas dos últimos tempos. Isso demonstra o grande interesse que esse carro desperta. Essa matéria é bem uma continuação da matéria anterior, teste feito em pista em novembro de 2014 (Fiat 500 Abarth, na medida certa) que está bem completa em termos de informações técnicas. Portanto não vou repetir tudo aqui. O que ficou faltando era o no uso, para entender como esse 500 se comporta no dia a dia. E mais; no final tem um bônus com as impressões do JJ e um vídeo adicional com “erros”.
Já vou começar logo com o que mais ficou faltando na avaliação em pista, o comportamento da suspensão na rua. Em um primeiro momento eu achei um pouco mais dura do que minha expectativa. Mas testando esse carro aprendi mais uma coisa que não tinha notado ainda. Dependendo da condição nosso corpo tem uma capacidade de adaptação às reações da suspensão. Eu sempre insisto que uma volta rápida não é suficiente para ter uma opinião mais precisa sobre qualquer carro que seja. Dá no máximo para saber seu jeitão. Mas tanto críticas fortes ou elogios rasgados devem ser evitados até que se entenda mais do carro. E depois de alguns dias com o carrinho pra lá e pra cá meu corpo meio que se integrou com o carro, como uma calça jeans veste melhor depois do terceiro ou quarto uso.
O MINI Cooper S da geração anterior (pois esse novo não testei ainda) é um dos carros mais esportivos do mercado. Respostas imediatas, caixa automática super-rápida, direção idem e suspensão praticamente de competição. Por isso eu gosto muito dele. Numa escala de zero a dez, sendo dez o mais esportivo/duro e zero o mais confortável/mole, o MINI Cooper S está no 10. Obviamente que quanto mais nos extremos dessa escala pior é o compromisso entre esportividade e conforto. E se falarmos de compromisso, essa relação é melhor no Abarth. Nessa escala ele ficaria no oito, mais equilibrado e mais adequado ao uso diário.
Portanto, achei sua suspensão excelente, pois não compromete a esportividade em nada e é mais adequada ao nosso tipo de piso. A Fiat brasileira usou a calibração americana como ponto de partida, que é menos extrema que a européia. Tomou a decisão certa. Os pneus 195/45R16 são muito apropriados também. Não há estepe, mas sim um conjunto de compressor e selante que fica sob o banco do motorista.
Teve um fato que ajudou a melhorar a impressão sobre a suspensão. Os quatro pneus estavam com 37 lb/pol², quando deveria ser 35 na frente e 33 atrás, de acordo com o manual. Com as pressões corretas o conforto melhorou bem.
Na pista, com retas enormes, larga e vasta área de escape, a sensação de velocidade fica prejudicada. Em vias mais apertadas dá para sentir melhor a aceleração. E essa formiga é bem esperta mesmo. Com o botão Sport acionado e a pressão máxima do turbo de 1,24 bar liberando o torque máximo de 23 m·kgf já a 2.500 rpm, o acelerador fica mais nervoso e a direção menos assistida. Bom para uma subida de montanha. Aliás, era isso que eu queria descobrir quando decidi levar o piccolo até o Pico do Jaraguá, em São Paulo, que tem uma serrinha fantástica.
Mas Deus nem sempre ajuda a que cedo madruga. Chegamos lá no inicio da estrada cedo demais e na entrada demos com uma cancela que só seria liberada às 7 da manhã, junto com uma multidão de esportistas que usam a pista para se exercitarem. Como eu já havia andado bastante com o carro deixei o JJ fazer a sua avaliação. E mais tarde, inconformado com a situação, estiquei até à Estrada dos Romeiros para andar um pouco mais solto.
O Abarth faz de zero a 100 km/h em 6,9 s, o que o coloca numa liga interessante, próximo a carros como Mégane R.S. (6,0 s), Golf GTI (6,5 s) e Toyota GT86 (7,6 s). O Bravo T-Jet, que não é MultiAir, faz em 8,7 s. O atômico também faz parte do Clube dos 200 com velocidade máxima de 213,5 km/h. Esse conjuntinho de motor, caixa manual (5 marchas), suspensão e tamanho realmente deixa o carrinho muito entusiastasmante.
O que eu senti falta foi de uma direção um pouco mais rápida e um volante um pouco menor. Mas isso é uma coisa bem pessoal. O Abarth tem relação de direção de 15,5:1 conta 16,3:1 das outras versões do 500. Para se ter uma idéia, o Mégane R.S. tem 14:1 e o GT86, 13:1. Mas. pensando bem, um carrinho tão pequeno, com uma direção muito rápida, poderia ser mais desafiador que o necessário. O peso da direção é perfeito. Uma coisa que senti falta é o ajuste de distância do volante. Não achei uma posição 100% satisfatória. Mas sou mais alto que a média.
O escalonamento das marchas é irrepreensível. Bem como a localização da alavanca, a menos de um palmo do volante, mais altinha e sempre ao alcance. Embora o trambulador seja melhor do que o do T-Jet, eu ainda senti falta daquela “sugada” da alavanca nas trocas. O curioso é que já vi comentários de pessoas que gostariam que esse carro viesse com a caixa automática Aisin de 6 marchas, disponível nos EUA. Acho isso um pecado. Esse carrinho pede todo o envolvimento do motorista, que proporciona o máximo de prazer na tocada mais esportiva. Na verdade não são os fabricantes que estão matando as caixas manuais, é o próprio mercado. Aqui elas ainda são muito populares apenas por uma questão de custo e preço. Mas com o barateamento das robotizadas essa tendência deve mudar. Realmente uma pena.
No uso diário esse 500 é bem prazeroso. Bem pequeno mesmo, é um pouco mais que um 2+2, que normalmente têm o banco traseiro só de enfeite. No 500 esse dois lugares são usáveis. Está certo que quem vai atrás vai apertadinho, mas dá para usar na boa. Para quem não precisa transportar mais pessoas vai muitíssimo bem.
O porta-malas tem 185 litros mais o espaço do banco traseiro. Eu levaria facilmente todas as minhas tralhas para passar um mês em qualquer lugar. Minha mulher e filha se queixaram do uso em modo PK Sport. Nesse modo ele realmente fica muito arisco. Na cidade é melhor deixar no normal. Assim o diabinho do ombro direito dá um tempo.
Na cidade ele raspa bastante a frente, curiosamente bem mais que o frentudo Bravo. Afinal são 120 mm de altura do solo com um pára-choque mais saliente para acomodar os dois resfriadores de ar, um de cada lado.
Por dentro muitos vão achar simples. O Fiat 500 foi lançado em julho de 2007. Portanto, ele ainda tem comandos com botões, e bem fáceis de operar. Eu gosto de interior simples, principalmente em esportivos, onde a distração deve ser apenas a tocada. Ar-condicionado e áudio, e só. Ou melhor, também há o botão Sport. Bem visível, direto, convidativo. Os carros estão ficando sofisticados demais e cada vez mais necessitando que todos sejamos uma espécie de Apple Genius (esses atendentes que nos ajudam nas lojas da Apple) para aprender a mexer nos menus e configurações dos equipamentos modernos. Ainda sou de uma geração que tem um certo interesse em aprender. Os mais novos aprendem facilmente e os mais velhos ignoram. Acho que estou na pior geração. Mas gosto da simplicidade lógica do 500. E no painel de instrumentos ainda há uma boa dose de configurações diversas. Aliás, esse painelzinho com mostrador circular único é muito eficiente e fácil. Há o indicador de aceleração nos dois eixos, brinquedo que só usei na pista. Há também muitos detalhes que nós entusiastas gostamos, como costuras vermelhas, bancos esportivos, sapatas de pedais esportivas, só faltando o cinto de segurança ser vermelho.
Um dos elementos que eu acho essencial em um esportivo é o som do escapamento. Som real, não essa porcaria de som “reforçado” pelos sistema de áudio. E nisso o Abarth é um dos carros mais excitantes que andei ultimamente. É como se a formiga tivesse o som de um zangão, já que escorpião não faz som! Só perde para o urro bestial dos Audis RS. Mas ainda assim o Abarth é um herói mais civilizado e por isso proporciona prazer em uma forma mais simples e usável.
No lançamento no ano passado a Fiat disse que o preço seria ao redor de R$ 80.000. Ficou quase isso devido a essa alta do dólar, saindo o carro sem opcionais e nas cores sólidas, branco, preto ou vermelho, por R$ 81.710. O cinza que é metálico custa mais R$ 1.433. Além disso o teto solar sai por R$ 3.800 e o sistema de áudio da marca Beats (minha filha pirou, e eu também!) com subwoofer no porta malas por R$ 2.015.
Eu gostei muito do 500 nervoso e ele leva o “selo do PK”.
PK
Fotos: PK
Fiat 500 Abarth na montanha
Juvenal Jorge
Eu havia percorrido algumas poucas vezes a estrada bem curta, de 4,5 quilômetros, que leva ao Pico do Jaraguá, mas nunca com carros de caráter esportivo. O convite do PK para dividir a avaliação e dar meus palpites do que achei do pequeno carrinho levou-nos diretamente a esta bela estrada, onde até bem pouco tempo era realizada anualmente uma prova de subida de montanha. Era organizada pelo Auto Union DKW Club do Brasil e atraía muitos carros interessantes; infelizmente não tem havido mais . O 500 Abarth pode, sem dúvida, se encaixar nessa categoria, de carros que dão para usar com entusiasmo e interesse constante, tanto pela sua aparência quanto pelo comportamento.
Saí de casa bem cedo, antes do sol aparecer, como é de hábito com o Paulo, tanto pelas facilidades de deslocamento em São Paulo quanto pela luz ideal para as fotos e vídeos.
Resultado: chegamos à entrada da estrada antes de ser permitido entrar de carro, às 7 horas da manhã. Normal quando inventam alguma novidade e não há divulgação, já que isso é novidade até para o Paulo, que freqüenta o local de vez em quando. Para não ficarmos parados, andamos por perto, nas ruas que contornam o sopé do Pico do Jaraguá, indo para perto do Rodoanel fazer algumas fotos e depois tomar um café. Nessas pequenas atividades, além da ida e volta desde a Zona Sul, o carro foi perfeito, sendo conduzido de forma tranqüila todo o tempo, sem problemas e sem gerar maiores preocupações ao motorista.
Chama atenção com suas rodas escuras, os adesivos e o belo emblema do escorpião num lugar incomum, nas laterais, logo atrás das portas. E como esse Abarth sai de qualquer enrascada de trânsito com sua pronta potência! E como seus comandos são leves e precisos! Tem até hill holder, útil para quem tem dificuldade em arrancar nas subidas com câmbio manual, pois o carro fica freado automaticamente por dois ou três segundos.
O maior cuidado a ser tomado com o carro é em relação à altura livre do solo. Como tem suspensão, rodas e pneus diferentes dos 500 não Abarth, e fica um pouco mais baixo que estes, é mais comum raspar o assoalho e os componentes inferiores nos obstáculos ridículos de nossas ruas quinto-mundistas. Mas é um problema que pode ser contornado com atenção na maioria das vezes.
Trabalhar câmbio e embreagem é tranqüilo, e nos deixa a certeza do quanto isso é prazeroso quando se gosta de dirigir. A direção até é leve, mais do que eu gosto, mas extremamente precisa e sempre rápida. O conforto do banco é muito bom mesmo, e um teto solar enorme para o tamanho do carro, muito agradável durante o dia com a cortina para cortar o sol, que sem dúvida deve ser maravilhoso à noite, melhor período para se usar um teto que abre.
Na subida do Jaraguá, pura diversão, mesmo sem acelerar tudo que o carro consegue. Segurança em primeiro lugar, já que há pedestres e ciclistas que se exercitam na forte subida, e freqüentam a estrada em grande número. As esticadas mais fortes foram apenas nos espaços onde não haviam pessoas, e sempre passando o mais longe possível delas, já que não espaços para acostamentos, e todos circulam pela faixa de tráfego em ambos os sentidos.
Nessas horas dá para perceber o quanto o carro funciona bem. Mesmo com todo cuidado que era necessário, me diverti muito, tanto nas freadas semi-apocalípticas na descida quanto nas acelerações rápidas e por apenas poucos segundos na subida, tudo mesclado a olhos bem abertos e o PK na minha orelha “Vai meu ! Acelera aí! “. “Tá sem emoção, como vamos fazer os vídeos? “ Com todas as pressões ao redor, o carro foi o único a me deixar tranqüilo, o que me permitiu rir muito com o amigo e suas bem-humoradas exigências.
Como conclusão, o 500 Abarth pode ser considerado um belo brinquedo para quem gosta de dirigir, sempre entusiasmando pelo belo som do motor emoldurado por um escapamento de tom esportivo, além dos acabamentos exclusivos da versão. Quem pode ter um carro desse tamanho, com pouco espaço no banco traseiro e porta-malas diminuto, estará muito bem servido.
JJ