Cada vez mais longe da Europa, a F-1 inicia domingo sua temporada no Velho Mundo com a disputa do GP da Espanha, em Barcelona. Num momento que até os magos do marketing esportivo cobram mudanças no sistema, equipe e pilotos vão dividir esforços entre o resultado na pista e as tratativas para 2016, que deve começar só em abril e inclui uma prova no Azerbaijão.
Tempos atrás um comercial mostrava um vendedor de cachorro-quente falando sobre a economia mundial e encerrava sua mensagem com um interrogativo “Sabe a Lapônia?” Veiculado hoje, esse bordão caberia como uma luva para comentar o calendário da F-1 para 2016: sabe o Azerbaijão? Pois é, a cidade de Baku (a maior do país) vai promover no dia 17 de julho o GP da Europa apesar de ficar na linha tênue entre o velho mundo e a Ásia e voltada ao mar Cáspio. Mas, money talks…
Em meio a uma saraivada de críticas que vem de todos os lados, o formato do calendário do ano que vem abre espaço para uma discussão que evoca única e exclusivamente a possibilidade aumentar o número de corridas nas temporadas de 2017 e 2018. Candidatos não faltam e há sugestões verdadeiramente esdrúxulas, como a possibilidade de uma corrida no Irã; uma terceira etapa no golfo árabe, porém, parece uma possibilidade bem mais plausível pelos óbvios petrodólares e a vaidade entre os poderosos locais.
A idéia subliminar em adiar o início do campeonato em um mês — o GP da Austrália deste ano foi no dia 15 de março e adiar o de 2016 está previsto para o dia 3 de abril —, é simples: mostrar que é possível reduzir o intervalo entre os GPs sem maior prejuízo para as equipe e toda a caravana que segue o circo mundo afora. O ato do esboço da temporada do ano que vem ter vazado para a imprensa nesta época do ano também sugere que o assunto tem muito a ver com aquilo que no Brasil chamamos de balão de ensaio. A última corrida da atual temporada será no dia 29 de novembro, em Abu Dhabi; ano que vem essa prova é prevista para o dia 27 do mesmo mês. E estamos falando de um calendário de 19 provas em 2015 e 21 em 2016. Além disso, a proximidade entre os GPs de Cingapura e Malásia (18 e 25 de setembro, respectivamente), sugere um processo de canibalização entre os dois eventos, que disputam o mesmo público.
Uma possibilidade ainda não comentada é algo que o saudoso Ken Tyrrell conversou comigo em uma bate-papo informal durante um jantar em seu motorhome: adotar um sistema em que as equipes não sejam obrigadas a participar de todas as corridas, mas sim de um número mínimo. Isso criaria condições especiais de negociação e traria mais despesas para os promotores de cada país. Em outras palavras, a conta não seria paga pela FOM ou qual seja a empresa da vez que gerencie os contratos com cada país. Tyrrell era partidário dessa idéia e muito amigo de Bernie Ecclestone. Quem sabe não chegou a hora de usar esse recurso para ganhar ainda mais dinheiro.
Falando em ganhar mais dinheiro, vale mencionar uma entrevista do estadunidense Zak Brown concedida a Alan Baldwin, da agência Reuters, na qual ele não escondeu suas opiniões sobre o estado atual da F-1. O executivo de marketing que já foi cotado como possível sucessor de Ecclestone (se isto ainda significa algo, dada a longevidade do inglês…), declarou que a perda do GP da Alemanha deste ano não pegou bem com muitos de seus clientes e isso pode se agravar se Monza sair do calendário, algo cogitado há décadas mas até então apenas por movimentos ecológicos locais; desta vez o que está pegando é a ganância financeira.
“Como explicar que há três corridas no Oriente Médio e nenhuma na Alemanha?”
Brown foi além e lembrou que McLaren, Sauber e Manor têm poucos ou nenhum patrocinador e que “orçamentos que variam entre US$200 milhões US$ 400 milhões são injustificáveis. Talvez esta declaração seja mais contundente e igualmente clara:
“O que eu vejo é público em queda, audiência de TV em queda, número de carros no grid em queda. Ou seja: os principais indicadores de performance estão todos em uma trajetória descendente…”
Essa entrevista, distribuída pela agência de notícias na última sexta-feira, certamente vai render muitas conversas, pautas e soluções mirabolantes no paddock de Barcelona, onde a categoria se reúne a partir de quinta-feira. Mais ainda: já é hora de começar a pensar em contatos e contratos para 2016, o que vai agregar um número significativo de empresários de pilotos e patrocinadores no paddock catalão, aumentando o ruído gerado pelas propostas e soluções mirabolantes para colocar a F-1 de volta nos eixos.
Como isso não é tarefa das mais fáceis, o prato do dia serão as novidades dos motorhomes suntuosos e as primeiras negociações de contrato para o ano que vem. A permanência de Lewis Hamilton e o futuro de Nico Rosberg na Mercedes são temas para liderar as paradas de sucesso. Hamilton poderia ir para a Ferrari — sonho de muitos —, o que daria sobre vida a Rosberg, cujo lugar tem Valteri Bottas como sério candidato; o atual companheiro de Felipe Massa também é cotado para substituir Kimi Räikkönen. O alemão Pascal Wehrlein (nova apost da M-B nos pilotos alemães) corre por fora nessa disputa, mas deve acabar mesmo com um estágio junto a uma das equipes que usam o motor Mercedes-Benz – Force India, Lotus e Williams.
A permanência de Räikkönen na Ferrari — talvez mesmo na F-1 — é a chave para destravar o mercado de pilotos, onde Felipe Nasr parece conquistar seu espaço de maneira sólida, algo que não acontece com seu companheiro de equipe, Marcus Ericsson. Com resultados aparecendo, o banco da Sauber fica valorizado e pode atrair pilotos mais experientes e igualmente apoiados por bons patrocinadores. Na mais pequena das nanicas, a equipe Manor pode substituir Roberto Mehri após a corrida deste fim de semana: essa possibilidade foi admitida pelo próprio espanhol, que alfinetou o time ao revelar que o carro do seu companheiro de equipe, o inglês Will Stevens, recebe peças e equipamentos melhores. Não se deve esquecer que Mehri é cerca de 12 kg mais pesado, algo que na F-1 atual pode significar três a quatro décimos a mais por volta…
As datas de 2016
Veja aqui as data do calendário provável da F-1 para 2016
3 de abril: Austrália (Albert Park)
10 de abril: China (Xangai)
24 de abril: Bahrein (Sakhir)
1° de maio: Rússia (Sochi)
15 de maio: Espanha (Barcelona)
20 de maio: Mônaco (Monte Carlo)
12 de junho: Canadá (Montreal)
26 de junho: Inglaterra (Silverstone)
3 de julho: Áustria (Red Bull Ring)
17 de julho: Europe (Baku, Azerbaijão)
31 de julho: Alemanha (Hockenheim)
7 de agosto: Hungria (Hungaroring)
28 de agosto: Bélgica (Spa)
4 de setembro: Itália (Monza)
18 de setembro: Cingapura (Marina Bay)
25 de setembro: Malásia (Sepang)
9 de outobro: Japão (Suzuka)
23 de outubro: Estados Unidos (Austin)
30 de outubro: México (Cidade do México)
13 de novembro: Brasil (Interlagos)
27 de novembro: Abu Dhabi (Yas Marina)
Pizzonia vence na Europa
Antônio Pizzonia voltou a competir na Europa, desta vez na abertura da temporada de Auto GP, categoria que usa monopostos herdados da antiga A1 GP e tem organização comandada por Enzo Coloni, ex-piloto e construtor com passagem pela F-1. Com um segundo lugar na corrida 1 e a vitória na corrida 2, Pizzonia lidera o campeonato que prossegue dias 23 e 24 de maio, em Silverstone (Inglaterra). Veja o resultado completo da etapa clicando aqui e assista ao vídeo da prova neste link.
WG