Não se briga contra fatos. Hoje, segundo pesquisas da Nissan, 40% dos donos de carros compactos (com câmbio manual) querem câmbio automático. Além disso, a presença desse tipo de câmbio em carros compactos quase triplicou desde 2011, já representando 20% dos compactos hoje vendidos.
Por isso, a Nissan lança, na linha 2017, opções de CVT (Continuously Variable Transmission ou Transmissão Continuamente Variável, literalmente) para o hatch March e o sedã Versa, sempre com motor 1,6. O opcional chamado de Xtronic CVT traz um acréscimo de R$ 4.800 no preço desses compactos com motor 1,6 e tudo indica que os consumidores estão dispostos a pagar pelo conforto de não ter de trocar marchas. O preço um pouco salgado se deve ao fato do componente ser importado do Japão, feito pela Jatco, uma subsidiária do próprio grupo Nissan, uma das maiores produtoras mundiais deste tipo de câmbio.
Assim, os preços desta linha de compactos variam de R$ 38.790 (para o March básico 1,0 com câmbio manual) até R$ 64.690 para o Versa 1,6 completo com CVT. Veja as tabelas completas nas fotos abaixo:
Claro que é necessário acompanhar as tendências dos consumidores, ainda mais em um mercado achatado por crises diversas. E quem não oferecer algum tipo de câmbio automático (epicíclico, robotizado ou CVT) certamente perderá vendas também nos compactos. Além da inclusão do CVT, a linha 2017 recebeu um reforço de materiais fonoabsorventes para melhorar o silêncio a bordo, além de mudanças nos pacotes de equipamentos.
Tanto March como o Versa continuam agradáveis de dirigir e o que mais impressiona é o fato da Nissan, mesmo pertencendo ao grupo francês Renault, manter seus produtos com o caráter de “carro japonês”. Estão mais silenciosos, eficientes em calibragem de suspensão e direção. Incomoda um pouco a direção com assistência elétrica, que exige correções quando se dirige em retas. Mas boa parte das “direções elétricas” tem esta falta da percepção de centro em linha reta, o chamado center feel em inglês.
Esteticamente a linha não teve alterações, inclusive com o March permanecendo com o “dente da Mônica” cromado na grade dianteira.
Rodar com um câmbio CVT é agradável? Para a maioria dos consumidores, sim. Principalmente no trânsito urbano, onde o anda-e-para das grandes cidades é uma sequência quase infinita de primeira, ponto morto, primeira… às vezes segunda. Pura canseira, sem prazer ao dirigir. Na estrada, a maioria dos consumidores também vai gostar, já que não enxergam grande diferença entre os vários tipos de automáticos.
Já para os entusiastas, a visão pode ser bem diferente para este câmbio de infinitas relações, cuja aplicação comercial existe desde a década de 1950, principalmente em scooters. Nas últimas décadas, o CVT tem invadido também os automóveis, com razoável sucesso, inclusive pela simplicidade de funcionamento e durabilidade.
Mas o CVT não chega a ser o câmbio ideal para quem gosta dirigir, principalmente para uma tocada mais esportiva. Ele “anestesia” a ligação entre o motor e as rodas de tração, principalmente pela sensação de “o motor vai e o carro fica” nas acelerações, além diminuir o efeito de freio-motor quando se tira o pé do acelerador. Claro, melhora o consumo, tanto que o March/Versa 1,6 passaram a ser categoria A na classificação do Inmetro.
Ambos chegam a fazer mais de 14 km/l de média com gasolina e mais de 10 km/l com álcool. Com um Versa, rodando a 100~110 km/h cheguei quase aos 15 km/l de gasolina. Isso porque com o CVT se mantém 120 km/h com o motor girando a apenas 2.000 rpm em velocidade constante. Óbvio que, em qualquer aceleração mais forte, o motor passeia pelas 4/5 mil rpm, dando aquela sensação de embreagem patinando. Da mesma forma, quando se tira o pé do acelerador, a rotação do motor cai, anestesiando o freio-motor. O que pode ser meio desesperante quando se entrou forte demais em uma curva e as rodas dianteiras escorregam para fora da curva.
Por outro lado, as “infinitas variação de marchas” permitem relações finais que variam em amplo espectro, entre 4,006:1 e 0,458:1 (espectro de 8,746:1, bem maior que 5,054:1 num manual 6-marchas como o do Etios, por exemplo) . Nos Nissan existe também um botão lateral na alavanca de câmbio, que o fabricante chamou de “OD” (Overdrive). Só que é ao contrário: se trata de um “Underdrive”, já que o motor trabalha em rotações mais elevadas. O correto seria chamar de”S”, de Sport… Claro, apertar o botão quer dizer desativar o Overdrive (Overdrive off), mas o sentido está errado. Uma questão de detalhe.
A aceleração ficou mais lenta para o 0 a 100 km/h, indo de 9,3 segundos para o March 1,6 com câmbio manual para 10,6 segundos com CVT. A máxima não é divulgada pela Nissan, apesar dos 182 km/h declarados para o manual. Ou seja, também diminuiu.
Mas, o CVT pode ser um câmbio agradável também para quem gosta muito de dirigir. Só que custa bem mais.
Prova disto está nos Subaru que usam um CVT que é até difícil de perceber que não se trata de um câmbio automático. Ele traz “marchas virtuais” em que até se sente o engate, permitindo também sua “troca” por borboletas no volante. E, além disso, melhora muito a utilização do freio-motor (tem também no March/Versa, mas precisa trazer a alavanca seletora para “L”). Só que vai demorar bastante para se encontrar CTVs mais sofisticados em carros menos luxuosos, já que seu custo e sua complexidade (principalmente eletrônica) são bem maiores.
JS