Forget reminiscing. Time to write a new chapter.
(Esqueça as lembranças. É hora de escrever um novo capítulo.)
Este é o texto que abre a apresentação da Porsche sobre seu novo desafio. O ano de 2014 marcou o retorno da Porsche na principal categoria de corridas de longa duração do automobilismo mundial, a LMP1 do Campeonato Mundial de Longa Duração (WEC – World Endurance Championship). Após diversas corridas sem conseguir alcançar o sucesso esperado, no dia 30 de novembro, em Interlagos, o Porsche 919 Hybrid brilhou e conquistou o lugar mais alto do pódio.
A última corrida do ano do campeonato marcou a primeira vitória do 919 Hybrid, após praticamente um ano de problemas e imprevistos. O carro nº. 14 superou os dois Toyotas e os dois Audis em todos os aspectos da corrida. Além da vitória na corrida, a equipe Porsche conquistou a pole position, fez a volta mais rápida do fim de semana (1:17.442) e conseguiram a maior velocidade máxima (328,3 km/h), consideravelmente maior que o segundo carro mais rápido (Audi R18 com 303,4 km/h).
A evolução do 919 ao longo do ano foi surpreendente. O pequeno e diferente motor V-4 de 2 litros turbo associado ao motor elétrico do eixo dianteiro conseguiu superar o potente V-8 da Toyota e o moderno V-6 diesel da Audi. Alterações de carroceria e aerodinâmica ao longo do ano também melhoraram o desempenho do carro de tal forma que o 919 acabou conseguindo superar os rivais mais experientes.
Em Interlagos, uma pista relativamente curta para estes carros, a boa aceleração e velocidade máxima, junto com o bom equilíbrio no trecho interno, foram suficientes para que depois de anos afastada oficialmente das corridas de longa duração, a Porsche voltasse a vencer. A corrida foi muito disputada, desde o começo até o final das seis horas. O acidente do carro de Mark Webber poderia ter abalado a equipe, gerado alguma desconcentração que poderia ser crucial, mas tudo correu bem com o carro nº. 14.
Os três primeiros colocados na corrida de São Paulo (Porsche, Toyota e Audi, respectivamente) fizeram apenas seis paradas de box. A diferença de tempo total de paradas de box foi pequena, mas a equipe da Porsche foi 40 segundos mais rápida, o que com certeza ajudou na vitória. Como nas edições anteriores das 6 Horas de São Paulo, a facilidade com que os P1 ultrapassavam os rivais era impressionante. Pareciam carros parados, principalmente na subida da Junção e na curva do Sol.
Os carros da Rebellion tiveram dificuldades e não conseguiram acompanhar os P1 principais. A equipe Lotus também não foi bem. Na categoria P2, a equipe KCMG venceu com o Oreca-Nissan com sobra sobre os rivais, e nas duas categorias GT os Aston Martin venceram. O Ferrari 458 que Emerson Fittipaldi pilotou teve diversos problemas e acabou em último dos carros que terminaram a prova. Não foi uma boa para o veterano, que ficou com uma imagem negativa, com muitos comentários do tipo “já deveria ter parado” ou “ele está velho para isso”. Mesmo com certa idade, não vejo como deficiência, pois ele é bem experiente e sabe o quanto agüenta. Os GTs são mais tranqüilos de se guiar que um fórmula. E vale lembrar que Paul Newman correu até os 80 anos de idade; Emerson tem 68.
Agora o próximo passo para a Porsche é a vitória na 24 Horas de Le Mans, seu objetivo principal. Para quem já ganhou dezesseis vezes as 24 Horas, é uma questão de tempo para isso ocorra, pois eles sempre vieram para vencer. Desde os anos 1970, com os lendários 917, até os últimos bons resultados em Le Mans para a Porsche que aconteceram en 1994 com o 962 Dauer na categoria dos protótipos e em 1998 com o 911 GT1. Desde então, a Porsche se ausentou da categoria principal.
Entretanto, de 2005 a 2010, a Porsche participou na categoria LMP2 com o vitorioso RS Spyder, um projeto que nasceu do zero, feito por completo pela equipe de engenharia de Stuttgart. O monocoque de carbono que lembra um carro de fórmula, suspensão e carroceria foram projetados para atender os requisitos do regulamento da categoria P2, porém o desempenho do carro foi tão bom que conseguiu alcançar diversas vitórias na classificação geral do campeonato da ALMS (American Le Mans Series), competindo já com os carros maiores do calibre dos Audis R8 e R10 diesel. Ao longo dos seis anos em que competiu oficialmente, conquistou quatro campeonatos de construtores e quatro campeonatos de pilotos. O carro foi mesmo um sucesso.
Diferente de seus antecessores, o Spyder não utilizava o tradicional motor de cilindros contrapostos. O motor V-8 a gasolina de 3,4 litros de aspiração natural utilizado também foi projetado exclusivamente para o carro. Em sua configuração mais agressiva, gerava até 550 cv. Sem grandes inovações tecnológicas como a Audi, o projeto foi relativamente conservador. A diferença é que foi muito bem executado e a confiabilidade tradicional dos Porsches migrou para o RS.
O RS Spyder foi o último protótipo de corrida feito pela Porsche, após o final do programa 956-962 dos anos 1980, talvez o mais bem-sucedido de toda a história da categoria no automobilismo. Na 24 Horas de Le Mans de 2008, o RS venceu na categoria LMP2 (décimo na classificação geral), na verdade, com primeiro e segundo lugares na categoria. Este foi o primeiro ano que o RS participou de Le Mans. Em 2009, venceu novamente na categoria, e depois deste ano, não participou mais da corrida. Ou seja, duas participações e duas vitórias. Não é para qualquer um.
Assim como o RS Spyder, o 919 nasceu de uma folha em branco. Com certeza a experiência adquirida no programa do RS Spyder serviu de base para a criação do 919, pois mesmo que sejam carros completamente diferentes, o conhecimento do que se fazer, e principalmente do que não se fazer, não muda. Partindo de um motor novo com tecnologia híbrida também nova, é preciso criar fixações e reforços especiais no chassi, desenhados exclusivamente para suportar os esforços do novo conjunto. Isto por si só já vale como um projeto novo, supondo que alguma coisa poderia ser usada do RS.
O desafio foi grande, enfrentar a Audi no seu principal território, dominado há anos. Projetar um carro do zero para brigar com os veteranos alemães e com os desafiantes japoneses da Toyota seria uma tarefa difícil. A fase atual dos carros da LMP1 é muito técnica, o desenvolvimento de um carro de corrida com sistemas híbridos de tração requer muito investimento e capacidade técnica de ponta.
É de se esperar que para 2015 a competitividade aumente ainda mais, e quem sabe, disputar de igual para igual com a Audi em Le Mans. Vale lembrar que para 2015 as regras do campeonato pouco se alteram, então o desenvolvimento de novas tecnologias não será tão grande como foi este ano. Os carros devem ser similares aos desta temporada, com aperfeiçoamentos, principalmente em termos de aerodinâmica, o que sempre é uma evolução constante.
MB
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