Do dia 12 até o dia 19 de novembro está em exposição em São Paulo um modelo do Bloodhound SSC, o carro que deverá atingir a velocidade de 1.000 milhas por hora (1.609 km/h) em 2017. O evento faz parte das atividades do Congresso 2015 da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade), e está no Centro Brasileiro Britânico, rua Ferreira de Araújo, 741, bairro de Pinheiros, com entrada franca.
A título de curiosidade, Bloodhound é uma raça de cães também conhecidos como Cão de Santo Humberto na língua de Camões, mas que no Brasil se popularizou com o mesmo nome original. É um farejador e perseguidor de primeira grandeza, e combina com o carro, já que se persegue a maior velocidade atingida sobre terra de toda a história.
O carro real não pode ser usado nessas exposições que estão percorrendo vários lugares, já que os trabalhos seguem sem parar há mais de sete anos e só deverá culminar na tentativa de superar o recorde atual de 1.227,985 km/h do Thrust SSC em 2016, para em 2017 ser tentada a marca dos 1.609 km/h, na África do Sul. O local escolhido é um trecho de deserto totalmente plano, conhecido como Hakskeen Pan, com solo muito duro, onde aproximadamente 19 km de comprimento por 3,2 km de largura, já verificados por uma equipe, que removeu as pedras maiores para evitar danos e acidentes que poderiam ser fatais. Trabalho gigantesco e que deverá ser refeito quando chegar a hora de começar a andar para valer.
Para chegar a tal velocidade em estimados 55 segundos, o Bloodhound tem uma turbina a gás de fabricação da Rolls-Royce, modelo EJ200, com 9.080 kgf de empuxo estático, e um motor foguete de 12.485 kgf de empuxo. A turbina irá funcionar desde a largada até os 480 km/h, quando o foguete de fabricação da Nammo será acionado, adicionando empuxo e permitindo a velocidade prevista. O empuxo total é equivalente a 137.160 cv, para uma massa de 7.786 kg, dando relação peso-potência de 56,8 gramas por cv. Um Bugatti Veyron tem 1,89 kg/cv, trinta e três vezes maior.
Há muitos fatos interessantes em um carro tão absurdamente extremo. Um deles é que o aerodinamicista chefe é Ron Ayers, um engenheiro aeronáutico com 83 anos completos e que continua na ativa. Outro dado interessante é que a equipe é quase toda composta pelos integrantes que fizeram o carro detentor do recorde, Thrust SSC, com o mesmo Andy Green, um piloto da Royal Air Force, que irá acelerar o Bloodhound, e o diretor do programa Richard Noble, que também deteve o recorde de velocidade de 1983 a 1997 com 1.019 km/h a bordo do Thrust 2.
Um motor Jaguar V-8 de 560 cv move a bomba de combustível do motor foguete, permitindo fluxo de 42,6 litros por segundo.
As rodas são em número de quatro, duas dianteiras bem juntas e embutidas dentro da carroceria, e duas traseiras com bitola larga, em alumínio sólido, que deverão girar a 10.200 rpm na velocidade de 1.609 km/h. Outros dados interessantes aparecem em um painel no recinto da exposição. Há fotos do Bloodhound com pneus nas rodas dianteiras, tratando-se apenas de conveniência de transporte e movimentação do carro, além de testes em velocidades baixas. Para altas velocidade as quatro serão em alumínio, sem pneus, já que não existe tecnologia para fazer borracha funcionar a essas velocidades e temperaturas sem se desmanchar em segundos. Um dos dados numéricos assustadores é saber que a força na borda da roda em velocidade de 1.600 km/h é de 50 g. O exemplo para entender essa grandeza é que um cubo de açúcar submetido a essa aceleração pesaria mais do que dois homens adultos!
O projeto Bloodhound começou em 2008 e se tudo correr de forma perfeita o carro poderá atingir 1.690 km/h, velocidade estimada como a máxima possível em condições ideais.
Para a exposição o modelo é feito de uma maneira simples, facilitando o transporte e a velocidade de montagem e desmontagem pelos vários locais que está sendo mostrada. Uma estrutura metálica recoberta com tecido, com um lado mostrando a forma do carro e os patrocinadores, e o lado esquerdo plano, simulando uma vista em corte com a disposição dos principais componentes. Há quatro monitores de imagem posicionados ao longo do modelo, mostrando o trabalho dos sistemas, e mais dois deles interativos, onde se pode escolher as partes do carro sobre as quais se deseja explicações.
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Para ficar tudo mais dramático, outros três monitores grandes mostram a montagem do carro e os trabalhos do projeto, de forma dinâmica e com belas imagens. Esses vídeos estão também disponíveis no site oficial.
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O projeto tem patrocínio de várias empresas e de doações particulares. Através de cadastramento no site oficial, material educativo pode ser obtido gratuitamente para divulgação em escolas. No Reino Unido e na África do Sul, qualquer entidade educacional pode solicitar uma apresentação do projeto, feita por profissionais envolvidos e treinados para tal. Claro que o objetivo é fomentar o entusiasmo no aprendizado de carreiras técnicas, algo quase extraterrestre quando estamos acostumados ao nosso querido e mal tratado Brasil, a “pátria educadora” (?)
O site do projeto Bloodhound é bastante extenso, e vale gastar um tempo se atualizando com os passos do trabalho e muitos dados técnicos detalhadíssimos, além de desenhos feitos em CAD num total de 197 MB, que podem ser baixados para dias e dias de apreciação, desde que se trabalhe com Windows 8 e acima, além de outras plataformas. De tirar o fôlego dos engenheiros.
JJ