O Peugeot 208 ano-modelo 2017 já foi tratado aqui, quando o Wagner Gonzalez esteve em Fortaleza (CE) para o lançamento no começo de abril. O momento marcou a chegada de duas versões diametralmente o opostas, o 208 GT propulsionado pelo renomado motor turbo 1,6 THP e o aguardado 3-cilindros de 1,2 litro PureTech, e entre as duas uma intermediária chamada Sport, com o comprovado motor 1,6-L EC5M de 115/122 cv. A gama 208 está completa agora, atende a todos os gostos. E chegou o hora de ver como o modelo com o novo motor se comporta no dia a dia.
A versão testada é a Allure, topo da gama com esse novo motor e que custa R$ 55.490. É precedida da Active (R$ 48.690) e da Active Pack (R$ 52.190). Existe outra versão Allure, com o motor 1,6 EC5M e câmbio automático de quatro marchas por R$ 59.590.
O 3-cilindros, importado da Franca (leia sobre a fábrica desses motores), tem funcionamento dentro do estado da arte dos motores dessa configuração. Nada de vibração, apenas sua conspicuidade, seu som típico de intervalo de ignição de 240 graus. um certo “rachado” que não incomoda, associado a um ruído mecânico e de aspiração musicais.
Lança muito bem, apesar da primeira algo longa, o que é inesperado num motor 1,2-litro de aspiração atmosférica. Nada que atrapalhe, mas alguns poderão estranhar o que para outros é uma característica apreciável. A elasticidade é notável, mesmo que o torque máximo de 12,2/13 m·kgf (gasolina e álcool, a ordem-padrão no AE) ocorra a 2.750 rpm, resultado do variador de fase nos dois comandos de válvulas que proporciona potência palpável em baixas rotações.
Há pequenas diferenças entre a versão do motor na Europa e a aplicada aqui, a começar pelo fato de ser flex e ter taxa de compressão mais alta, 12,5:1 contra 11:1. Com isso potência passou de 82 cv para 84 cv e com álcool, 90 cv, sempre à rotação-pico de 5.750 rpm. E o torque lá é de 12 m·kgf, mesma rotação, nesse caso diferença desprezível em relação ao motor daqui com gasolina. Outra diferença, que pode ter relação com a taxa de compressão, é o curso dos pistões ser de 90,34 mm ante 90,5 mm, para uma cilindrada de 1.197,3 cm³ e não 1.199 cm³. Por falar nisso, a biela é de 145,6 mm, o que resulta na relação r/l 0,31.
O carro veio abastecido com gasolina e o tanque não esgotou para testá-lo com álcool. A curiosidade de dirigi-lo com “suco de cana” no tanque seria mais para observar eventual aspereza do que propriamente desempenho, que com toda certeza é maior.
Destaque para o baixo consumo de combustível, tanto observado quanto o divulgado, oficial Inmetro/PBE, que com gasolina é 15,1 e 16,9, cidade e estrada, e com álcool 10,9 e 11,7 km/l. Consegui 16 a 16,5 km/l a 120 km/h reais sem ar-condicionado, portanto cumpre o que diz o Inmetro. Na cidade, nunca menos de 13 km/l, mesmo sob trânsito congestionado e lento. Portanto, esse motor é brilhante em consumo sem a penalização de desempenho. Com o tanque de 55 litros mesmo abastecido com álcool o 208 com esse motor vai longe, quase 650 quilômetros.
Dados da Peugeot informam aceleração 0-100 km/h em 14,3/12,8 s e velocidade máxima de 171/177 km/h, números muito bons e que são ajudados pelo coeficiente de arrasto (Cx) 0,33 e área frontal contida de 2,09 m², apesar dos 1.073 kg de peso em ordem de marcha. E apesar também das “patas” 195/6oR15 (Pirelli Cinturato P1), não precisavam ser tão largas, ficando claro ter a Peugeot atendido à preferência dos brasileiros — 185/65R15 na França.
Como anda
O jeito de andar do 208 já era conhecido, sem novidade portanto. O motor e câmbio estão bem casados, o escalonamento é bom (veja o gráfico “dente de serra” abaixo). As marchas são as mesmas do Allure 1,5, anterior, apenas o diferencial foi encurtado 9,3%, de 4,290:1 para 4,692:1. A v/1000, que era 34,1 km/h, com o motor 1,2-L é 31,3/1000.
No carro testado o comando de câmbio mostrou vagueza em determinados momentos e curso de engate mais longo que o esperado. Deu a impressão de haver algum problema de coxins, pois o curso não era uniforme em todas as situações de aceleração. Como já dirigi outros 208 e nada disso notei, acredito tratar-se de alguma coisa anormal neste carro. Mas em trocas rápidas (não “de competição”, frise-se) de segunda a para terceira notei arranhada, como poderá ser visto no vídeo. Mas o punta-tacco é “telepático”, imediato, perfeito.
O motor gira solto e suave, com corte “sujo”a 6.500 rpm (a rotação-limite do “dente de serra”), o que denota acerto da Peugeot, 750 rpm acima da rotação de potência máxima (5.750 rpm). A invasão de ruído é baixa, normal, e a 120 km/h reais o giro é 3.800 rpm, sem incomodar, mas poderia ser um pouco menos. A velocidade máxima é em quinta marcha, praticamente coincidindo com a rotação de potência máxima quando com álcool (100 rpm abaixo).
A solução da leitura dos instrumentos por sobre o volante é estranha assim que começa a dirigir, mas logo se acostuma a ela. Para isso volante precisou ser achatado na parte superior e, por questão de coerência, embaixo também. Com isso, como já descrevi em outros testes do 208, o volante mede 330 mm de “diâmetro” na vertical e 350 mm, na horizontal. É um volante pequeno e jeitoso, e a relação de direção, mesmo não informada, é baixa, estimo entre 15:1 e 15,5:1, portanto rápida. Dirigi-lo na cidade é fácil e prazeroso, associado ao diâmetro mínimo de curva de razoáveis 10,4 metros. Todos os biotipos encontram a posição preferida de dirigir por o volante ser ajustável em altura e distância, como também são altura de ancoragem do cinto e do banco do motorista.
A suspensão tem calibração que prioriza conforto, mas nem por isso o 208 deixa de ser prestativo nas curvas, o vídeo mostra bem isso. Portanto, rodar em “superfícies lunares” como as das ruas de São Paulo poupa os ocupantes. O freio permite boa modulação, mas os discos não são ventilados, como já não o eram no Allure 1,5, algo imperdoável e indesculpável; a Peugeot precisa rever essa questão, pois até compactos de motor 1-litro têm discos ventilados.
Há guias de luz a LED na dianteira, mas para elas acenderem como DRL (luz de rodagem diurna), ou seja, chaveadas pelo interruptor de ignição/partida e ligarem depois que o motor entrar em funcionamento, é preciso configurar pelo menu da central multimídia, o que é bastante fácil. Caso contrário elas atuam como luzes de posição em vez de DRL, ligadas normalmente pelo interruptor de luzes. Mas quando em função DRL as lanternas traseiras (a LED) ligam-se também, o que não deveria. E a Peugeot bem poderia aplicar no para-brisa o que nem preciso dizer o que é.
Duas curiosidades. Uma, com motor em marcha-lenta, a 900 rpm, ao apertar o pedal de embreagem a rotação sobe para 1.300 rpm, uma forma de “creeping com câmbio manual” em que no tráfego anda e para basta controlar a embreagem, bem como ajudar no tirar o carro da imobilidade. Outra, o som de motor em marcha-lenta, estando-se fora do carro, parece-se com o de um diesel moderno.
O 208 Allure é razoavelmente equipado, por exemplo, o ar-condicionado é automático duas-zonas, vem com controlador e limitador de velocidade, faróis e luz traseira de neblina, teto solar panorâmico fixo, volante revestido de couro, bolsas infláveis laterais, pisca-3, acendimento automático das luzes de emergência em freadas fortes, lavador/limpador do vidro traseiro, sensor de distância traseiro, computador de bordo, alarme perimétrico e volumétrico, central multimídia com tela tátil de 7″ no painel, rádio com MP3 e Bluetooth com comando no volante, entrada USB e Aux-in, 4 alto-falantes e 2 tweeters, conexão com Link MyPeugeot, tomada 12 V, e acionamento elétrico dos vidros com um-toque para o motorista, entre outros.
O 208 Allure 1,2-L tem todos os ingredientes para agradar e é uma boa ferramenta para a Peugeot crescer no mercado brasileiro. Embora seu preço possa assustar num primeiro momento, deve ser lembrado que o modelo recolhe IPI de 13% e não 7%, alíquota esta reservada aos carros com motor de até 1 litro.
Veja o vídeo:
BS
(Atualizado em 28/05/16 às 18h15, correção da operação da DRL)
FICHA TÉCNICA PEUGEOT 208 ALLURE 1,2 | |
MOTOR | |
Denominação | PureTech 1,2 |
Tipo de motor, instalação | Otto, arrefecido a líquido, transversal |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio |
Nº de cilindros e disposição | Três, em linha |
Diâmetro x curso | 75 x 90,34 mm |
Cilindrada | 1.197,3 cm³ |
Comprimento da biela | 145,6 mm |
Relação r/l | 0,31 |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Nº de comandos/localização | Dois, cabeçote, variador de fase admissão e escapamento |
Acionamento dos comandos | Correia dentada |
Válvulas por cilindro | Quatro |
Potência máxima | 84 cv (G) e 90 cv (A), a 5.750 rpm |
Torque máximo | 12,2 m·kgf (G) e 13 m·kgf (A), a 2.750 rpm |
Rotação-limite | 6.500 rpm (corte “sujo”) |
Formação de mistura | Injeção eletrônica sequencial no duto |
Combustível | Gasolina e/ou álcool |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão/bateria/alternador | 12 V / 60 A·h / 120 A |
TRANSMISSÃO | |
Rodas motrizes | Dianteiras |
Tipo | Transeixo manual de 5 marchas + ré |
Relações das marchas | 1ª 3,636:1; 2ª 1,950:1; 3ª 1,281:1; 4ª 0,975:1; 5ª 0,767:a; ré 3,330:1 |
Relação de diferencial | 4,692:1 |
Embreagem | Monodisco a seco, acionamento hidráulico |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora integrada ao eixo |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, assistência elétrica indexada à velocidade |
Relação de direção | n.d. |
Diâmetro do volante | 350 mm na horizontal e 330 mm na vertical |
Diâmetro mínimo de curva | 10,4 metros |
FREIOS | |
Dianteiros | Disco não ventilado Ø 266 mm |
Traseiros | Tambor Ø 203 mm |
Operação | Servoassistência a vácuo, ABS e EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 6Jx15 |
Pneus | 195/60R15, de baixo atrito de rolamento |
CONSTRUÇÃO | |
Tipo | Monobloco em aço, hatchback 4-portas, 5 lugares; subchassi dianteiro |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,33 |
Área frontal | 2,09 m² |
Área frontal corrigida | 0,69 m² |
DIMENSÕES EXTERNAS | |
Comprimento | 3.975 mm |
Largura | 1.702 mm |
Altura | 1.472 mm |
Distância entre eixos | 2.541 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.475/1.470 mm |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha | 1.073 kg |
Peso rebocável sem freio/com freio | 400 kg |
Capacidade do tanque | 55 litros |
Capacidade do porta-malas | 285 litros/com banco rebatido 1.076 litros |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 14,3 s (G) e 12,8 s (A) |
Velocidade máxima | 171 km/h (G) e 177 km/h (A) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO/PBE) | |
Cidade | 15,1 km/l (G) e 10,9 km/l (A) |
Estrada | 16,9 km/l (G) e 11,7 km/l (A) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 5ª | 31,3 km/h |
Rotação a 120 km/h em 5ª. | 3.830 rpm |
Rotação à velocidade máxima em 5ª | 5.650 rpm |
Alcance nas marchas (6.500 rpm) | 1ª 42,9 km/h; 2ª 80 km/h; 3ª 121 km/h; 4ª 160 km/h |