Uma questão das mais complicadas quando se fala de automóvel é consumo de combustível. Vejo muito nos comentários verdadeiras proezas em consumir pouco, enquanto outros reclamam de seu carro ser gastador. Digo complicado porque são tantas as variáveis que influenciam o gasto de combustível que fica literalmente impossível determiná-lo em ambiente e condições que não sejam num laboratório, carro “rodando” num dinamômetro de rolo sob condições absolutamente controladas, tais como correção de altitude (pressão atmosférica) e temperatura, além de ser utilizado combustível rigorosamente dentro das especificações.
Isso é de vital importância no caso do Brasil devido à gasolina conter álcool, sendo de 22% a porcentagem oficial e por isso adotada por todas as fabricantes. No álcool, ser o especificado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que é o álcool com 93º INPM, com 7% de água.
É por isso que no passado não tão distante as fábricas informavam consumo em velocidades constantes no plano, dessa maneira isolando a influência do pé direito do motorista. Mas mesmo assim poderia haver variações.
Por volta do início dos anos 1970 começou nos Estados Unidos, pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, Environment Protection Agency) a medir o consumo por meio de ciclos de uso simulados, o mesmo passando a ser feito na Europa e no Japão algum tempo depois. Há o ciclo urbano e o ciclo rodoviário.
Hoje temos a norma FTP-75 (Federal Test Procedure), americana,que é a mesma adotada no Brasil com nome de NBR 7024, e a New European Driving Cycle (NEDC), além de outras como a japonesa e a australiana.
Essas simulações, como o próprio nome diz, procuram reproduzir o uso do veículo em condições normais, mas nem sempre correspondem ao consumo no mundo real. É por isso que é comum serem revisadas, como aconteceu nos EUA e no Brasil, em que é aplicado um fator de correção. Aqui foi considerada correção de 22% para o consumo na cidade e de 29%, para o rodoviário.
O assunto é mesmo complicado. A Hyundai acabou de ser multada nos Estados Unidos por informar números de consumo muito aquém do que se obtinha no uso normal.
Variáveis
E no nosso carro de todo dia, como fica? O elenco de variáveis capazes de influir no consumo é vasto:
– topografia da estrada, com todas as suas variações, sobe, desce;
– rugosidade da pavimentação (mais lisa, menor consumo);
– condições meteorológicas (vento e chuva);
– densidade do tráfego– pressão de enchimento e tipo de pneu (há os “verdes” agora); pressão abaixo do normal leva a maior consumo sempre;
– carga a bordo, mais peso, maior consumo;
– aerodinâmica, como racks de teto e até carro sujo;
– aerodinâmica, uma pintura encerada faz o carro consumir menos;
– aerodinâmica, dirigir com janelas abertas ou aplicar calhas de chuva;
– estado mecânico do veículo, até mesmo alinhamento de rodas;
– qualidade do combustível no tanque, como gasolina alcoolizada além da conta, idem álcool aguado além do limite;
– maneira de dirigir quanto ao uso do câmbio e de aplicação de potência;
– maneira de dirigir, não deixar a velocidade dissipar-se naturalmente, freando no último moment0;
– quilometragem do motor, se muito novo e muito rodado o consumo é maior;
– estado de espírito do motorista, quanto mais calmo estiver, menor o consumo; um motorista irado pode levar a consumo 40% maior.
Como se vê, são muitas as variáveis que influenciam no consumo. Então não é suficiente afirmar que “meu carro consome x” para enaltecer suas qualidades nisso, é preciso também uma auto-análise, de como se dirige.
Um mesmo carro poder apresentar consumos bem diferentes, dependendo de quem o dirija. Gastará menos quem usar o motor em rotação mais baixa com acelerador mais aberto, isso nos motores a gasolina. Nos a diesel, quanto mais leve o pé no acelerador, melhor.
É por isso que o Ae sempre clama por marcha “de economia” nos câmbios, que além de baixar o consumo torna a viagem mais prazerosa. Com última marcha mais longa, é preciso abrir mais o acelerador para manter a mesma potência. Simples.
BS