Na Parte 1 vimos como o VW 1600 surgiu e foi muito bem aceito pela imprensa e pelos consumidores. Na Parte 2 deste trabalho vamos dar continuidade à matéria sobre este sedan com quatro portas, entraremos no período de produção e vamos ver as primeiras transformações que este carro recebeu. Também veremos o lançamento da “série especial”, a versão luxo — o VW 1600 L, como o exemplar da foto de abertura. Esta parte termina com algumas nuvens no horizonte deste carro.
Após a superação de todos os problemas da fase de lançamento, a Volkswagen intensificou na mídia impressa da época, comerciais “bem-humorados” destacando as novidades do novo modelo, tais como o novo motor mais potente, os novos freios a disco, o painel tipo jacarandá, o limpador de para-brisa de duas velocidades, sempre associadas às características tradicionais da marca, tais como, a robustez da mecânica a ar, e a economia de combustível.
Vamos ver algumas das propagandas publicadas nesta época, iniciando com uma que foi publicada no dia 10 de fevereiro de 1969. O seu mote é a pergunta: “V. abandonaria a mecânica dêste carro só por causa de umas linhas bonitas? ” que aparece abaixo da imagem de um Fusca. A resposta é: “Não precisa. Chegou o Volkswagen 1.600”. Um anúncio didático que mostra que basicamente o VW 1600 tem todos os fundamentos do Fusca, só que numa embalagem mais bonita e mais confortável. Esta propaganda também visa convencer um cliente Volkswagen que caso ele queira sair da linha do Fusca ele tem uma solução Volkswagen moderna, bonita e com a mecânica comprovada do Fusca. (Nota do autor: a acentuação e a ortografia neste anúncio e nos seguintes foram mantidas intencionalmente para reforçar o cunho histórico).
![AG-49-Foto-01](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-01.jpg)
Em seguida veja a matéria que foi publicada no dia 13 de fevereiro de 1969, com o mote: “Volkswagen em nova embalagem”, mas leia-se: “Fusca em nova embalagem”, mensagem que pretendia passar para o carro recém-lançado a confiabilidade do Fusca. Tanto que no final desta propaganda pode-se ler: “Conclusão: agora v. pode comprar um Volkswagen em nova embalagem, o que afinal é uma grande novidade. Com a vantagem de não estar comprando nenhuma novidade.”
![AG-49-Foto-02](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-02.jpg)
A próxima propaganda será cortada ao meio e postada em duas partes para permitir a leitura das legendas da sua ilustração. Ela foi publicada em 25 de fevereiro de 1969. Seu mote era: “Duas razões para V. gostar do Volkswagen 1.600” e logo abaixo está uma foto do chassi do VW 1.600 com o título “Mecânica Tradicional”; os itens importantes estão ressaltados por legendas específicas. Na parte de baixo desta propaganda está o subtítulo “As linhas nada tradicionais” com a foto do carro; segue-se por um texto que ressalta os seus itens “de beleza” arrematando o assunto com a frase: “Mas no fundo, êle continua o mesmo, um tradicional Volkswagen”.
![AG-49-Foto-04](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-04.jpg)
Passamos para a propaganda de 19 de março de 1969, seu mote era forte: “À primeira vista V. pode pensar que traímos nossos princípios.” e no texto são dados os argumentos para negar esta afirmação. Este texto dizia: “Dizem que a primeira impressão é a que vale. No caso do Volkswagen 1.600, isto pode levar v. a tirar uma conclusão errada. Vendo tôdas aquelas coisas bonitas que êle tem, v. é bem capaz de pensar que êle deixou de ser um Volkswagen. Mas é justamente o contrário. O Volkswagen 1.600 não é Volkswagen só no nome. É Volkswagen em tudo. É Volkswagen em tudo. Olhando embaixo das coisas bonitas, v. não vai encontrar nenhuma traição aos princípios Volkswagen. Vai encontrar só estes princípios. Quer ver? O motor continua lá atrás, sobre as rodas motrizes, dispensando um longo eixo cardã. E continua sendo refrigerado a ar, como todos os motores Volkswagen, apesar de ter 60 HP. Outro princípio que v. vai encontrar é o pão-durismo. O VW 1.600 faz economia em gasolina, óleo e oficina. Como todos os outros Volkswagen, o VW 1.600 também não tem nada embaixo. Só aquela chapa de aço. E no lugar das molas, v. encontra outro princípio Volkswagen: as barras de torção. Agora que v. já viu como é o Volkswagen 1.600 por dentro, pode tirar a sua conclusão, sem correr o risco da primeira impressão. Responda com sinceridade: v. acha que nós traímos nossos princípios? Ou com o Volkswagen 1.600 êsses princípios ficaram apenas mais bonitos?
Um belo trabalho de catequização dos compradores potenciais, mas a eficácia deste trabalho de convencimento foi restrita aos leitores de jornais. Influenciar o “boca a boca” popular era uma outra coisa.
![AG-49-Foto-05](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-05.jpg)
O anúncio seguinte era de 20 de maio de 1969, a “Blitzkrieg” de anúncios já estava sendo espaçada. Este tinha o mote:”Êle é tão pão-duro quanto os outros Volkswagen”. Novamente o final do texto, neste caso as três frases finais, arremata o mote do assunto: “Portanto, é bom v. ficar preparado: não pense em ter um VW 1.600 apenas com linhas bonitas. Todo aquele pão-durismo da família vem junto. O que afinal não deixa de ter também a sua beleza.” É interessante observar que o esquema de propaganda criado na década de 50 pela DDB – Doyle Dane Bernbach, de Nova York era fielmente seguido pela agência de publicidade ALMAP no Brasil.
![AG-49-Foto-06](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-06.jpg)
No próximo anúncio continua sendo feito o paralelo entre o Fusca e o VW 1600, desta vez com mais ênfase e de modo mais explícito, usando, novamente, a imagem do Fusca juntamente com o seu descendente direto o VW 1600. Na propaganda publicada em 4 de junho de 1969 o mote foi: “Qualquer semelhança no desempenho é meramente proposital” e dando um arremate nesta forma explicita de traçar um paralelo entre os dois carros as duas últimas frases do texto diziam: “E não há nenhuma coincidência nisso: o VW 1.600 copiou do ‘Fusca’ tudo o que ele tinha de bom. Embora tenha dado também a sua contribuição pessoal: 4 portas, faróis retangulares, pára-brisa de visão panorâmica, etc., etc.” Neste texto nota-se a intenção de “matar o Fusca” através do verbo no passado na passagem: “copiou do ‘Fusca’ tudo que ele tinha (nosso grifo) de bom”, uma mensagem que não era nada subliminar.
![AG-49-Foto-07](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-07.jpg)
Também eram publicados anúncios coloridos em revistas, como o exemplo abaixo. Neste é interessante observar a parte que se refere ao porta-malas espaçoso que dizia: “Para arranjar mais espaço para as pessoas não foi preciso tomá-lo do porta-malas: pelo contrário, ele também ficou mais espaçoso no Volkswagen 1.600,” Mas o segredo do grande porta malas foi o posicionamento do tanque de combustível colocado atrás, ao contrário do que ocorreu com seus “irmãos” Variant e TL.
![AG-49-Foto-08](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-08.jpg)
Como vimos, ao longo do primeiro semestre de 1969, a Volkswagen intensificou a exposição do VW 1600 na mídia, preparando, em janeiro deste ano, inclusive um questionário tipo “Perguntas e Respostas”. Na matéria publicada pelo O Globo no dia 17 de janeiro de 1969, este questionário vinha com o seguinte título: “Volks quatro portas detalhe por detalhe” e vinha com o seguinte esclarecimento adicional: “Questionário preparado pela própria Volkswagen do Brasil, dissipando dúvidas possíveis sôbre o Sedan 1600, é publicado, agora, para que o leitor tenha uma visão maior sobre o novo VW quatro-portas. As respostas em linguagem acessível a todos farão de você um entendedor de primeira do 1600.” Nota-se a liberdade que o redator usou na nomenclatura do carro. Para permitir uma visualização melhor, a matéria do O Globo foi dividida em duas partes. Na verdade, a tecnologia de digitalização empregada pelos jornais e disponibilizada pela internet não é das melhores, mas o que vale é a documentação histórica e, com um pouco de boa vontade, pode-se aproveitar o seu conteúdo precioso.
![AG-49-Foto-10](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-10.jpg)
A revista Quatro Rodas publicou, em sua edição de julho de 1969, uma pesquisa com proprietários do VW 1600 a fim de medir a satisfação dos consumidores com o novo carro da VW. Interessante que apesar do elevado índice de satisfação de 92%, somente 35% se dispunham a conservá-lo por mais de um ano. Os pontos fortes relatados foram: linhas bonitas, visibilidade, estabilidade, posição do motorista e freios. Já os pontos fracos: ruído interno, dificuldade de fechamento das portas, consumo excessivo. Diante do exposto, considerando a excelente avaliação, concluímos que o VW 1600, foi um sucesso em seu lançamento! Mas será que este sucesso foi duradouro?
Apresentamos esta pesquisa para que você possa ver os detalhes desta avaliação:
![AG-49-Foto-11](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-11.jpg)
As análises de aspectos de análise individuais foram apresentadas pela Quatro Rodas sob a forma de gráficos reproduzis abaixo:
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![AG-49-Foto-13](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-13.jpg)
![AG-49-Foto-14](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-14.jpg)
VW 1600 L – O primeiro veículo de passeio de luxo da Volkswagen do Brasil
Em junho de 1969, com a concorrência do Corcel e do Opala acirrando o mercado de médios quatro-portas, a Volkswagen do Brasil preparou uma versão de luxo, lançada como “Série Especial” do VW 1600 e batizada de “VW 1600-L”. Essa versão estreou na tabela de preços da revista Quatro Rodas referente a julho de 1969, ficando disponível até a tabela referente ao mês de março de 1970, ou seja, durou apenas nove meses.
![AG-49-Foto-15](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-15.jpg)
Em função dos materiais usados e do capricho dessa versão, podemos considerar o VW 1600-L o primeiro veículo de passeio de luxo da VW do Brasil, desconsiderando a Kombi luxo por se tratar de um utilitário e não possuir o mesmo acabamento refinado da série especial do VW 1600. No dia 21 de junho de 1969 o jornal O Globo publicou a matéria “Volkswagen lança 1600-L”. Dividimos a imagem deste artigo em duas partes para melhorar a visualização:
![AG-49-Foto-17](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-17-750x667.jpg)
O diferencial começava pelo lado de fora da carroceria, onde chamava a atenção as seguintes opções de combinações de cores: bege Gobi com teto branco Lótus, verde Folha com teto verde Pinheiro, vermelho Cereja com teto preto, branco Lotus com teto bege Gobi. Além destas, havia a opção da cor única Preta, exclusiva para essa versão.
![AG-49-Foto-18](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-18.jpg)
Outro exemplar da série de fotos de divulgação vermelho Cereja com teto preto pode ser visto na imagem de abertura desta parte da matéria. Esta é uma foto atual de um excelente exemplar de coleção.
Outros detalhes externos eram os frisos na linha de cintura, os pneus faixa-branca, a tampa do tanque de combustível com chave e o logotipo VW 1600 acrescido do “L” na tampa do motor. Internamente o luxo no acabamento dava o tom para essa versão: estofamento moldado à mão forrado em couro natural, incluindo as laterais de porta, novo descansa-braço, mais anatômico, assoalho interno e do porta-malas revestidos em carpete tipo buclê de náilon, painel contendo relógio elétrico, acendedor de cigarros e rádio com quatro faixas de onda, de excepcional sonoridade. Trazia ainda buzina dupla com funcionamento regulado por um relê. Opcionalmente eram oferecidos bancos dianteiros reclináveis.
Sob o título “É o nosso Volks, com luxo” a coluna “Painel” da revista Quatro Rodas de julho de 1969 fala rapidamente da nova versão de luxo. Na foto é possível identificar o interior luxuoso, com o padrão de forração com costura em gomos revestido em couro natural e a opção de bancos dianteiros reclináveis:
![AG-49-Foto-19](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-19.jpg)
Em relação ao conjunto mecânico, permanecia o mesmo confiável motor 1600 a ar que estreara alguns meses antes. Esta versão era tratada pela Volkswagen como “uma versão sofisticada para quem gosta de carros requintados”. Não há registro de quantas unidades do VW 1600-L foram produzidas porque a VW não diferenciava este modelo do VW 1600 comum em termos de identificação do número do chassi. Hoje, só há uma certeza: restaram pouquíssimos exemplares originais desta versão para contar a história!
Mas parece que o prazo de validade passou rápido para o VW 1600. Lançado em janeiro de 1969, como um sucesso, foi perdendo fôlego rapidamente, o que exigiu uma versão mais sofisticada ainda em junho de 1969 e chegou ao seu primeiro facelift em fevereiro de 1970, ou seja, praticamente um ano após seu lançamento. Algumas mudanças vieram a reboque do lançamento do segundo integrante da família Tipo 3 no Brasil: a VW 1600 Variant, que obteve um grande sucesso no lançamento e possivelmente ofuscou o ainda recente VW 1600.
Em 7 de fevereiro de 1970 foi publicada a coluna “De roda em roda” do jornalista Paulo Menezes, no O Globo, destacando como as modificações introduzidas pela Volkswagen pretendiam afastar os boatos sobre o encerramento da produção do VW 1600:
![AG-49-Foto-20](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-20.jpg)
Estes boatos davam conta de um eventual encerramento da produção do VW 1600 ou a introdução de modificações mais profundas em sua frente e traseira. Mesmo que nenhum deles tenha se confirmado, uma onda de “notícias ruins” como essa é suficiente para ofuscar qualquer automóvel no mercado, pois deixa o consumidor inseguro em função das perdas que teria com a aquisição de um modelo desatualizado ou até mesmo, que logo estaria fora do mercado.
Ainda em fevereiro, a Volkswagen apresentou formalmente as modificações que introduziu no VW 1600 para o ano de 1970: novo estofamento com costura em gomos tal como era a do VW 1600-L e na nova Variant; novo para-choque de uma lâmina apenas, ao invés de lâmina dupla como no modelo anterior; frisos laterais na “linha de cintura” do carro, tal qual o VW-1600-L; alça de segurança para o passageiro da frente reposicionada para o lado direito do painel; faróis mais elegantes, com os frisos cromados mais finos, suavizando a dianteira do carro; maior vão livre na parte dianteira. E, por fim, uma última e bizarra opção: os freios a disco permaneciam de série, mas havia a opção de freios a tambor… essa, uma evolução inversa!
Na matéria “VW-1600: modelo 70 com estilo mais requintado”, publicada no O Globo de 21 de fevereiro de 1970, são dados os detalhes deste facelift:
![AG-49-Foto-21](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-21.jpg)
A maior novidade para 1970 era que, mesmo com todos os novos itens, o preço não se alterou, permanecendo o mesmo de 1969. Essa talvez tenha sido a estratégia adotada para manter o VW 1600 competitivo no mercado, pois estava claro que já havia começado a perder o fôlego.
Na propaganda que se segue, publicada no dia 19 de fevereiro de 1970, a manutenção do preço é destacada explicitamente como sendo uma das grandes novidades:
![AG-49-Foto-22](https://www.autoentusiastas.com.br/ae/wp-content/uploads/2016/07/AG-49-Foto-22.jpg)
Aqui termina a Parte 2 desta matéria, e na Parte 3 vamos ver o que ocorreu com o VW 1600, o seu segundo facelift, e que acontecimentos ocorreram para agilizar o seu ocaso.
Na parte 3 também mostraremos as diferenças entre os diversos modelos, com o intuito de ajudar os aficionados a diferenciá-los mais claramente, uma documentação imperdível.
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parte 3
AG
Hugo Bueno colaborou nesta matéria